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O
avô Antero Maria Servo
Meus
filhos:
Gostava
de poder escrever acerca deste vosso avô como escrevi acerca do avô António Coelho, mas tal
não é possível, dado que também pouco sei. E desse pouco que sei, relativamente
à sua conduta para com a vossa avó Francisca e muito particularmente em relação
à vossa mãe, não sendo factos agradáveis de recordar, são, contudo, passíveis de voltarem a causar algum sofrimento, por irem tocar em sentimentos profundos de quem os viveu.
Assim
sendo e seguindo aquela máxima que recomenda "se não tens coisas
boas para dizer de alguém então deixa-te ficar calado" é isso mesmo que
vou fazer. Guardar silêncio. Porque tudo o que aquele vosso avô fez durante a sua
vida ou a forma como a conduziu, bem ou mal, foi da sua única e exclusiva responsabilidade. E quem
somos nós, para o julgar?
Tenho
sérias razões para acreditar que ainda em vida se terá arrependido e fui
testemunha de que ele tentou emendar algumas coisas. Mas quem ele magoou mais profundamente
não conseguiu dar-lhe essa oportunidade. E desde esse dia nunca mais o voltei a ver. Decerto que de todos os seus erros já prestou contas ao Criador, para junto do
qual foi chamado há algum tempo, como sabeis.
Era
filho de muito boa gente. Toda a sua família, aquela que por consanguinidade materna é
também a vossa, sem excepção alguma, é tudo muito boa gente. Em toda a acepção da palavra.
E não conheço antecedentes nem precedentes que indiciem que alguém possa ter
aprovado o seu comportamento como esposo da vossa avó, ou como pai da vossa mãe.
Além
disso, nada do que ele possa ter feito em vida impede que continue a ser para sempre o vosso legítimo Avô materno. O vosso Avô Antero Maria Servo. Que
descanse em paz...
José
Coelho in Histórias do Cota