José Coelho - Jun'2020
Minha mãe, minha mãe! Ai que
saudade imensa
do tempo em que ajoelhava,
orando ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e
andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno
dos seus lares,
suspensos do beiral da casa
onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o
feno das eiras
dormia quieto e manso o
impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as
canções das ceifeiras,
e a lua branca, além, por
entre as oliveiras,
como a alma dum justo, ia em
triunfo ao Céu.
E, mãos postas, ao pé do
altar do teu regaço
vendo a lua subir, muda,
alumiando o espaço
eu balbuciava minha infantil
oração,
pedindo ao Deus que está no
azul do firmamento
que mandasse um alívio a cada
sofrimento,
que mandasse uma estrela a
cada escuridão.
Guerra Junqueiro