sábado, 16 de maio de 2015

Desculpe, senhor presidente, mas não concordo consigo...


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Não só não concordo, como acho inadmissível. O senhor presidente que me desculpe, mas não se pode brincar assim com a vida das pessoas. Em 2012, com a maior cara de pau, o nosso senhor primeiro ministro afirmou com todas as letras e sem se engasgar ou gaguejar, que, quem não conseguia arranjar emprego "cá dentro", devia procurá-lo "lá fora". Porque a Europa era muito grande. E muita gente foi. Teve que ir. Que remédio. Até a minha irmã Luz já com muito mais de cinquenta anos. Ela, o meu cunhado Zacarias e os seus filhos e meus sobrinhos, genro e netos. E não foram para "obedecerem" ao nosso primeiro, mas porque não tiveram outra opção.

Arrumaram os tarecos numa garagem, entregaram as casas ao banco ou ao senhorio, desfizeram todos os seus sonhos de uma vida digna, mantida até ali pelo habitual salário decente e fruto do seu honrado trabalho, que, entretanto, inesperadamente se evaporou por falência da empresa, ou outro motivo qualquer e que, numa inevitável consequência, os impediu de continuarem a pagar, como sempre tinham feito regularmente até então, a prestação ao banco, ou a renda ao senhorio. E, mais aflitivo ainda, de poderem colocar pão na mesa para si e para os seus. Alguém imagina tamanha angústia? 

E os jovens? 
Fortunas gastas pelos pais e famílias em cursos, mestrados e doutoramentos. 
Para quê? 
Para, na melhor das hipóteses, conseguirem um part-time nas caixas ou como arrumadores de prateleiras de um qualquer centro comercial da zona, a recibos verdes.
Ah pois...  

Vi eu e viram todos vocês nos telejornais, muitos familiares desses jovens (e não só) lavados em lágrimas nas despedidas, quando os iam acompanhar aos aeroportos. Quantos de vocês que estão a ler as minhas letras, não têm ninguém "lá fora"? São poucas as famílias que não tiveram que engrossar essa lista negra de emigrantes à força, por falta de trabalho e de condições mínimas de sobrevivência no nosso país. Culpa da crise, culpa da troika, culpa da puta que pariu quem ou o que que quer que fosse que originou a sangria desatada de tanta gente que teve que "fugir" para longe, para poder ganhar o pão de cada dia e para dar de comer à sua família.

Políticos não foi nenhum. Qual quê. Esses têm todas as mordomias, todas as condições e oh que condições para poderem continuar descansados no seu bem-bom, a gozarem no ativo ou fora dele os chorudos rendimentos concebidos e aprovados por eles próprios e pelos seus antecessores dando-lhes forma de leis e regulamentos a fim de assegurarem o "resguardo" de si próprios. Pudera! Pelo sim, pelo não, tais benesses foram sempre sendo atualizadas para melhor os protegerem de quaisquer crises como a atual ou outra que possa surgir no futuro. Até ao fim das suas vidas. Tudo ou quase tudo neste país se tornou precário, menos as mordomias dos senhores políticos, sejam de que partido forem. 

Chamem-lhes lá parvos! 

Metia nojo ouvir as "bacoradas" de alguns "crâneos" quando falavam da necessidade de se cortar aqui ou ali para acertar o défice. Nas prestações sociais dos desempregados, e, entre muitas outras barbaridades, nos gastos com os cuidados de saúde. Do zé povinho, claro. Porque para "eles", os "tais", há sempre os hospitais privados onde não há contenção de despesas, nem listas de espera para cirurgias urgentes, nem fita verde no pulso para esperar vinte e tal horas até se ser (muitas vezes mal e porcamente) atendido.

Nunca na minha vida imaginei que iria um dia assistir a tanta indignidade junta. A doença da minha falecida mãe e a necessidade contínua que nos levou varias vezes a necessitar de cuidados médicos, mostrou-nos em toda a sua crueldade o quanto a vida humana deixara de fazer sentido para quem decidia esses cortes, essas contenções. As frias estatísticas meramente economicistas substituiram o mais elementar bom senso. A crueza, a falta de humanidade total e completa, era o rosto dos corredores dos SO dos hospitais, que mais pareciam antecâmeras de Awschwitz. Nem na guerra e no meio do mato vi cenas tão revoltantes e comoventes. Quem ia acompanhar um doente ao banco de urgências vinha de lá doente também com aquilo que lá presenciava.

Os senhores que levaram o país à falência por governação ruinosa ou outras obscuras razões deveriam ser condenados, no mínimo, a nunca mais terem um ordenado superior ao mínimo nacional até ao fim da sua vida ativa. Depois, a sua reforma ser também o montante médio da maioria dos reformados deste país. 

Ao contrario do que aconselha o excelentíssimo senhor presidente, eu aconselho a quem, como alguma da minha família, teve que emigrar, que não queira voltar para cá tão cedo. As condições de trabalho continuam precárias e os ordenados para o pouco emprego que se consegue arranjar não são nada aliciantes. Por isso, em bom português, a "porcaria" continua a mesma. Melhorias só nas estatísticas. Mas não conferem com aquilo que a gente vê e sente. Um país vazio, apático. A única coisa que provoca alguns apelos patéticos é, não tenham dúvidas, a necessidade dos votos lá para outubro. Depois, ganhe quem ganhar, vira o disco e toca o mesmo. 

Milagres?

Não me amolem...