quinta-feira, 18 de julho de 2024

De coração cheio


 

Mais um Dia da Padroeira. O octogésimo primeiro desde a Sua chegada à Beirã e o septuagésimo segundo do meu já longo caminho. E mais um apenas na vontade de se honrar com a merecida devoção e dignidade a querida aniversariante Senhora do Carmo, a segunda Mãe dos Beiranenses que aqui se deslocam em massa neste dia vindos de todos os lugares mais ou menos longínquos.
Foi também, simultaneamente mais um Dia Maior na Paróquia. Faço parte desta Comunidade Cristã desde meados de 1958 quando pela mão do saudoso padre Joaquim Caetano “entrei ao serviço” desta Senhora mais do Filho que tem ao colo na forma física, e a Seus pés, na forma Eucarística dentro do Sacrário, no altar-mor desta Casa para onde vieram morar no dia 16 de julho de 1943.
Não tem sido fácil ser paroquiano e continuar tais tarefas desde agosto de 2012 quando o encerramento do Ramal de Cáceres decretou o quase completo abandono da aldeia por mais de dois terços da sua população ativa, nela permanecendo desde então apenas os mais velhos que se têm ido finando, deixando mais sós, mais vazias, casas, ruas e naturalmente a igreja também.
A Paróquia com pároco residente desde a sua elevação paroquial, assim como a Igreja até então sempre repleta de paroquianos de todas as idades nas missas dominicais ou festivas, deixou desde então de contar com pároco residente e de ter missa dominical, passando a contar apenas com uma missa vespertina ao final da tarde de cada sábado, com meia dúzia de participantes, quase sempre os mesmos, tornando-se rotina ver os bancos vazios na nave em número muito superior ao dos participantes.
Resta a exceção deste dia 16 de julho de cada ano. Ao meio-dia na Solene Eucaristia da Padroeira e depois às nove da noite, vindos de todo o lado, como que por milagre – o milagre do amor de filhos – a igreja enche-se e apinha por completo quer a nave quer o coro superior, com devotos que não temem a canícula sufocante do meio-dia no exterior ou no interior do templo e se aprestam a jantar mais cedo para participarem nas duas solenidades.
Este ano foram particularmente belas, dignas e participadas. O Coro Paroquial com apenas dez vozes, em que a mais jovem tem 62 anos e a mais decana acima dos 80, teve a preciosa participação de uma Senhora Professora de Canto e Soprano acompanhada ao piano por Emanuel Schweikert e que na Aclamação ao Evangelho interpretou o "Aleluia de Mozart", no Ofertório a "Ave Maria de Schubert", na Comunhão o "Panis Angelicus de C. Frankl" e no final o "Canticoreum de Hàndel", perfeitamente integrados sem a menor falha ou hesitação, nos restantes cânticos litúrgicos interpretados pelo Coro, numa sintonia perfeita que a todos encantou.
Atrevo-me a dizer que foi talvez a mais bonita e bem conseguida celebração de toda a minha vida, nestas funções. Muitos têm sido os elogios vindos das mais diversas fontes, mas confesso-vos que o que mais se encaixou no meu sentir foi a frase de uma pessoa amiga que muito emocionada ainda, me disse à noite, antes do início da Procissão das velas:
- Zé Manel hoje estou de coração cheio…
Obrigado a quem se empenha em continuar a servir esta tão pequenina Comunidade Cristã, quer no minúsculo Coro, quer no arranjo dos altares, limpeza e arrumação da igreja, não só nestes dias de festa com o templo a abarrotar de devotos, mas ao longo de todos os dias, semanas e meses nos muitos anos que por cá já andamos, apesar de sermos quase sempre os mesmos e cada vez menos.
Obrigado de coração à Soprano D. Filomena, pela devoção, carinho e beleza da sua magnífica voz nesta Solene Eucaristia da Padroeira. Foi simplesmente divinal!
Obrigado ao Emanuel Schweikert pelo desempenho musical quer no acompanhamento do Bel Canto quer ainda pelos preciosos acordes que veio ensaiar conosco e nos ajudou a solenizar mais e melhor os cânticos litúrgicos ao longo da celebração.
Saiu tudo na mais completa harmonia e sem uma falha sequer.
Obrigado a todas as digníssimas Entidades Religiosas, Autárquicas e Militares que nos honraram com as suas estimadas presenças.
Obrigado a todas as pessoas que vieram de longe e de perto porque quiseram estar com a sua Senhora do Carmo neste dia festivo em Sua honra. Que Ela vos ilumine e proteja sempre, assim como aos vossos entes queridos, onde quer que se encontrem.
E a terminar que posso escrever mais?
Obrigado Mãe Senhora do Carmo pois seguramente a Ti se devem todas estas surpresas maravilhosas que pelo Teu Amor por nós fazes acontecer e originam que tudo assim decorra na mais inesperada beleza e perfeição.
E tal como aquela pessoa amiga me confidenciou que se sentia depois da missa, eu sinto ainda o mesmo passados que vão já dois dias.

18. 07. 2024