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Descalço
Cheguei pobre e assim parto
Dono de coisa nenhuma,
Entre as paredes de um quarto
Tenho mar não tenho barco,
Tenho vento não tenho escuna
Naveguei águas correntes
Que agora vivem paradas,
Mortos os rios são diferentes
Como no mundo tanta gente,
Que esquece águas passadas
Vendi os sonhos que tinha
Guardados, porque eram meus,
Tudo o que á mente me vinha
Afoguei no sumo da vinha,
Querendo ganhar o céu
Ceifei trigo sem ter pão
Deitei a vida á maré,
Nas eiras do coração
Parto sem ter um tostão,
Nadei para fora de pé
Andei descalço da poeira
Que caminhar tão ingrato,
Deixei as marcas e canseira
Fui eu á minha maneira,
Cheguei pobre e assim parto
Jorge Raposo Caraça