Flores no quintal da vizinha Teresa que já cá não mora
Demasiados têm sido os momentos de despedida por estas paragens nos últimos tempos. A nossa rua, tal como outras infelizmente, vai ficando vazia de moradores. As casas sucedem-se umas às outras num sossego confrangedor. Restamos só já cinco moradores cá bem no cimo, divididos por apenas três lares e outros tantos ou poucos mais, ao fundo, no início da mesma.
Um silêncio aflitivo já se instalou por toda esta rua que é das mais antigas da minha Beirã. Silêncio que não é prenúncio de paz nem de harmonia ou de bom augúrio. É uma quietude que nos incomoda, que nos fere a alma e causa estranheza de tão evidente que é abandono que solidifica ao nosso redor.
É o alto preço daquele progresso que nos foi prometido.
Mas...
Que progresso se pode assim chamar quando traz consigo a extinção de lugares como a minha Beirã? De modos de vida que geravam trabalho e que ele matou? De laboriosas herdades cheias de vida votadas agora ao mais negro abandono? De milhões de hectares de terras cultivadas mas agora incultas e a encherem-se de mato?
E, não menos sério, o descrédito total num sistema corrupto que a esta situação nos conduziu.
Sei, porque o sinto, que não estará longe o dia em que irei embora para não mais cá voltar. E em boa verdade, anseio por ir. Não é este o mundo no qual nasci e fui tão feliz. Eu pertenço à aldeia repleta de vida de gente e bulício. Não a esta aldeia que o progresso matou. E culpo-o a ele por todo o silêncio, pelo abandono e por este vazio outrora tão cheio de vida e labor. Levou as pessoas e os seus empregos. Levou-nos também os nossos comboios. E até as lojas ele fechou. Só resta este nada que a pouco e pouco tudo contamina como praga daninha.
Por isso a Beirã já não é um lugar onde dê gosto viver. O silêncio que reina invade o nosso íntimo, afoga os nossos sonhos, sufoca a alegria. Haverá no futuro hipótese alguma de voltar de novo tudo o que nos foi tirado? Sei que não há. As flores da vizinha continua a florir desafiando o silêncio e a solidão. Mas eu não sou planta e não sei viver só de sol e de vento. Preciso ver gente. As lágrimas dos vizinhos que misturei com as minhas no dia que abalaram para a Santa Casa, não foram motivadas só pela despedida. Brotaram também porque o nosso mundo está a morrer muito antes de nós.
E não é natural que assim aconteça.
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