Aos 07 de Março de 2015 nasce este blogue que tal como o seu antecessor TocadosCoelhos pretende apenas ser um ponto de encontro e de entretenimento pautando-se sempre pelas regras da isenção, da boa educação e do civismo em geral. Sejam bem-vindos.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
Rumo ao sol poente...
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
Filhos que foram partindo
domingo, 26 de fevereiro de 2023
No mundo dos insetos...
Não há quem entenda o tempo
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023
Coisas que escrevi, faz tempo
Sem grande surpresa encontrámos a Rua do Comércio quase vazia de gente e também de lojas. Salta à vista a escassez de ambas. Na primeira em que entrámos fomos recebidos com a estima e consideração que sempre caracterizou o atendimento no comércio tradicional quer nas nossas cidades de província, quer nas vilas e aldeias, algo inexistente nos super's, híper's ou fóruns, onde o que conta é a faturação e o consumo e ninguém conhece ninguém. É um atendimento impessoal e frio, sem lugar à componente que gerava empatia vendedor/consumidor e criava laços de afetividade humana tão saudáveis como necessários por vezes ao nosso bem-estar geral.
Não resistimos a comentar tanto silêncio naquele percurso da cidade tão emblemático e cheio de história local e por isso manifestámos à senhora que ao balcão amavelmente nos atendeu - como sempre - a nossa estranheza por estes tempos modernos onde o vazio e a escassez de gente vai ganhando cada vez mais terreno por todo o interior do nosso país. As lojas fechadas sucedem-se umas às outras num cenário desolador e de deprimente abandono. E eu a julgar que só na minha Beirã havia ruas inteiras de casas vazias!
- Sabe quantas lojas já estão fechadas na Rua do Comércio?
Inacreditável.
Não seria, ainda assim, aquela revelação, a maior surpresa do dia. Comprado o que precisávamos na primeira loja, dirigimo-nos em seguida a uma outra mais acima, da qual, de igual modo, somos também clientes há décadas. Atrás do balcão uma doçura de senhora a atender-nos com a simpatia e amizade que tanto a caracterizaram sempre pela positiva. Não tinha o que pretendíamos mas a confiança dos muitos anos como seus clientes resultou numa amena conversa a três.
Despedimo-nos com a amizade do costume mas passei o resto do dia algo melancólico com a narrativa daquela senhora de já tão proveta idade mas que tem de continuar a passar os dias atrás do balcão da sua loja para angariar algum sustento para os seus, quando devia e merecia estar já mas é no aconchego da sua sala de estar a fazer tricot, ou numa esplanada em amena cavaqueira com as amigas, entre um chá e a leitura de uma qualquer revista do seu agrado, no gozo pleno de uma tão merecida reforma.
Entretanto como é do conhecimento geral e comummente aceite como se fosse normal, aqueles que ao longo de mais de 40 anos foram passando pelos sucessivos poleiros governativos e seus afins, nadam na abundância das suas douradas pensões vitalícias de muitos milhares de euros, acrescidas outras mordomias também vitalícias, tudo a somar às suas mais que duvidosas fortunas as quais todos desconfiamos como foram conseguidas por muitos deles não terem onde cair mortos antes de se meterem nas lides políticas.
Não tem tamanho a repugnância que sinto por tudo o que vejo acontecer em meu redor em pleno século XXI. Não sou adepto de histórias da desgraçadinha mas o desabafo tão sentido e triste daquela respeitável senhora que aos 82 anos é obrigada a trabalhar para acudir aos seus dadas circunstâncias a que os governos deste país nos conduziram, mexeu com todas as minhas sensibilidades de estimação.
domingo, 19 de fevereiro de 2023
Dois homens bons
Sozinho em casa
em tarde de domingo gordo deste ano da (des)graça de dois mil e vinte e três.
