terça-feira, 12 de novembro de 2024

O melhor de dois mundos (republicação)

Foto - 11. 11. 2024

Gosto de me levantar com o sol porque tenho o privilégio de morar ao cimo da mais alta colina da aldeia e a minha casa concebida com mestria pelo meu pai permite que esteja simultaneamente dentro da povoação e no meio do campo. Explico porquê. As traseiras são voltadas para o nascente. A parede do quintal divide a minha propriedade de uma rústica paisagem com princípio na Tapada da Rabela e continua depois, tapada após tapada até à fronteira do rio Sever e Espanha adentro até à linha do horizonte lá muito, muito longe. Já no lado oposto, a frontaria da casa, voltada ao poente, confronta com a urbanizada Rua Fernando Namora, em absoluto contraste com o outro lado.

Assim, se saio pela porta da frente, fico no meio da aldeia. Se saio pela porta do quintal, estou no meio do campo. Para completar este cenário único, sou brindado cada manhã com a ímpar suavidade dos tons laranja que o sol projeta no céu a elevar-se por detrás dos penedos da Anta, para lá da Murta, acompanhado pelo musical dlim-dlom-dlem de melodiosos chocalhos e campainhas do gado que pastoreia pelos campos em redor da aldeia e que a essa hora parecem ainda mais melodiosos. Como se não fosse já suficientemente belo, há também o chilreio da passarada no arvoredo, enquanto um bando de rolas turcas todos os dias vem pousar na vedação do quintal à procura das migalhas do pão que vai nas toalhas de mesa que a dona da casa sacode sempre para a terra, ou também para matarem a sede a beber nos baldes de água fresca que diariamente para esse efeito coloco à sombra das árvores e da casa, durante todo o verão.

Não há dinheiro que pague estes momentos. Quando ouço falar de paz para aqui, paz para acolá, penso de mim para mim que tenho a sorte de conhecer e cumprimentar na primeira pessoa, diariamente, essa falada senhora. A dona Paz. Vive e reina por aqui em cada madrugada, em cada nascer e por do sol. Se quiserem conhecê-la basta virem até cá e deixarem que ela se instale no vosso coração, uma vez que não é visível aos nossos olhos e apenas conseguimos senti-la no nosso íntimo. Mas há outros lugares onde a podemos encontrar para além do meu quintal, da minha aldeia, dos bonitos campos cheios de boas lembranças e vestígios milenares por onde caminho com frequência. Por exemplo, no castelo de Marvão. Experimentem ir lá sem pressa e esperem pelo por do sol. Ficarão, posso assegurar-vos, absolutamente deslumbrados.

Passe a publicidade à Vila Medieval mais bonita de Portugal, vou voltar de novo para o melhor dos meus dois mundos que é o privilégio de viver no meio da aldeia e simultaneamente no meio do campo desde que nasci. Se das janelas do primeiro andar voltadas ao nascente me é permitido vislumbrar mais de metade da minha freguesia até à fronteira com Espanha assim como a sua paisagem de sonho, também das janelas voltadas ao poente e para o meio da aldeia a paisagem não é menos magnífica. Um cuidado laranjal mesmo em frente faz o outro lado da rua. Imaginem o perfume que dali se desprende no início da primavera. É algo único e indescritível. Sublime e envolvente o aroma que exala de milhares de alvas flores que se espalha por toda a rua e nos faz sentir no paraíso, pois se ele existe, só pode ser idêntico a isto.

Mas não só.

Mais uma casa a seguir à minha, e, poucos metros acima, o elegante lavadouro público ainda em plenas funções apesar de já pouco utilizado, porque o tempo foi levando as antigas lavadeiras e não voltou a trazer outras. É o último edifício do lado direito da "minha" Rua Fernando Namora que entronca a seguir na Avenida Doutor António de Matos Magalhães onde já não mora também quase ninguém, apesar de as casas continuarem muito cuidadas. Essa é a pior parte deste meu mundo de sonho. O sucessivo fecho de portas e janelas que não voltam a abrir-se diariamente, onde já nunca se vê qualquer luz à noite. 

Mas hoje não quero falar nisso. Num discurso oposto ao que escrevo normalmente sobre o quanto me dói a desertificação que reina por cá, prefiro hoje agarrar-me ao lado bom e deixar no vosso e no meu espírito quanto vale a pena – ainda – acordar cada manhã num lugar assim: Na minha casa e na minha Beirã...

