sexta-feira, 22 de abril de 2022

Abril mete a mãe no covil

Foto José Coelho



A semana que está prestes a terminar amanheceu chuvosa, ventosa e fria, a aconselhar lareira acesa, manta e sofá. Se possível e para maior conforto ainda, uma boa leitura na companhia de um chá ou um belo cacau quente. Na Toca já não acendemos a lareira há mais de um mês, mas temos outras formas de nos sentirmos confortáveis.

Em boa verdade lembro-me de muitos mais abris com estas tarequices metereológicas por ser o mês do São Marcos – dia 25 – que antigamente era a maior romaria do concelho de Marvão. Até dizíamos por aqui em jeito de provérbio:  

- Vem aí o S. Marcos e ele gosta tanto d’água!

Grandes molhas apanhávamos à ida ou no regresso uma vez que o percurso era normalmente feito a pé, morassem os romeiros na Atalaia ou no Pereiro, no Matinho ou nas Amendoeiras, não havia chuva que fizesse ficar alguém em casa. Qual quê. Uma molha no S. Marcos era tão normal como a própria festa.

Foi também por esta altura do ano de 1964 que fui parar ao Monte dos Pavios para ser ajudante do pastor ti João Barrancos, um malagou da Póva na Casa Agrícola do ti Zé Bonacho nos confins do Cabeço de Seis – o nome correto é Cabeço do Seixo mas como é mais fácil pronunciar “seis” do que “seixo” toda a gente troca o nome.

Malagou da Póva é uma alcunha que é dada desde tempos remotos aos naturais de Póvoa e Meadas e não visa nunca ofender ninguém, muito pelo contrário. Tenho alguns bons e velhos amigos naquela simpática aldeia que se apelidam a si mesmos de malagous com grande e honrado bairrismo.

Mas dizia eu que foi por esta altura fria e chuvosa do ano que fui parar àquelas "limpas" quando era ainda um zagal novito e nunca mais esqueci as molhas e os frios que apanhei na primeira vez que saí de debaixo das saias da minha mãe por ter sido contratado justo ao mês pelo referido lavrador que era rendeiro da Dona Alice naquele fim de mundo onde trabalhavam todo o ano uma dúzia de ganhões, desde os guardadores dos gados  como eu, aos outros que lavravam, semeavam ou ceifavam, consoante a época.

Foi também no mês de Abril de 1987 que sendo eu já graduado da minha profissão e a dar instrução aos novos candidatos em Portalegre, a formatura diária das 14 horas não pôde realizar-se por estar a nevar copiosamente àquela hora. A parada do quartel e os telhados da cidade ficaram todos branquinhos em questão de poucos minutos. 

Quer isto dizer que, apesar de já não estarmos no inverno, o tempo incerto de chuva e frio em Abril não é de todo grande novidade. Animem-se pois, agasalhem-se, tentem encontrar a melhor forma de se sentirem confortáveis serenos e felizes, e, se não for pedir  já demasiado, tenham um excelente fim de semana prolongado…

José Coelho