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Vamos à Praça
Nasce o sol, junto ao pelourinho
montam-se os tabuleiros e dispõem-se os produtos para venda.
A ti Catrina levanta-se cedo,
quer ser a primeira a mercar.
- Tenho que encontrar “Jospiros”
a minha Zefa está de esperanças e tem desejos.
De Alpalhão chega o grão, feijão, arroz,
ervilhas que são despejados ao monte no lajeado onde vão ser vendidos ao litro.
O dinheiro da venda irá servir para comprar os tecidos que a mulher vai
transformar em roupa. O riscado para as ceroulas, a ganga calças de trabalho,
fazenda de lã para as calças mais finas e coletes, a chita e a popelina usadas
em aventais e blusas, o cretone para a colcha da filha que vai casar e pano-cru
para o que calhar.
O peixe veio de comboio, chegou
de madrugada à estação, foi transportado até à vila de carroça e vai ser agora
vendido por fresco. “Pexelim”, carapau, sardinha e cação são os mais cobiçados
para o almoço.
Tudo se vende, tudo se compra.
A queijeira também conhecida por
roupeira devido às suas roupas alvas ao tratar do produto é indagada:
- O queijo é bom?
-Oh freguesa, leve à vontade, é
de leite de gente de confiança.
Entre um raminho de cheiros e um
molho de salva brava, lá se vai continuando.
Galinhas e coelhos vivos nas
cestas, e os ovos?
- Dê-me ai uma dúzia, mas só de
galinha preta.
- E eu sei lá quais são os da
galinha preta!
- Olhe, são os maiores!
Tudo se vende, tudo se compra
Os da Póvoa vêm à vila e deixam a
bucha e o avio nas lojas para não andarem carregados.
As abóboras são mogangos.
Os mogangos são morangos.
Os morangos, moranguinhos.
Os barros do dia-a-dia vieram de
Flor da Rosa e são vendidos pelos “paneleiros” (triste sina a de quem vende
panelas). Alguidares para amassar e para as matanças, panelas pra cozinhar no
lume, cafeteiras, “enfusas” e potes para adoçar as azeitonas.
Marcha uma massa frita do Ti João
da Linha e um café de “escolateira” já agora, que a manhã ainda é longa.
Se era novidade lançava-se um
Pregão:
Faz-se saber que no tabuleiro do
Sr. Jaquim do Brejo estão à venda as primeiras cerejas da época…
- E são doces? Não têm bicho?
- Se não têm buraco é porque não
têm bicho e se tiverem buraco é porque o bicho já saiu.
Carne fresca e enchidos também
têm lugar nesta amálgama de cores, cheiros e sabores.
Tudo se vende, tudo se compra.
Entre um copo de 3 e um carapau
frito tratam-se de negócios.
- Manel quanto queres por um
alqueire de azeite? E a cabra já está prenha?
- Olha que de barriga é mais
cara, pelo menos 5 notas.
Hora de almoço, baixam-se os
preços para não levar restos para casa.
Levantam-se os tabuleiros.
Termina o mercado
Os negócios continuam nas tascas.
Tudo se vende, tudo se compra.
Glória Montinho
Maio 2015
(In Notícias de
Castelo de Vide)