sexta-feira, 27 de março de 2015

Sinais... (só não vê quem não quer)



Todos os dias somos confrontados com eles. Seja em apelativas primeiras páginas que visam simplesmente o aumento de vendas na imprensa escrita, seja na abertura dos televisivos telejornais, o propósito é exatamente o mesmo. O lucro. Quanto mais, melhor. Só que no audiovisual  apelidam-se liderança de audiências que são medidas em percentagens de shares, as quais, por sua vez, abrem um apetite voraz ao mercado publicitário que ali investe milhares para ganhar milhões na promoção do seu mundo sem fim de banha da cobra que, como sabemos, tanto pode ser um xarope para a tosse como um robot de cozinha que faz tudo sózinho. 

Entram-nos pelos olhos dentro sem qualquer pudor ou recato tantas vezes quantas aquelas que nós ousemos abrir um jornal ou ligar uma televisão, um computador, um tablet ou agora também já um telemovel. Conseguiram mesmo mudar por completo os nossos hábitos mais comuns enquanto sociedade. Basta olhar a esplanada do café com três ou quatro pessoas sentadas em cada mesa mas sem conversarem umas com as outras porque cada uma delas está ocupada com algo. Tablet, telemovel, quiçá mesmo um pc que lhes absorve por completo a atenção e as alheia de tudo o resto que as rodeia. E o mesmo acontece já também em muitas casas às refeições ou nos serões em família.

Está em curso um mundo novo. Um mundo de alta tecnologia que nos permite ver, no exato momento em que está a acontecer, qualquer evento em qualquer parte do planeta. Mas a que preço? Esse mundo maravilhoso é frio, insensível a sentimentos humanos. E curiosamente antagónico, porque enquanto nos aproxima daquilo que está a suceder a milhares de quilómetros, nos afasta simultaneamente da pessoa que está sentada ao nosso lado a escassos centímetros de distância. Talvez por isso estejamos também a ficar menos sensíveis, indiferentes e cada vez mais distantes uns dos outros. Cada um recolhido no seu casulo, absorto quase só já naquilo que lhe é oferecido por essa tecnologia moderna.

Depois...

Bem, depois, vemos com preocupação os atentados inexplicáveis que razão alguma justifica. Vemos e não compreendemos que tantos jovens se entreguem ao consumo de drogas letais e incapacitantes, que muitos outros fujam do seu seio familiar para irem alistar-se em seitas fundamentalistas e criminosas, que outros ainda cometam atentados medonhos como aquele que anteontem despenhou um avião cheio de inocentes contra uma montanha. E tantas, tantas outras manifestações esquisitas de que algo de muito mau está a contaminar perigosamente estas novas gerações.

E que dizer das reações violentas um pouco por toda a parte? Por exemplo, a agressiva indignação daquela multidão de gente na inauguração do BCE? De facto, ostentar tanta riqueza perante o desespero de milhões de famílias a viverem no limiar da pobreza, é no mínimo, obsceno. A inqualificável diferença na qualidade de vida, vencimentos, mordomias, poder de compra e protecção quer na doença quer na velhice entre  governantes e governados da maioria dos países europeus, é pura e simplesmente aberrante. 

A precaridade nos empregos, a insegurança em relação ao futuro, a redução sistemática de salários e pensões, as políticas criminosas que permitem que uma minoria corrupta e oportunista enriqueça cada vez mais enquanto uma imensa maioria vê cada vez menos possibilidades de uma vida digna ou de uma velhice tranquila, estão a dar cabo da esperança não só nos corações de quem já viveu bastante e merecia envelhecer em paz, mas também nos corações daqueles que estão agora em tempo de iniciar a sua vida adulta e não têm quaisquer perspectivas no presente e ainda menos no futuro. 

Não serão essas políticas erradas, essas indignidades sem fim à vista que diariamente nos entram olhos dentro, cometidas quase sempre por quem tinha o dever de ser exemplo que estão a dar cabo de muitas cabeças? Não será o descrédito neste sistema pouco justo e muito corrupto de governos ditos democráticos e modernos que faz perder a esperança a jovens ou menos jovens levando-os a cometer as loucuras cada vez mais violentas, dia a dia noticiadas? O que pode levar milhares jovens de ambos os sexos e das mais diversas nacionalidades a fugirem para estados onde até se pode matar em nome de Deus mas que nada têm a ver com a sua cultura, religião ou modo de vida? 

Não serão todas essas atrocidades sinais muito preocupantes para todo o mundo? Eu acho que são. E que só não os vê quem não quer...