terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Coisas (bonitas) que leio...

Imagem copiada do Google

Descalço


Cheguei pobre e assim parto
Dono de coisa nenhuma,
Entre as paredes de um quarto
Tenho mar não tenho barco,
Tenho vento não tenho escuna

Naveguei águas correntes
Que agora vivem paradas,
Mortos os rios são diferentes
Como no mundo tanta gente,
Que esquece águas passadas

Vendi os sonhos que tinha
Guardados, porque eram meus,
Tudo o que á mente me vinha
Afoguei no sumo da vinha,
Querendo ganhar o céu

Ceifei trigo sem ter pão
Deitei a vida á maré,
Nas eiras do coração
Parto sem ter um tostão,
Nadei para fora de pé

Andei descalço da poeira
Que caminhar tão ingrato,
Deixei as marcas e canseira
Fui eu á minha maneira,
Cheguei pobre e assim parto


Jorge Raposo Caraça