Não, não vale tudo
Para mim nunca valeu. Nunca vai valer. Fico boquiaberto com as coisas que vejo e ouço pronunciadas de viva voz, que leio escritas por pessoas que eu até respeitava, considerava sensatas, bem formadas, pessoas por quem poria a mão no fogo, mas que fui percebendo aos poucos nunca mereceram essa consideração e respeito. Porque educação, princípios e integridade de carácter, ou se têm, ou não. Ponto. E só quem delas tem enorme défice é capaz de, sob a cobertura da liberdade de expressão, pronunciar, escrever e publicar, textos inqualificáveis para denegrir, achincalhar e ofender os seus semelhantes.
Seja a que pretexto for.
Com a maior cara de pau arvoram-se em arautos da opinião coletiva sem que ninguém para tal lhes confira tal estatuto.
Desde muito novo percebi que a vida é complicada. Pertenço, com infinito orgulho, à classe desfavorecida que comeu sempre o pão que o diabo amassou, vivendo paredes meias com famílias que não tinha essas dificuldades por serem funcionários públicos na sua maioria e auferirem ordenados certos e seguros, enquanto os meus pais trabalhavam dia e noite para conseguirem auferir o mínimo dos mínimos que mal dava para sobrevivermos todos.
Infinito orgulho sim, porque apesar de não haver abundância na dispensa da nossa casa, na arca da roupa de vestir e de modo geral no dia a dia, havia, de certeza absoluta, honestidade, vergonha na cara, respeito uns pelos outros e muita educação. E essa foi inquestionavelmente a mais valiosa herança que deles herdei e que muito agradeço.
Que Deus os tenha e guarde na Sua santa paz.
A inveja pela vida dos outros simplesmente não existia, a tentação daquilo que não nos pertencia era impensável, o uso de linguagem imprópria e ofensiva da dignidade de alguém não era sequer uma hipótese. Longe vão esses tempos em que o respeito era uma garantia inviolável para qualquer cidadão fosse rico ou pobre, assim como na vida em comunidade, que, apesar das carências de toda a espécie, era sossegada e minimamente feliz.
Nenhuma liberdade e nenhuma democracia conferem seja a quem for, o direito ao abuso da dignidade e respeito devidos a outrem. Existem demasiadas pessoas manhosa e deliberadamente confundidas acerca do que é o direito ao uso da liberdade de expressão, só porque vivemos em democracia.
Pessoas deslumbradas com o seu híper-ego e cujo discurso destila veneno nas intenções. Só não consigo perceber porquê. Maldade? Inveja? Rancor? Senso a menos? Ou será pura e simplesmente ausência de princípios? Não sei. Também, sinceramente, não me interessa. Que se deleitem na sua mesquinhez, que se afoguem na insidiosa verborreia que as inspira, que, sei lá, vão para o diabo que as carregue.
Pela parte que me toca é muito fácil resolver, evitando pura e simplesmente a convivência com gente assim. Para grandes males, grandes remédios. Ninguém me desilude duas vezes.
Porque, tenham santa paciência, não vale tudo.
Mas é que não vale, mesmo!
José Coelho