Auto-retrato em finais do ano 2019
Eis-nos
em 2020. Pela parte que me toca sem grandes euforias e sem grandes expectativas,
sendo a chegada do novo ano apenas mais um virar de página no livro da vida. Deixei há muito tempo de acreditar em milagres
e muito menos em promessas. Por isso, mais discurso menos discurso, mais palavra menos palavra, tudo me cheira e tresanda a banha-da-cobra, hipocrisia, segundas intenções
e segundos, terceiros, quartos, quintos, sextos, sétimos, “... ad infinitum …" interesses pessoais, políticos, comerciais e outros que tais.
2019
não foi um ano particularmente bom para nós, porque os últimos dias de 2018
fizeram o favor de pregar uma dolorosa partida à dona da casa que ao sofrer uma
aparatosa queda doméstica fraturou as vértebras L1 e L2 causando-lhe um
ano inteiro de dores intensas, consultas, exames, raios x, ecografias e até
análises ao sangue, todos eles inúteis tratamentos periféricos que nunca detetaram a gravidade da lesão, a qual só veio a ser diagnosticada nove meses depois em consulta
particular de Ortopedia no Hospital Lusíadas-Lisboa e onde apenas 15 minutos
bastaram para que uma TAC imediatamente realizada “retratasse” a preocupante
lesão. Já nada havia, porém, a fazer, para minimizar a situação.
Se houvesse sido detetada atempadamente nos primeiros três meses após a queda, teria sido
possível (ou talvez não, nunca saberemos) reconstruir as vértebras com uma
intervenção cirúrgica adequada. E muito sofrimento teria sido debelado porque a
lesionada chegou a andar de gatas por não conseguir caminhar de pé, tantas e
tão agudas eram as dores. Nove meses
depois, nem sequer uma infiltração de cimento ósseo foi já possível, apesar de
o impecável cirurgião-ortopedista ter equacionado essa hipótese para suprimir algumas
dores. Contudo, um segundo e mais completo exame através de ressonância
magnética, confirmou já não ser sequer também aconselhável essa intervenção, pois
nada iria já remediar.
É esta a saúde que temos em Portugal. Os governos - todos sem exceção seja qual for
o emblema que usam na lapela dos casacos - só se preocupam com o défice. Cortes
daqui - TACs então, nem pensar - cortes dacolá, só não cortam nas suas mordomias porque é com elas que ganham mais que o
suficiente para não terem que utilizar os hospitais públicos para cuidarem da sua rica saúde. Porém, com tantos
cortes a provocarem uma mais que deficiente assistência a todos os níveis hospitalares, as pessoas em vez de lá se curarem morrem de infeções bacterianas, ou
nos exagerados tempos de espera sobre as macas dos corredores das urgências e salas de espera, ou até mesmo em suas casas enquanto aguardam pela sua vez para as consultas das especialidades que, se fossem realizadas a tempo e horas, lhes teriam provavelmente salvo a vida.
Ah! Mas o défice, essa mítica caixa de pandora das contas públicas, salvou-se.
E o Novo Banco também...
Portugueses há muitos, seus palermas.
Défices é que só há um.
E Novo Banco idem idem, aspas aspas (por enquanto, o diabo seja surdo).
Ah! Mas o défice, essa mítica caixa de pandora das contas públicas, salvou-se.
E o Novo Banco também...
Portugueses há muitos, seus palermas.
Défices é que só há um.
E Novo Banco idem idem, aspas aspas (por enquanto, o diabo seja surdo).
Saúde, Paz, Amor, declamam com comedida beatitude, os “Boss's” de todas as chafaricas públicas ou privadas, nas suas
natalinas mensagens.
Mas aos meus ouvidos, chega assim:
-
Bláblábláblá…
Mais considerações, para quê?
Todos
sabemos o que se passa e o que tem sido feito por muitos daqueles que deveriam ser exemplo.
Por
essas e por outras, a época festiva que está prestes a terminar há muito que para
mim deixou de ter a importância que tinha outrora. Guardo dela as mais doces memórias mas já não lhe dou o valor que antes dava. Além disso, na nossa família, fazemos
natal muitas vezes no ano pois sempre que possível confraternizamos para
desfrutarmos em pleno a companhia uns dos outros. De modo geral entendemos que o natal (amor fraterno) deve ser praticado todos os dias. Por isso também, querer-mo-nos
bem e sermos amigos uns dos outros, deve ser praticado minuto a minuto, enquanto por cá andamos.
Depois…
Bem, depois, ficam as tais doces e indeléveis lembranças.
E também a consciência tranquila.
Ainda
assim e apesar da minha relutância em acreditar nas boas intenções de meio mundo,
respeito quem nelas acredita ou com elas se sente feliz.
Que
cada um de vós, Familia e Amizades, consiga alcançar os seus objectivos sejam
eles quais forem, neste novo ano que ontem começou.
José
Coelho
02.01.20