quinta-feira, 21 de julho de 2022

Obrigado


Querida Família e Amizades

Só hoje consegui ler atentamente e vir agradecer a vossa amizade e carinho. Tantos familiares e amizades solidários connosco neste tão inesperado e inexplicável desgosto. Bem hajam todos. Foi um rude golpe, absolutamente imponderável porque nada indicava que ia acontecer.

Perdi mais uma das minhas âncoras na vida, a minha primeira e querida ama, o meu primeiro anjo da guarda, porque ela tinha apenas quatro anos quando eu nasci e a nossa mãe tantas vezes me deixou ao seu cuidado. Cuidou de mim naquele tempo com o mesmo amor com que cuidou depois do seu filho, quando anos mais tarde foi mãe.

E que mãe extremosa do seu "mnino". "O ma'mnino, ma'filho" como ela conseguia pronunciar depois de uma meningite lhe ter roubado o dom da fala e do ouvido. Fomos sempre amigos e cúmplices, bastando um simples olhar para nos entendermos. Estou destroçado e vou necessitar de tempo para me recompor.

A foto que ilustra este escrito diz mais sobre o seu amor por mim, do que todas as palavras de qualquer dicionário. Quando nos encontrávamos ocasionalmente em algum lugar público, fazia questão de logo anunciar a quem a acompanhava "é o ma'imão, gost'munt'nele".

Um dia, quando conseguir amenizar mais um pouco este doloroso sentimento de perda, vou contar a sua história de vida. Porque merece. E porque vou amá-la o resto dos meus dias, como a amei até aqui.

Que descanse em paz junto de já quase todas as nossas raízes, na mesma paz que ela própria sempre foi para quantos a conheciam.

José Coelho
21.07.2022