José Coelho04.10.2017

Pode tardar mas não falha

Foto José Coelho

É verdade que o mundo é composto de mudança, que tudo muda e se transforma. Faz parte dos ciclos que naturalmente se sucedem na vida das pessoas e das coisas. O que me faz alguma confusão é a forma como certas pessoas se comportam porque nunca fui, não sou nem serei assim. Os meus bisavós, avós e pais, eram todos desta região luso-espanhola a que chamamos raia. Uns do concelho de Castelo de Vide, outros do concelho de Marvão e alguns, como a minha sogra assim como a maior parte da minha família materna, da vizinha Espanha.

A todos conheci sempre unidos, arreigados à família, respeitadores dos vínculos familiares até à quarta ou quinta geração – não é por acaso que por aqui somos quase todos parentes – fiéis aos seus princípios, usos e costumes. Praticavam entre eles e para com toda a gente em seu redor, as regras da mais límpida honradez, educação, trato, respeito e decoro, em tudo o que diziam e faziam. 

Para eles era mais valiosa a sua palavra dada, do que qualquer certidão de notário. Foi dentro desse contexto de valores e princípios que fui moldado e me fiz homem. Os meus pais e avós nunca tiveram uma vida fácil mas viveram sempre honradamente do seu trabalho sem nunca ficarem a dever nada a ninguém. Tinham a vida que podiam ter, davam-nos a vida que podiam dar, sem se importarem se a dos outros era melhor do que a deles. Foram, inquestionavelmente apesar da sua humilde condição social, as criaturas mais perfeitas que conheci na vida, a quem nunca vi um mau exemplo ou ouvi uma má palavra.

O respeito entre eles próprios, para com os filhos e netos, ou para com todas as outras pessoas à sua volta, foi sempre irrepreensível. Por isso, naturalmente, a pessoa que sou a eles devo, mais até do que à professora que me ensinou a ler e a escrever, dado serem essas as duas únicas coisas que nenhum deles podia fazer por serem analfabetos. Os valores e princípios que devem nortear a vida de cada pessoa não são matérias para se irem aprender à escola. Têm de se aprender em casa desde o berço.

Não será portanto por tais desajustados e pouco corretos comportamentos que irei alguma vez modificar a minha maneira de ser, de estar ou de me comportar, apesar do “vale tudo” que por aí anda espalhado como praga ruim. Cada pessoa sabe o que diz e faz, assim como também porque o diz e o faz. O tempo sempre foi e continuará a ser o melhor juiz de todo o bem e de todo o mal que fizermos na vida. Será ele e só ele quem irá colocar cada coisa no seu lugar. 

Pode tardar, mas não falha. Não tenho a menor dúvida.

Desengane-se quem o contrário pensar. Nas minhas mais de sete décadas de vida vi com os meus olhos a vida castigar quem fez mal devolvendo-lhe males maiores do aquele que essas pessoas tinham praticado, vi pessoas ricas e soberbas reduzidas à condição de quase não terem dinheiro para comer, vi filhos serem mais maltratados pelos seus filhos do que eles tinham maltratado os seus pais, vi palácios transformados num monte de ruínas.

A vida irá cobrar-nos tudo o que cada um de nós fizer. De bem ou de mal, sempre.

José Coelho

A vida trás, a vida leva...

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Dá trabalho mas eu gosto


Um dia de São Martinho diferente
Na montagem do portão automático da garagem os alisares e caixilhos exteriores ficaram sujos e cheios de dedadas, houve por isso que retocar tudo de novo e ainda pintar também o portão de ferro forjado do quintal, porque segundo os avisos da meteo vem aí chuva e frio, depois já não secaria como deve ser.
Dia duro mas proveitoso porque a Toca dos Coelhos está um brinco, de fato novo, como merece e eu gosto.
Até deu ainda também ao final da tarde para dar uma monda nos 26 pés de jindungo e nas roseiras novas plantadas em volta do quintal que me parece irão "pegar" todas, porque já têm "olhos" vermelho-vivo, sinal de que estarão a enraizar, caso contrário esses "olhos" estariam secos e escuros.
Foi uma "trabalhêra" das 10 às 17 que nem dei pelo passar das horas. Agora vou acender o lume da lareira e tomar aquele duche quentinho p'ra relaxar.
Inté....

sábado, 9 de novembro de 2024

Bom fim de semana


Faz o bem sem olhares a quem e sem esperares nada em troca.
Sorri mesmo nas dificuldades mas nunca te envergonhes das lágrimas quando necessitares de as derramar.
Sê humilde, generoso, ajuda e dá a mão a quem dela precisar.
Luta para vencer os obstáculos, nunca deixes que o cansaço te derrote nem que o desânimo ou o preconceito te dominem.
Defende os teus ideais e conquista amigos pelo que és, não pelo que eles querem que tu sejas.
Saber ganhar e saber perder é uma virtude rara, mas consegue-se.
A tua vida não é melhor nem pior do que a dos outros, por isso nunca te sintas maior ou menor que ninguém.
Mesmo ferido pela má conduta ou ingratidão de alguém, não percas a capacidade de amar, porque é no amor que mora a felicidade.

