Sidra do país basco oferta dos primos numa das suas visitas
Foto by José Coelho
Las
nuestras raíces d’España...
É
verdade, filhotes. Temos uma - ou se calhar várias - costelas espanholas.
Vamos
lá então deslindar isto. Já escrevi, creio que o essencial, sobre os vossos avós
maternos e paternos, mas, para início das nossas memórias de hoje, vou ter que
voltar à Avó Francisca que era natural de San Pedro – Valência de Alcântara –
Espanha, onde nasceu, cresceu e passou os seus primeiros anos.
Existe
ainda, embora em ruínas, a casa onde ela nasceu e viveu com os vossos bisavós.
Como ainda hoje acontece com muitos dos nossos conterrâneos/as, a avó Francisca
casou com o vosso avô Antero que era português e por cá
ficou. Mas “en su carné”(é como se chama o cartão de cidadão na sua terra) que a vossa mãe guarda religiosamente, consta, como
não podia deixar de ser, a sua origem natal.
Tinha
lá uma irmã, a vossa tia-avó Maria Jacinta da qual já falámos porque acabou de
criar a tia Maria José, a mana da mãe, a qual, pouco depois de ter sido
"adotada" ainda menina pela tia, se naturalizou espanhola também. Anos
mais tarde lá casou com o tio Joaquin, o nosso acordeonista “Bimbas”, sendo ambos
progenitores da madrinha de batismo do Pedro, a Paquita, e também da Núria que,
curiosamente, veio ser, anos mais tarde, sua madrinha de casamento! Duas
madrinhas espanholitas, Pedro Coelho?!...
O
nome da Paquita foi escolhido pela sua mãe em homenagem à Avó Francisca. Porém,
em Espanha, todos os Franciscos adotam imediatamente a alcunha de "Paco",
logo, como era uma menina a vossa prima Francisca passou a ser... Paca! Mas, em
virtude de ser bébé, era carinhosamente tratada por Paquita. Anos mais tarde, ao
ingressar na “escuela”, os outros miúdos começaram a tratá-la pelo diminuitivo de
Paki e assim ficou para toda a família e amizades mais chegadas. A nossa Paki,
até hoje.
Toda
a família da Avó Francisca era espanhola e a sua irmã Maria Jacinta - já falecida há muito tempo - por coincidência escolheu também para marido um português, o tio Joaquim Maroco,
o qual se naturalizou espanhol e para lá foi viver assim que casaram,
dedicando-se os dois ao comércio fronteiriço de diversos produtos, numa pequena loja nas margens do Rio Sever e num bonito lugar ainda hoje conhecido por
"Regato".
Tiveram
três filhos, primos direitos da vossa mãe e meio irmãos da tia Maria José por
afinidade, por terem sido criados todos juntos. O João e o José que vocês
tiveram ocasião de conhecer no casamento da Núria, pessoas maravilhosas, gente
muito boa mesmo. E também a Júlia que vocês já não conheceram porque faleceu exatamente
no mesmo dia em que se sepultou a tia Maria Jacinta, sua mãe. Eis assim
resumidamente explicadas as vossas raíces de Espanha, pelo lado da vossa mãe.
Pelo
meu lado, essas raíces são um pouco mais afastadas. Era o meu avô paterno que
pela guerra civil espanhola foi obrigado a procurar trabalho deste lado do rio onde conheceu e casou com a minha avó Amélia e por cá ficou. Porém, toda a restante
família dele – e nossa – continua até hoje em Espanha. Vocês conhecem alguns
deles, ainda que superficialmente porque vivem longe, espalhados um pouco por
toda a Espanha. E como é inevitável, os laços têm-se ido diluindo pela distância e pelo tempo.
A
Maria, já viúva, vive em Vitória, no País Basco, com os filhos e os netos e que
nos vem visitar todos os anos com aquela ranchada de gente sempre atrás dela. O Raimundo, que
vive em Cereceda, nas Astúrias com a mulher e os três filhos, também. O Joaquin,
falecido recentemente, que era provavelmente quem vocês conheceram melhor
porque vinha cá a casa amiúde, e o António, dois anos mais velho que eu e que
vive em Valência de Alcântara.
São os quatro filhos de um dos irmãos do meu avô, aquele para onde eu ia todos os anos
passar as férias escolares e com quem aprendi a “hablar y a escribir castellano”.
Era o tio Joaquin, um grande amigo de toda a nossa família. Tenho histórias
deliciosas desses tempos, como aquela da rola que era tão linda e muitas
outras.
Também
quando ainda era viva e a residir em Valência, convivi e conheci muito bem uma
irmã do meu avô, mulher muito desembaraçada e bondosa, a tia Maria, que tinha
dois filhos, o Fernando, mais conhecido por “El Kiki del táxi” que vocês conheceram
muito bem e o José que vive em Barcelona mas de quem pouco sei.
E
há mais gente. Muita mais. Primos, primas... De vez em quando sou abordado no
mercadillo de Valência por pessoas que me são apresentadas como família ainda próxima:
- Pues
mira, rosémanué, este es el hijo de tu primo tal..."
E
dou por mim a pensar:
Vaya
suerte, que no lo conosco, coño...
P.S.
Coño
não é nenhuma asneira! Pronuncia-se cónho e quer dizer, mais ou menos, o
equivalente ao nosso "caramba".
José
Coelho in Histórias do Cota