Vão longe os tempos em que nestes dias saíamos de casa após o almoço e só regressávamos altas horas da madrugada para dormir, porque pouco era o tempo para a folia e
demasiados os locais pelas redondezas para nos divertir-nos horas a fio. A
Sociedade Recreativa da Beirã, o Salão do Mané Batista dos Barretos, o
cruzamento d'áRanginha, o salão de bailes no rés-do chão, ou da discoteca Cave
de Santo António das Areias, quando não era ainda também alguma fugida de
comboio até à Estação de Castelo de Vide, para irmos ver os corsos à Vila.
Inesperadamente, a rede social onde me entretinha a passar o tempo, recomendou-me que consultasse os fotos que publiquei neste mesmo dia em anos anteriores. E, entre muitas outras, apareceu-me a que publico a ilustrar esta narrativa. O meu Pai encostado ao sacho, lado a lado com o ti João Forte (pai) seu patrão e amigo de quase todas as suas vidas, na eterna horta que tiveram "a meias" durante décadas, junto ao tanque grande e seu chafariz do Monte da Broca. Mais interessante ainda, os dois sorridentes, coisa que era tão rara, tão rara no meu pai, que até me embaraça, porque levo a vida a dizer que sou um pouco beiçudo (mal encarado) porque saio a ele que não era muito de mostrar os dentes.
Baixotes e franzinos de estatura, gigantes porém na sua bondade como seres humanos, homens sérios, leais, de respeito e de uma honradez sem limites. O meu pai, sendo de Castelo de Vide, conheceu e começou a trabalhar para o ti João Forte da Beirã - provavelmente de Santo António das Areias à data do seu nascimento - na década de 40 do Séc. XX como sócios "a meias" numa várzea no ribeiro e sítio do Vale de Cano, no "partir dos termos" do Concelho de Marvão com o Concelho de Castelo de Vide, propriedade da Família Forte.
As "meias" daquele tempo eram assim chamadas, porquanto o dono da terra dava, por uma época pré-estabelecida entre os dois, o terreno devidamente lavrado, estrumado e pronto a cultivar bem como o regadio assegurado, as plantas para replantio, e, no final da fega, o transporte do produto para as respetivas fábricas nas redondezas. Por sua vez ao hortelão competia tudo o resto. Embelgar a terra, plantar e semear, regar, sachar, mondar, colher os frutos quando maduros, acondicioná-los em sacas ou caixas, tomar nota do seu peso e encaminhá-las para o destino.
Foi nestas andanças e época que o meu Pai conheceu a minha Mãe por estas bandas, a namorou e roubou aos meus Avós Amélia e Zé Lourenço, levando-a uma noite depois do namoro para o Vale de Cano com ele, para ali passarem as suas núpcias e lua de mel no meio dos pimentos de sacho na mão, seguramente felizes como sempre os vi. Em janeiro de 1948 nasceu a minha falecida irmã Adelina, não nesta casa que o nosso pai já andava a construir mas ainda não estava pronta, mas onde já nasci eu, a sa irmã do meio Maria da Luz e a irmã caçula Joaquina Maria.
O meu Pai apesar de ser um pouco mais novo que o patrão faleceu vítima de cancro da próstata, no dia 23 de janeiro de 1994 com 83 anos, enquanto o ti João Forte faleceu alguns anos depois quase a completar 103 anos de vida. O meu Pai mesmo com uma algália permanente por nunca ter querido deixar-se operar, continuou a fazer a horta na Broca até quase ao fim da sua vida, enquanto o ti João Forte foi acolhido em casa da sua filha e por lá se finou. Foram os dois indubitavelmente grandes mentores e responsáveis na formação do meu carácter. Continuo e vou continuar até ao fim da minha vida a tentar imitá-los para honrar como merecem, a sua querida memória.
Já não vai havendo pessoas assim. Um abraço saudoso e apertado para os dois, onde quer que se encontrem.
José Coelho
Não sei quem foi o autor da foto, só sei que foi o João Forte (filho) que a ofereceu ao meu Pai.
