quinta-feira, 11 de julho de 2024

Acorda, amigo


 

Amigo,

tu que choras uma angústia qualquer

e falas de coisas mansas como o luar

e paradas

como as águas de um lago adormecido,

acorda!

Deixa de vez

as margens do regato solitário

onde te miras

como se fosses a tua namorada.

Abandona o jardim sem flores

desse país inventado

onde tu és o único habitante.

Deixa os desejos sem rumo

de barco ao deus-dará

e esse ar de renúncia

às coisas do mundo.

Acorda, amigo,

liberta-te dessa paz podre de milagre

que existe

apenas na tua imaginação.

Abre os olhos e olha,

abre os braços e luta!

Amigo,

antes da morte vir

nasce de vez para a vida.

 

Manuel da Fonseca