terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Coisas q'escrevi...

Imagem copiada do Google


O avô Antero Maria Servo


Meus filhos:

Gostava de poder escrever acerca deste vosso avô como escrevi acerca do avô António Coelho, mas tal não é possível, dado que também pouco sei. E desse pouco que sei, relativamente à sua conduta para com a vossa avó Francisca e muito particularmente em relação à vossa mãe, não sendo factos agradáveis de recordar, são, contudo, passíveis de voltarem a causar algum sofrimento, por irem tocar em sentimentos profundos de quem os viveu.

Assim sendo e seguindo aquela máxima que recomenda "se não tens coisas boas para dizer de alguém então deixa-te ficar calado" é isso mesmo que vou fazer. Guardar silêncio. Porque tudo o que aquele vosso avô fez durante a sua vida ou a forma como a conduziu, bem ou mal, foi da sua única e exclusiva responsabilidade. E quem somos nós, para o julgar?

Tenho sérias razões para acreditar que ainda em vida se terá arrependido e fui testemunha de que ele tentou emendar algumas coisas. Mas quem ele magoou mais profundamente não conseguiu dar-lhe essa oportunidade. E desde esse dia nunca mais o voltei a ver. Decerto que de todos os seus erros já prestou contas ao Criador, para junto do qual foi chamado há algum tempo, como sabeis.

Era filho de muito boa gente. Toda a sua família, aquela que por consanguinidade materna é também a vossa,  sem excepção alguma, é tudo muito boa gente. Em toda a acepção da palavra. E não conheço antecedentes nem precedentes que indiciem que alguém possa ter aprovado o seu comportamento como esposo da vossa avó, ou como pai da vossa mãe.

Além disso, nada do que ele possa ter feito em vida impede que continue a ser para sempre o vosso legítimo Avô materno. O vosso Avô Antero Maria Servo. Que descanse em paz...



José Coelho in Histórias do Cota