Ninguém leva a mal
Esta expressão refere-se à
efemeridade da vida e à necessidade de a aproveitarmos o melhor possível: esta
vida são dois dias. O Carnaval são três: de facto, esta festa é celebrada nos
três dias antes da Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e se prolonga
até à Páscoa - Domingo gordo, segunda-feira de Carnaval e terça-feira, dia de
Entrudo.
E como a Quaresma é um tempo de
jejum religioso, o Carnaval começou por ser encarado com a última oportunidade
para cometermos alguns excessos... E ninguém levar a mal!
(Para Português Ler)
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023
Assim as irei recordar sempre
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
Para memória futura
O
lado oposto da Estação Ferroviária de Marvão-Beirã. A vivenda do lado direito
da foto, era, à data, o Vice-Consulado de Espanha e moradia do Agente Aduaneiro
Manuel Vivas que posteriormente promoveu a sua ampliação e remodelação para o
atual e magnífico palacete, hoje propriedade dos seus herdeiros.
A
vivenda do lado esquerdo lá continua ainda, exatamente na mesma. Nela se
celebrou a primeira missa desta aldeia, conforme placa evocativa ali colocada e
foi mandada construir para casa de férias pelo Tenente-Coronel Miguel Barcelos
Maia e sua esposa Virgínia Barcelos Maia, ambos sepultados em jazigo familiar
no cemitério desta Freguesia.
Esta
vivenda foi por sua morte deixada em testamento à Junta de Freguesia da Beirã
como sua nova proprietária, mas com usufruto da Paróquia para residência dos
párocos. Recentemente, o Bispo da Diocese prescindiu dessa cláusula
testamentária em virtude da acelerada degradação do imóvel, tendo por esse
motivo passado definitivamente a propriedade e o usufruto para a Junta de Freguesia,
a qual por sua vez a cedeu temporariamente à Câmara Municipal de Marvão, para
que desse modo se tornasse possível o completo e dispendioso restauro do mesmo,
com recurso a um projecto cofinanciado com fundos da União Europeia.
José Coelho - 13.02.2023
domingo, 12 de fevereiro de 2023
Coincidências... (ou talvez não)
sábado, 11 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023
Vou lá abáxo
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
domingo, 5 de fevereiro de 2023
Politicando, ou talvez não
sábado, 4 de fevereiro de 2023
É isto
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Bom fim de semana
(Re)aprendendo a viver
Foi conturbada e algo estranha para mim
a época que se seguiu após o regresso da guerra. Estava em curso a mudança de
regime e a esmagadora maioria da população não tinha conhecimento de quase nada
do que se passava na capital, em tempo real. Nos meios rurais o dia começava
cedo, o trabalho era duro, o cansaço aconselhava a deitar cedo, as notícias
eram escassas e por vezes mal entendidas. De vez em quando havia sessões de
esclarecimento nas salas públicas onde vinham oradores com discursos inflamados
de acordo as convicções pessoais de cada um deles. Quem os ouvia, a maior parte
das vezes, em vez de ficar mais esclarecido, ficava ainda mais confuso.
Mesmo assim começaram a esboçar-se as tendências que foram perdurando através das décadas e se têm mantido até hoje. Os “partidos dos pobres” eram os da esquerda. Os “partidos dos ricos” eram os da direita. Quem manifestasse simpatia pelas políticas de esquerda era sumariamente apelidado de comuna pelos que eram contra. Os opositores antiesquerdistas mais radicais afirmavam mesmo que comunistas, socialistas e seus satélites, eram todos farinha do mesmo saco. Isso não impediu contudo apesar de tanta oposição que fosse nesse grupo que se alinhasse a maioria dos trabalhadores das casas agrícolas da região assim como os operários fabris. Poderia até acrescentar que os que pretenderam dividir essas classes obtiveram o efeito contrário.
Uniram-nas ainda mais.
Desde sempre o fruto proibido foi o mais apetecido.
