Tarde
cálida e primaveril a fazer jus ao provérbio que diz "depois da tempestade
vem sempre a bonança". É esta paisagem tão rústica quanto pacífica que me
saúda em cada manhã do quintal da casa onde nasci, depois cresci e agora
envelheço na paz dos meus dias.
Lá ao fundo, encostada ao Caminho Municipal 1024 (por aqui mais conhecido como Estrada da Herdade) meio encoberta pelos ramos ainda sem folhas dos choupos em pousio de inverno que bordejam as margens do Ribeiro da Cavalinha, a velha Murta toda vestidinha de novo, envolta pelas fragas graníticas e montado que abundam por estas milenares paisagens raianas.
Oculto pelos ramos dos sobreiros no lado superior esquerdo da foto, situa-se o recente Hotel Tapada da Rabela Turismo e Reserva Natural Privada, entre a via férrea do Ramal de Cáceres a nascente e a Rua Vivas a poente, da qual é a última casa habitada, a par da entrada para a quinta do seu proprietário.
Entre a Rua Vivas e a via férrea do Ramal de Cáceres que atravessa toda a aldeia de poente para nascente, assim como esta foto da direita para a esquerda, vemos, do lado nascente, pintada em cor de tijolo, a Incubadora de Empresas de Base Não Tecnológica da Beirã, obra muito recente de adaptação de um anterior celeiro pertencente à Estação ferroviária que foi adaptado à atual unidade empresarial.
Por último as modernas vivendas da Rua Vivas que são propriedade de funcionários que tinham as suas vidas nas especialidades inerentes a uma Estação ferroviária fronteiriça, tais como agentes ferroviários, pessoal aduaneiro, guardas fiscais e seus herdeiros que sendo da região mas não só, decidiram por cá ficar definitivamente.
Tudo isto foi, durante muitas décadas, um polo de vida e harmonia em redor dos comboios nacionais e internacionais de passageiros mas também de mercadorias, num vaivém ininterrupto com circulação diária 24 sobre 24 horas, até um staff de iluminados governantes decidir em 2012 encerrá-lo sem apelo nem agravo, indiferente aos danos mais que previsíveis para toda esta região e população, particularmente para quem ali ia buscar o seu ganha-pão cada dia.
Ficou o que ninguém jamais terá capacidade ou autoridade para encerrar:
A nossa memória coletiva e amor a esta terra...
(Texto e foto)