quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Coisas q'escrevi

Sidra do país basco oferta dos primos numa das suas visitas
Foto by José Coelho


Las nuestras raíces d’España...


É verdade, filhotes. Temos uma - ou se calhar várias - costelas espanholas.

Vamos lá então deslindar isto. Já escrevi, creio que o essencial, sobre os vossos avós maternos e paternos, mas, para início das nossas memórias de hoje, vou ter que voltar à Avó Francisca que era natural de San Pedro – Valência de Alcântara – Espanha, onde nasceu, cresceu e passou os seus primeiros anos.

Existe ainda, embora em ruínas, a casa onde ela nasceu e viveu com os vossos bisavós. Como ainda hoje acontece com muitos dos nossos conterrâneos/as, a avó Francisca casou com o vosso avô Antero que era português e por cá ficou. Mas “en su carné”(é como se chama o cartão de cidadão na sua terra)  que a vossa mãe guarda religiosamente, consta, como não podia deixar de ser, a sua origem natal.

Tinha lá uma irmã, a vossa tia-avó Maria Jacinta da qual já falámos porque acabou de criar a tia Maria José, a mana da mãe, a qual, pouco depois de ter sido "adotada" ainda menina pela tia, se naturalizou espanhola também. Anos mais tarde lá casou com o tio Joaquin, o nosso acordeonista “Bimbas”, sendo ambos progenitores da madrinha de batismo do Pedro, a Paquita, e também da Núria que, curiosamente, veio ser, anos mais tarde, sua madrinha de casamento! Duas madrinhas espanholitas, Pedro Coelho?!...

O nome da Paquita foi escolhido pela sua mãe em homenagem à Avó Francisca. Porém, em Espanha, todos os Franciscos adotam imediatamente a alcunha de "Paco", logo, como era uma menina a vossa prima Francisca passou a ser... Paca! Mas, em virtude de ser bébé, era carinhosamente tratada por Paquita. Anos mais tarde, ao ingressar na “escuela”, os outros miúdos começaram a tratá-la pelo diminuitivo de Paki e assim ficou para toda a família e amizades mais chegadas. A nossa Paki, até hoje.

Toda a família da Avó Francisca era espanhola e a sua irmã Maria Jacinta - já falecida há muito tempo - por coincidência escolheu também para marido um português, o tio Joaquim Maroco, o qual se naturalizou espanhol e para lá foi viver assim que casaram, dedicando-se os dois ao comércio fronteiriço de diversos produtos, numa pequena loja nas margens do Rio Sever e num bonito lugar ainda hoje conhecido por "Regato".

Tiveram três filhos, primos direitos da vossa mãe e meio irmãos da tia Maria José por afinidade, por terem sido criados todos juntos. O João e o José que vocês tiveram ocasião de conhecer no casamento da Núria, pessoas maravilhosas, gente muito boa mesmo. E também a Júlia que vocês já não conheceram porque faleceu exatamente no mesmo dia em que se sepultou a tia Maria Jacinta, sua mãe. Eis assim resumidamente explicadas as vossas raíces de Espanha, pelo lado da vossa mãe.

Pelo meu lado, essas raíces são um pouco mais afastadas. Era o meu avô paterno que pela guerra civil espanhola foi obrigado a procurar trabalho deste lado do rio onde conheceu e casou com a minha avó Amélia e por cá ficou. Porém, toda a restante família dele – e nossa – continua até hoje em Espanha. Vocês conhecem alguns deles, ainda que superficialmente porque vivem longe, espalhados um pouco por toda a Espanha. E como é inevitável, os laços têm-se ido diluindo pela distância e pelo tempo.

A Maria, já viúva, vive em Vitória, no País Basco, com os filhos e os netos e que nos vem visitar todos os anos com aquela ranchada de gente sempre atrás dela. O Raimundo, que vive em Cereceda, nas Astúrias com a mulher e os três filhos, também. O Joaquin, falecido recentemente, que era provavelmente quem vocês conheceram melhor porque vinha cá a casa amiúde, e o António, dois anos mais velho que eu e que vive em Valência de Alcântara.

São os quatro filhos de um dos irmãos do meu avô, aquele para onde eu ia todos os anos passar as férias escolares e com quem aprendi a “hablar y a escribir castellano”. Era o tio Joaquin, um grande amigo de toda a nossa família. Tenho histórias deliciosas desses tempos, como aquela da rola que era tão linda e muitas outras.

Também quando ainda era viva e a residir em Valência, convivi e conheci muito bem uma irmã do meu avô, mulher muito desembaraçada e bondosa, a tia Maria, que tinha dois filhos, o Fernando, mais conhecido por “El Kiki del táxi” que vocês conheceram muito bem e o José que vive em Barcelona mas de quem pouco sei.

E há mais gente. Muita mais. Primos, primas... De vez em quando sou abordado no mercadillo de Valência por pessoas que me são apresentadas como família ainda próxima: 
- Pues mira, rosémanué, este es el hijo de tu primo tal..."

E dou por mim a pensar:
Vaya suerte, que no lo conosco, coño...

P.S.
Coño não é nenhuma asneira! Pronuncia-se cónho e quer dizer, mais ou menos, o equivalente ao nosso "caramba".


José Coelho in Histórias do Cota