quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Nova página...

Auto-retrato em finais do ano 2019

Eis-nos em 2020. Pela parte que me toca sem grandes euforias e sem grandes expectativas, sendo a chegada do novo ano apenas mais um virar de página no livro da vida.  Deixei há muito tempo de acreditar em milagres e muito menos em promessas. Por isso, mais discurso menos discurso, mais palavra menos palavra, tudo me cheira e tresanda a banha-da-cobra, hipocrisia, segundas intenções e segundos, terceiros, quartos, quintos, sextos, sétimos, “... ad infinitum …" interesses pessoais, políticos, comerciais e outros que tais.

2019 não foi um ano particularmente bom para nós, porque os últimos dias de 2018 fizeram o favor de pregar uma dolorosa partida à dona da casa que ao sofrer uma aparatosa queda doméstica fraturou as vértebras L1 e L2 causando-lhe um ano inteiro de dores intensas, consultas, exames, raios x, ecografias e até análises ao sangue, todos eles inúteis tratamentos periféricos que nunca detetaram a gravidade da lesão, a qual só veio a ser diagnosticada nove meses depois em consulta particular de Ortopedia no Hospital Lusíadas-Lisboa e onde apenas 15 minutos bastaram para que uma TAC imediatamente realizada “retratasse” a preocupante lesão. Já nada havia, porém, a fazer, para minimizar a situação.

Se houvesse sido detetada atempadamente nos primeiros três meses após a queda, teria sido possível (ou talvez não, nunca saberemos) reconstruir as vértebras com uma intervenção cirúrgica adequada. E muito sofrimento teria sido debelado porque a lesionada chegou a andar de gatas por não conseguir caminhar de pé, tantas e tão agudas eram as dores.  Nove meses depois, nem sequer uma infiltração de cimento ósseo foi já possível, apesar de o impecável cirurgião-ortopedista ter equacionado essa hipótese para suprimir algumas dores. Contudo, um segundo e mais completo exame através de ressonância magnética, confirmou já não ser sequer também aconselhável essa intervenção, pois nada iria já remediar.

É esta a saúde que temos em Portugal. Os governos - todos sem exceção seja qual for o emblema que usam na lapela dos casacos - só se preocupam com o défice. Cortes daqui - TACs então, nem pensar - cortes dacolá, só não cortam nas suas mordomias porque é com elas que ganham mais que o suficiente para não terem que utilizar os hospitais públicos para cuidarem da sua rica saúde. Porém, com tantos cortes a provocarem uma mais que deficiente assistência a todos os níveis hospitalares, as pessoas em vez de lá se curarem morrem de infeções bacterianas, ou nos exagerados tempos de espera  sobre as macas dos corredores das urgências e salas de espera, ou até mesmo em suas casas enquanto aguardam pela sua vez para as consultas das especialidades que, se fossem realizadas a tempo e horas, lhes teriam provavelmente salvo a vida. 

Ah! Mas o défice, essa mítica caixa de pandora das contas públicas, salvou-se.
E o Novo Banco também... 
Portugueses há muitos, seus palermas. 
Défices é que só há um. 
E Novo Banco idem idem, aspas aspas (por enquanto, o diabo seja surdo).

Saúde, Paz, Amor, declamam com comedida beatitude, os “Boss's” de todas as chafaricas públicas ou privadas, nas suas natalinas mensagens.

Mas aos meus ouvidos, chega assim:

- Bláblábláblá

Mais considerações, para quê?

Todos sabemos o que se passa e o que tem sido feito por muitos daqueles que deveriam ser exemplo.

Por essas e por outras, a época festiva que está prestes a terminar há muito que para mim deixou de ter a importância que tinha outrora. Guardo dela as mais doces memórias mas já não lhe dou o valor que antes dava. Além disso, na nossa família, fazemos natal muitas vezes no ano pois sempre que possível confraternizamos para desfrutarmos em pleno a companhia uns dos outros. De modo geral entendemos que o natal (amor fraterno) deve ser praticado todos os dias. Por isso também, querer-mo-nos bem e sermos amigos uns dos outros, deve ser praticado minuto a minuto, enquanto por cá andamos.

Depois…

Bem, depois, ficam as tais doces e indeléveis lembranças.

E também a consciência tranquila.

Ainda assim e apesar da minha relutância em acreditar nas boas intenções de meio mundo, respeito quem nelas acredita ou com elas se sente feliz.

Que cada um de vós, Familia e Amizades, consiga alcançar os seus objectivos sejam eles quais forem, neste novo ano que ontem começou.

José Coelho
02.01.20