terça-feira, 12 de novembro de 2024

Pode tardar mas não falha

Foto José Coelho

É verdade que o mundo é composto de mudança, que tudo muda e se transforma. Faz parte dos ciclos que naturalmente se sucedem na vida das pessoas e das coisas. O que me faz alguma confusão é a forma como certas pessoas se comportam porque nunca fui, não sou nem serei assim. Os meus bisavós, avós e pais, eram todos desta região luso-espanhola a que chamamos raia. Uns do concelho de Castelo de Vide, outros do concelho de Marvão e alguns, como a minha sogra assim como a maior parte da minha família materna, da vizinha Espanha.

A todos conheci sempre unidos, arreigados à família, respeitadores dos vínculos familiares até à quarta ou quinta geração – não é por acaso que por aqui somos quase todos parentes – fiéis aos seus princípios, usos e costumes. Praticavam entre eles e para com toda a gente em seu redor, as regras da mais límpida honradez, educação, trato, respeito e decoro, em tudo o que diziam e faziam. 

Para eles era mais valiosa a sua palavra dada, do que qualquer certidão de notário. Foi dentro desse contexto de valores e princípios que fui moldado e me fiz homem. Os meus pais e avós nunca tiveram uma vida fácil mas viveram sempre honradamente do seu trabalho sem nunca ficarem a dever nada a ninguém. Tinham a vida que podiam ter, davam-nos a vida que podiam dar, sem se importarem se a dos outros era melhor do que a deles. Foram, inquestionavelmente apesar da sua humilde condição social, as criaturas mais perfeitas que conheci na vida, a quem nunca vi um mau exemplo ou ouvi uma má palavra.

O respeito entre eles próprios, para com os filhos e netos, ou para com todas as outras pessoas à sua volta, foi sempre irrepreensível. Por isso, naturalmente, a pessoa que sou a eles devo, mais até do que à professora que me ensinou a ler e a escrever, dado serem essas as duas únicas coisas que nenhum deles podia fazer por serem analfabetos. Os valores e princípios que devem nortear a vida de cada pessoa não são matérias para se irem aprender à escola. Têm de se aprender em casa desde o berço.

Não será portanto por tais desajustados e pouco corretos comportamentos que irei alguma vez modificar a minha maneira de ser, de estar ou de me comportar, apesar do “vale tudo” que por aí anda espalhado como praga ruim. Cada pessoa sabe o que diz e faz, assim como também porque o diz e o faz. O tempo sempre foi e continuará a ser o melhor juiz de todo o bem e de todo o mal que fizermos na vida. Será ele e só ele quem irá colocar cada coisa no seu lugar. 

Pode tardar, mas não falha. Não tenho a menor dúvida.

Desengane-se quem o contrário pensar. Nas minhas mais de sete décadas de vida vi com os meus olhos a vida castigar quem fez mal devolvendo-lhe males maiores do aquele que essas pessoas tinham praticado, vi pessoas ricas e soberbas reduzidas à condição de quase não terem dinheiro para comer, vi filhos serem mais maltratados pelos seus filhos do que eles tinham maltratado os seus pais, vi palácios transformados num monte de ruínas.

A vida irá cobrar-nos tudo o que cada um de nós fizer. De bem ou de mal, sempre.

José Coelho