A
Humilhação que Não Foi
Fiquei
sem ar, confesso. Mas no final, fiquei orgulhoso do Presidente Zelenski. Num
mundo, cada vez mais, sem líderes, hoje senti-me representado.
Há
cenas que entram para a História não pelo que se disse mas pelo que ficou por
dizer. O espetáculo que se desenrolou na Sala Oval foi um desses momentos em
que o mundo piscou os olhos, desconfortável, horrorizado, estupefacto, enquanto
um Presidente de um país devastado pela guerra era transformado em objeto de
escárnio pelo Presidente do mais poderoso país do mundo, e pelo seu fiel
escudeiro, um lambedor de botas com nome de detergente.
O
que se passou ali foi uma humilhação, sim, foi, mas não para Zelensky.
O
Presidente da Ucrânia entrou num covil de hienas, quais marionetas,
orquestradas pelo ditador russo, sabendo bem onde estava. Era uma armadilha
montada com a precisão cirúrgica dos cobardes, desenhada para transformá-lo num
pedinte, num cão maltratado que, na ótica dos anfitriões, deveria mendigar com
as patas estendidas. Mas eis o problema dos ditadores e dos seus bajuladores:
confundem dignidade com fraqueza, confundem coragem com desespero.
Zelensky
ficou ali, sentado, ouvindo palavras agressivas, palavras mentirosas de gente
pequena que se acha grande. Não ripostou com raiva, nem se dobrou em
subserviência. Limitou-se a exteriorizar o que lhe ia no peito, com humildade
mas sem ceder. A sua postura, naquele momento, foi suficiente para que a farsa
se revelasse.
Trump,
o eterno fanfarrão, e J.D. Vance, o seu ajudante de palco, atacaram como
pugilistas furiosos cheios de coisas dopantes. Julgavam eles que, como crianças
inocentes, estavam a derrubar um castelo de areia. Mas o problema, para eles,
claro, é que o castelo se manteve de pé.
A
guerra não terminou, a Ucrânia não caiu, eles não ficaram com os biliões do
minério e o homem diante deles era a prova viva de que, afinal, nem sempre os
maus vencem. Eles queriam ver um derrotado, mas o que encontraram foi alguém
que, mesmo esmagado pelo peso dos que se julgam donos do mundo, se recusa a ser
pequeno.
A
História tem destas coisas. Quem ri hoje pode estar a chorar amanhã. E os
ditadores, por mais que se armem de tanques e de asseclas servis, nunca
entendem isto: quando a hora chega, os povos lembram-se de quem lutou, não de
quem gritou mais alto.
Zelensky
não precisou de vencer aquela batalha verbal. O embaraço ficou para os outros.
A diferença entre um líder e um palhaço é que o primeiro não precisa de
plateia.
E
os que hoje gargalham sobre o que se passou na Sala Oval? Que aproveitem o
espetáculo enquanto podem. Porque no fim, e a História nunca falha nisto, quem
humilha será sempre o humilhado.
Obrigado
Presidente Zelensky!
Paulo
Costa