Por seu lado a tendência da outra parte, a da direita, na qual se incluíam os “donos-disto-tudo” daquele tempo mais os seus inúmeros seguidores, era apelidada de fascista e reacionária, a qual, entretanto, lá foi também contra ventos e marés vingando, apoiada pelos que iam comer à sua mão por conveniência, subserviência ou lambebotice. E porque não, pelos que simpatizavam realmente mais com a autoridade ditatorial recentemente deposta pela revolução, do que com os condenáveis excessos que em nome da liberdade se verificavam um pouco por toda a parte.
Consequência de tudo isso, instalou-se um clima esquisito pelas pequenas e até aí pacíficas comunidades como a da Beirã, um alimentar de estranhas hostilidades inclusivamente entre vizinhos e amigos de sempre, que pelo simples facto de uns acharem que o partido A com o qual simpatizavam era melhor que o B que os outros defendiam, romperam amizades de uma vida inteira, parentescos próximos até, em nome de ideologias políticas que ninguém conhecia ou entendia minimamente, mas às quais aderiam cegamente, escoiceando, mordendo e arranhando quem se lhe opusesse.
Aconteceu comigo também infelizmente como não podia deixar de ser. Não vou mencionar nomes de quem injusta, traiçoeira e cobardemente me prejudicou, porque eles sabem quem são se lerem o que eu escrevo e também porque tudo isso se passou há décadas. Muita água correu por debaixo da ponte levando com ela, sobretudo, a profunda mágoa que tudo isso me causou. Só a sua memória, qual auréola de nódoa difícil, será perene e se manterá para sempre no meu coração. Perdoar é uma coisa, esquecer é outra, bastante diferente.
Além disso a Vida se encarregou-se de fazer justiça e de colocar cada coisa no seu lugar. Deus escreve direito por linhas tortas e a situação deu uma volta de tal ordem que poucos anos depois era eu quem tinha uma vida estável, serena e bem sucedida, enquanto a alguns desses detratores da minha integridade de carácter a Vida puxou o tapete debaixo dos seus pés e deixou-os sem chão. E sem conseguirem agarrar-se ao que quer que fosse para se ampararem, bateram dolorosamente com o cu no chão.
Não por que eu lhes tivesse desejado tal sorte, muito pelo contrário. Apesar das suas injustas atitudes para comigo, compadeci-me deles no silêncio do meu coração de amigo que, apesar de tudo, nunca deixei de ser.
A segurança de me sentir finalmente em casa, o carinho da família, dos vizinhos, dos amigos e da namorada com quem já decidira casar, estavam lentamente a serenar a instabilidade interior que a guerra me causara, apesar de só eu mesmo saber que nunca mais voltaria a ser aquele jovem despreocupado e feliz que fora antes de para lá ir. Não tenho qualquer dúvida que naquela imensidão da floresta do Maiombe foi onde tive o meu encontro pessoal e íntimo com Deus. Talvez nunca consiga explicar quando, como e porquê, mas que foi ali que aconteceu, foi, sim! É uma certeza absoluta.
Foi onde aprendi a duras penas o quanto a vida é breve e fugaz, para nos darmos ao luxo de a desperdiçar de qualquer maneira, na igreja da Missão do Belize durante longuíssimas madrugadas quando da floresta ecoavam miríades de vozes de animais selvagens num verdadeiro hino à vida, enquanto eu e os meus camaradas nomeados de guarda de honra, perfilávamos incrédulos, com o coração apertado, a ladear na posição de sentido as urnas de camaradas que poucas horas antes nos tinham feito companhia mas agora ali jaziam estropeados dentro daqueles caixões.
Por essas e por outras, apesar de estar já em casa em segurança, ainda havia no meu coração demasiadas lembranças e marcas que me impediam de comungar da euforia geral reinante ou de me interessar minimamente por qualquer atividade política, além de que, honestamente, não sabia nem pouco mais ou menos o que era "aquilo" de esquerda, direita ou centro, limitando-me a ouvir uns e outros para tentar entender a nova realidade e colaborar no que me fosse solicitado, sem qualquer outra intenção que não fosse a de ajudar tudo e todos...
José Coelho in Histórias do Cota