Belize - Angola - 1973
Foi bandeira de Paulo Portas em tempo de eleições já lá vai tempo. "Coitados dos combatentes da guerra nas ex-colónias" e mais blá-blá-blá-blá porque éramos ainda um bom punhado de votos à época. Foi por isso pensa(pari)da uma compensação que pomposamente batizaram com o título de Acréscimo Vitalício de Pensão, extensivo a todos os ex-combatentes ou suas viúvas.
E como todos rejubilaram!
E vá de palmadinhas nas costas do candidato e pai do menino. Obrigado, obrigado. Assim é que é! E foi. E o que seria de todos nós, ex-combatentes, se não fosse o dito-cujo acréscimo a engrossar as nossas pensões. Eu por mim falo e cada um fale por si.
Incorporado em 1-5-71 no BC8 de Elvas, já com 10 meses de tarimba e especialista em transmissões fui mobilizado para Angola onde cheguei em 7-3-72 com destino ao Belize, no coração da floresta do Maiombe, Enclave de Cabinda, num período agudo do conflito armado que vitimou alguns camaradas meus.
Por lá permaneci 2 anos, 3 meses e 7 dias. Porém, como a Zona de Acção do Batalhão de Cavalaria 3871 era considerada 100% zona de guerra, o tempo de comissão foi bonificado também em 100%, o que me deu, para todos os efeitos legais, um total de 5 anos, 5 meses e 19 dias de tempo de serviço, somados também os 10 meses e alguns dias antes da mobilização.
É o que consta na minha folha de registos. Felizmente, ao contrário dos camaradas que lá perderam a vida, regressei a casa em Junho de 1974. Tive sorte. Mas muito do Zé que para lá foi, por lá ficou para sempre. E o mesmo sucedeu com todos os que comigo partilharam tantos meses de incerteza. Mas voltemos ao pomposo Acréscimo Vitalício de Pensão. De acordo com as decisões do governo eleito na altura, foram então atribuídos os respectivos montantes.
O embaraço de quem decidiu o valor a atribuir deve ter sido tão grande que, de mensal, como em princípio prometeram, passou a anual e a ser atribuído de uma só vez na sua totalidade, junto com a pensão de reforma do mês de Outubro. E de quanto é esse acréscimo? Uma brutidade! Que faríamos nós sem ele? A mim calharam-me… 7,79 € mensais. SETE EUROS E SETENTA E NOVE CÊNTIMOS por mês.
Então, para não parecer tão ridículo, vem todo junto em Outubro o que soma a já menos embaraçosa quantia de 109,08 €. Mas, há mais mas… Com o acréscimo desses 109,08 €, o escalão de descontos para o IRS nesse mês, passa dos normais 20,9%, para 22,4% e a incidirem sobre o montante total da pensão e não apenas na porcaria dos 109,08 €, o que origina um aumento nos descontos de mais 53 €.
Com um bocadinho de jeito, ainda me dava era prejuízo.
Contas feitas, recebo por ano 56,08 € líquidos de Acréscimo Vitalício de Pensão, o que, dividido pelas 14 mensalidades, dá, em números redondos, 4 € por mês.
Num país onde um político pode somar 10 000 € mensais de várias pensões a que tem direito, o que não discuto mas sublinho, onde um político com mais de três mandatos consecutivos - 12 anos como deputado - adquire direito a uma subvenção vitalícia na ordem dos milhares de euros que irá duplicar o seu valor mensal a partir do dia em que o beneficiário completar 60 anos, onde ainda alguns membros do governo moram em Lisboa mas mesmo assim recebem subsídios de alojamento além de outros subsídios para tudo e mais alguma coisa, isto é, sinceramente, gozar com o pagode.
- Toma lá sete euros por mês de AVP mas dá para cá três e meio para o IRS.
Ora f****se…
Só gostava de saber se os senhores governantes também descontam assim para o IRS, metade dos subsidiozorros que recebem, conforme eu os tenho de descontar do meu subsidiozinho. Pela parte que me toca, e repito que só por mim falo, bem podiam, em genuíno vernáculo alentejano, meter no cu a porra do Acréscimo Vitalício de Pensão.
Disse.
José Coelho
- 17Out’22