Foto José Coelho
Abrantes,
dezanove de outubro deste Ano da Graça de dois mil e dezanove numa jornada
de formação para revalidar o mandato trianual pessoal e intransmissível que visa
apoiar em duas tarefas específicas quando e se necessário os Párocos que nos indicaram
para esse efeito ao Senhor Bispo. De três em três anos lá vamos nós, um punhado
de paroquianos oriundos de todos os pontos da Diocese de Portalegre – Castelo
Branco, repartidos por três grupos em três dias, três datas e três pontos de
encontro.
Desde
2001 que frequento esta e outras formações que muito têm enriquecido os meus
conhecimentos sobre a Igreja e aprofundado a minha fé. Algumas no Seminário de
Portalegre, outras na Casa de Mem Soares – Castelo de Vide, outras no Seminário
de Alcains, também na Sertã e este ano em Abrantes. Para além da imprescindível
preparação são também dias de fraterno convívio e partilha entre participantes. A parte da manhã é dedicada especificamente ao tema que ali nos reúne e após o almoço são formados diversos grupos para debate e partilha das
experiências de cada um no desempenho das funções.
Cada participante revela as dificuldades com que se deparou e como as resolveu tendo em conta
que naqueles momentos não havia por perto nenhuma entidade a quem se pudesse pedir
apoio. Parecendo à partida uma tarefa muito simples não o é, requer não só conhecimentos como também elevada sensibilidade pela sua delicadeza e intrínseco valor. E há ainda que ter em conta a debilidade física das pessoas a quem
normalmente é levada. Temos sempre algo novo a aprender assim como temos sempre
algo para repartir. Ninguém sabe tudo, ninguém faz mais ou melhor
que ninguém e a humildade é comum a todos.
Este
ano, depois de mais uma manhã de formação e reflexão conjuntas, coube-me
fazer parte de um grupo com participantes de Nisa, Vila Velha de Ródão,
Abrantes e Arronches. Cada um de nós fez a sua apresentação pessoal completa e
referiu a paróquia a que pertencia bem como as tarefas que normalmente
desempenha na mesma em prol da comunidade e a sua convicção no desempenho das
mesmas. Falar de nós para um grupo de pessoas que não conhecemos de lado nenhum
não é fácil no princípio mas sucede quase sempre gerar-se nestas palestras uma
empatia tal que sem nos darmos conta estamos em pouco tempo todos a conversar como
se nos conhecêssemos de sempre.
De
tal modo assim sucedeu na passada segunda-feira que houve ocasião até de
repartirmos uns com os outros alguns problemas pessoais e familiares que embora
nada tendo a ver com o desempenho da missão que ali nos reuniu acabou por
despertar o interesse comum já que uma das pessoas que pôs sobre a mesa o seu problema estava bastante fragilizada. Não sei o que se passou no íntimo de cada
uma das outras pessoas do grupo à volta da mesa mas no meu gerou-se imediatamente uma incontível vontade de fazer alguma coisa que suavizasse um pouco aquele visível sofrimento.
Ouvi
sem interromper até que o desabafo terminou. E perante o profundo silêncio que
se instalou na sala quando a pessoa se calou, pedi licença para dizer também de minha justiça e relatei à mesa algumas peripécias iguais ou parecidas que me sucederam ao longo da vida assim como o quanto me tinham causado dúvidas
existências semelhantes às que acabara de ouvir. Sugeri-lhe que não baixasse
os braços, pois foi o que eu fiz. E que jamais deixasse de acreditar ou de lutar
pelas suas convicções. Parafraseando algo que li algures disse-lhe ainda que “perder
uma batalha não implica perder uma guerra”, muito menos quando sabemos que a
razão está do nosso lado. E
rematei:
- Em vez de desistir, de ficar sentado a chorar à beira do caminho com muita pena de mim mesmo, levantei-me decidido a enfrentar todos os obstáculos. E um a um os venci. Olhando hoje para trás quase me parece um sonho mas posso dizer bem alto: Consegui! E verá como a senhora vai conseguir também.
- Em vez de desistir, de ficar sentado a chorar à beira do caminho com muita pena de mim mesmo, levantei-me decidido a enfrentar todos os obstáculos. E um a um os venci. Olhando hoje para trás quase me parece um sonho mas posso dizer bem alto: Consegui! E verá como a senhora vai conseguir também.
O
tempo para reflexão dos diversos grupos havia entretanto terminado e chamaram-nos
para o encerramento da formação na biblioteca onde cada grupo apresentou as
dúvidas que haviam surgido, para, na medida do possível, serem dadas indicações
de como as resolver no futuro. No nosso grupo nada havia para esclarecer e
ficámos por isso todos em silêncio a ouvir os outros. A última actividade do dia
foi a participação na Eucaristia celebrada na capela existente no edifício onde nos encontrávamos.
Algumas das pessoas, por serem de perto, quiseram saír para irem tomar parte nas Eucaristias das suas comunidades, ficando ali apenas os participantes de mais longe como nós, de Marvão.
Preparava-me
para descer as escadas para a capela no rés-do-chão quando fui interpelado pela
senhora que havia desfiado a sua amargura na palestra de grupo dessa tarde e me quis dizer diante de todos os presentes:
-
Obrigado, José. Dê cá um beijinho. Não sabe o bem que me fizeram as suas
palavras…
Voltaremos
a ver-nos? Provavelmente não! Apesar desta formação se realizar em cada triénio os grupos são numerosos, os locais diversos e distantes uns dos outros, por isso raramente se juntam os mesmos participantes. Não pretendo de modo nenhum desvalorizar a importância da formação que frequentei mas, honestamente, este resultado valeu para mim muito mais do que todo o resto daquele dia que inesperadamente ganhei.
José
Coelho
21.10.19