09. 11. 2024

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Entre a lógica e a razão


 

Não sendo uma pessoa solitária, gosto da solidão que me envolve de paz e harmonia e só encontro nos meus passeios pelos campos, ou quando me sento no alto de um cerro a observar o horizonte e o por do sol.  

Há tantos lugares de eleição por esta minha bonita freguesia!

Desde criança que os conheço. Até não há muito tempo visitava-os sozinho ou apenas acompanhado pelos meus cães. Agora menos e já sempre com a marida que passou à situação de reformada e gosta de caminhar comigo.

O decorrer dos anos torna-nos menos ágeis e não é de todo aconselhável embrenhar-se uma pessoa sozinha por esses ermos onde dantes passava gente por todo o lado, mas hoje não passa ninguém. Imperam o mato e o silêncio quebrados apenas pela fuga inopinada de algum javali, raposa ou saca-rabos quando pressentem a nossa proximidade.

Amo a minha terra. Por isso aqui reconstruí a casa em que nasci e onde tencionava passar o resto dos meus dias. Mas já não tenho hoje tanta certeza nisso. Sempre que me ausento uns dias, no regresso invade-me uma inevitável tristeza porque o lugar que amo já não é nem voltará a ser, o que eu queria que fosse para sempre.

O silêncio que outrora só se "ouvia" pelos campos, invadiu todas as ruas e vielas da aldeia. 

Num tom tão alto, que faz doer os ouvidos. 

E a alma.

Só não decidi ainda o que fazer.

Resignar-me e esperar mais dois ou três anos até ir para o lar onde com certeza vou terminar os meus dias e se, entretanto, a Vida não decidir algum fim prematuro como tem decidido para com tanta gente conhecida e amiga?

Ou revoltar-me, fazer as malas e ir embora de vez, viver os anos que me restarem noutro lugar e com outras condições? 

A opção primeira seria regressar a Nisa, a Vila onde vivemos oito maravilhosos anos com as melhores pessoas que conhecemos na nossa vida, ainda que, falando com pessoas Nisenses amigas do peito que não raramente encontramos por aí, elas se queixem do mesmo que nós.

- Também por lá, já nada é como era antes!

O abandono em massa do interior não afeta só a minha Beirã, é certo. Mas – acho eu – Nisa ainda tem alguma qualidade de vida. Superfícies comerciais, unidades de saúde, farmácias, jardins e um Cine-Teatro onde se desenvolvem atividades lúdicas ou de lazer, e, o melhor de tudo, gente boa, generosa e hospitaleira.

Já na Beirã, se a marida necessitar de um pacote de sal, ou de açúcar, lá temos de ir de automóvel comprá-lo a cinco, dez ou doze quilómetros. E o pão - do mal o menos - vêm os padeiros trazê-lo a nossa casa todos os dias. Até quando? Não sei. Provavelmente enquanto os clientes justificarem a sua deslocação. Mas quando eu deixar de ter aptidão para conduzir como faremos?

Difícil é decidir e resolver porque sempre que a lógica me sussurra ao ouvido "sai daqui Zé, há mais mundo", logo a razão se intromete e contrapõe "onde queres tu ir Zé, se o teu lugar no mundo é este?"

E assim o tempo tem ido passando monótono, nostálgico, cheio de incógnitas e sem o brilho da felicidade.

Reafirmo a terminar o que escrevi no primeiro parágrafo. Sem ser uma pessoa solitária, gosto da solidão. Porém, não era só da paz e do silêncio dos campos que eu necessitava. Também me fazia feliz o bulício da aldeia, as luzes acesas nas janelas das casas, o som das vozes e conversas das pessoas lá dentro, os gritos da gaiatada a correrem pelas ruas, o cheiro dos jantares ao lume, o fumo a sair das chaminés, enfim, todos esses indícios da gente boa que cá vivia, amigos, conhecidos, vizinhos e família querida.

José Coelho

Foto Pedro Coelho

Parabéns, Pai

António Maria Coelho 05.11.1910 / 23.01.1994
Descanse em paz

domingo, 3 de novembro de 2024

Fantástico mas soube a pouco

Foto José Coelho - 01. 11. 2024

Foto José Coelho - 03. 11. 2024

Feriado dos Santos seguido de fim de semana com as duas Pipocas!