Nem sempre o que deixa de existir deixa de estar. Às vezes, deixar de
existir é apenas outra forma de estar. É como a chuva. Ao parar de chover, a
chuva deixa de existir como chuva, mas a sua água infiltrou-se nos campos e regou
as flores e juntou-se ao leito dos rios como memória da chuva que um dia será
novamente. Nem sempre o que deixa de existir deixa de estar. O corpo das coisas
que habitam o mundo pode morrer e pode desaparecer da nossa vista, mas nunca
morrerá aquilo que nos habita e o coração não precisa de ver para crer. Deixar
de existir não é deixar de estar presente. Há coisas e pessoas que foram e que
nunca deixarão de ser. Mesmo que os seus passos deixem de se ouvir e que o seu
olhar deixe de cair sobre o nosso como a chuva quando chega o tempo de parar de
cair, já o som desses passos e a luz desse olhar se infiltraram em nós e somos
nós esse leito de que o nosso amor é feito. Não faz mal que a chuva deixe de
ser chuva quando permanece naquilo que regou.
lado.a.lado