sábado, 23 de maio de 2015

Da terra do meu pai...


Imagem copiada do Google

Vamos à Praça

Nasce o sol, junto ao pelourinho montam-se os tabuleiros e dispõem-se os produtos para venda.
A ti Catrina levanta-se cedo, quer ser a primeira a mercar.
- Tenho que encontrar “Jospiros” a minha Zefa está de esperanças e tem desejos.
 De Alpalhão chega o grão, feijão, arroz, ervilhas que são despejados ao monte no lajeado onde vão ser vendidos ao litro. O dinheiro da venda irá servir para comprar os tecidos que a mulher vai transformar em roupa. O riscado para as ceroulas, a ganga calças de trabalho, fazenda de lã para as calças mais finas e coletes, a chita e a popelina usadas em aventais e blusas, o cretone para a colcha da filha que vai casar e pano-cru para o que calhar.
O peixe veio de comboio, chegou de madrugada à estação, foi transportado até à vila de carroça e vai ser agora vendido por fresco. “Pexelim”, carapau, sardinha e cação são os mais cobiçados para o almoço.
Tudo se vende, tudo se compra.
A queijeira também conhecida por roupeira devido às suas roupas alvas ao tratar do produto é indagada:
- O queijo é bom?
-Oh freguesa, leve à vontade, é de leite de gente de confiança.
Entre um raminho de cheiros e um molho de salva brava, lá se vai continuando.
Galinhas e coelhos vivos nas cestas, e os ovos?
- Dê-me ai uma dúzia, mas só de galinha preta.
- E eu sei lá quais são os da galinha preta!
- Olhe, são os maiores!
Tudo se vende, tudo se compra
Os da Póvoa vêm à vila e deixam a bucha e o avio nas lojas para não andarem carregados.
As abóboras são mogangos.
Os mogangos são morangos.
Os morangos, moranguinhos.
Os barros do dia-a-dia vieram de Flor da Rosa e são vendidos pelos “paneleiros” (triste sina a de quem vende panelas). Alguidares para amassar e para as matanças, panelas pra cozinhar no lume, cafeteiras, “enfusas” e potes para adoçar as azeitonas.
Marcha uma massa frita do Ti João da Linha e um café de “escolateira” já agora, que a manhã ainda é longa.
Se era novidade lançava-se um Pregão:
Faz-se saber que no tabuleiro do Sr. Jaquim do Brejo estão à venda as primeiras cerejas da época…
- E são doces? Não têm bicho?
- Se não têm buraco é porque não têm bicho e se tiverem buraco é porque o bicho já saiu.
Carne fresca e enchidos também têm lugar nesta amálgama de cores, cheiros e sabores.
Tudo se vende, tudo se compra.
Entre um copo de 3 e um carapau frito tratam-se de negócios.
- Manel quanto queres por um alqueire de azeite? E a cabra já está prenha?
- Olha que de barriga é mais cara, pelo menos 5 notas.
Hora de almoço, baixam-se os preços para não levar restos para casa.
Levantam-se os tabuleiros. Termina o mercado
Os negócios continuam nas tascas.
Tudo se vende, tudo se compra.


Glória Montinho 
Maio 2015
(In Notícias de Castelo de Vide)