segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

FELIZ ANO NOVO


O ano de 2024 está a chegar ao fim. É por isso tempo de celebrar, de refletir e recomeçar mais uma vez. Dele guardemos apenas o que foi positivo nas nossas vidas e tentemos, ainda que seja difícil, esquecer o menos bom.

De algum sofrimento que possa ter-nos causado, fique apenas a certeza de havermos conseguido superá-lo. E dos erros que tivermos cometido fique a convicção que alguma coisa com eles aprendemos.
Das inevitáveis dificuldades quotidianas fique só a lembrança do feliz momento em que conseguimos vencê-las. Sintamos gratidão por mais um ano de vida apesar de tudo o que tenha acontecido, porque importante mesmo foi que nos tornou mais resistentes, mais experientes e mais sábios.
É tempo agora de encher os nossos corações de otimismo e esperança, assim como de renovar sonhos e projetos para o novo ano que está a chegar. Saibamos aproveitar cada dia, cada hora, cada minuto e cada segundo.
Para toda a nossa Família e Amizades, assim como a quem não é nem uma coisa nem outra, desejamos um Feliz e Próspero Ano de 2025. Cuidem-se, mimem-se, façam tudo o que puderem e estiver ao vosso alcance para serem felizes.
Boas Festas
e Maria Coelho

Foto Francisca Coelho

E a gente merece...


 Tarde fria, a sugerir o aconchego da lareira. Tá-se bem...
Vídeo José Coelho com Maria Coelho

Tchau 2024, olá 2025


Outro ano se despede, carregando consigo as marcas das nossas conquistas e quedas. Traz a sensação de dever cumprido para alguns e para outros o eco de tentativas que não chegaram ao destino esperado. Vivemos vitórias que aqueceram o coração e despedidas que o feriram profundamente. Ganhamos novos começos e dissemos adeus a quem foi um tesouro insubstituível.

A vida, na sua essência, nunca prometeu ser fácil. Ela flui, implacável e bela, sem chance de refazer o que ficou para trás. Mas é exatamente nesse fluxo, entre acertos e tropeços, que crescemos. É ali que nos tornamos mais fortes, mesmo quando o coração sangra.

O importante é continuar. Avançar, mesmo no meio das tempestades e florescer onde houver luz. Assim nos despedimos deste ano, com gratidão pelas lições e coragem para o que está por vir. O futuro acena-nos, misterioso e cheio de promessas. Que ele trará ele? Não sabemos. Mas seguimos confiantes, porque, no fim, o que importa é viver.

Giovana Schneider

Imagem da net

domingo, 29 de dezembro de 2024

Venham daí...


Concerto de Reis a seguir à Eucaristia Vespertina de 04 de janeiro de 2025 na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo da Beirã pelo Grupo Vocal CAEP Voices do Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre.

Créditos de imagem:
CV/ CAEP

sábado, 28 de dezembro de 2024

Este Deus Menino tem 81 anos


O Deus Menino que os Beiranenses saúdam com um beijinho ou com um simples inclinar de cabeça todos os Natais na Igreja da Beirã, desde 1943.

Foto José Coelho 

*28. 12. 2024* — em Beirã.

Eucaristia Vespertina da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, hoje pelas 18:00 horas.

28. 12. 2024

Bom Fim de Semana


O último Fim de Semana de 2024 celebra a Festa da Sagrada Família de Nazaré, Jesus, Maria e José.
Imagem da Sagrada Família da Toca dos Coelhos 
Foto José Coelho

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

De um dos meus escritores favoritos

Foto arquivo pessoal José Coelho

Pai não ajuda. Pai não auxilia a mãe. Pai não é herói por cuidar do filho, por mudar fraldas, por dar a sopa. Pai não é excepcional porque se dedica ao filho, porque coloca o filho no topo das prioridades, à frente, bem à frente, de tudo o resto. Pai não merece aplausos porque está com o filho, não merece que lhe façam vénias porque se entrega ao filho, porque conhece o filho, porque brinca com o filho, conversa com o filho, limpa e arruma a casa depois de o filho brincar, e antes também, porque o vai levar ou buscar à escola, porque lhe dá o biberão. Pai não é um fora-de-série sempre que é pai. Pai é pai. E pai tem de ser isso tudo. Pai é isso tudo. E não faz nada de extraordinário, só faz o extraordinário maior que é ser pai. Tem de agradecer o privilégio que tem, a magia que tem, a vida que de repente está unida à sua. Pai é pai. Pode cansar às vezes, desgastar às vezes, parecer uma montanha difícil de escalar às vezes. Mas pai é pai. E não conheço nada melhor do que ser pai. Obrigado.

Pedro Chagas Freitas
A RARIDADE DAS COISAS BANAIS

"Ditosos os que temem o Senhor (M. Luís)"

SALMO RESPONSORIAL DA FESTA  DA SAGRADA FAMÍLIA

BOAS FESTAS

O Natal já foi. Que venha o Ano Novo!
Foto Pedro Coelho

domingo, 22 de dezembro de 2024

Feliz Natal


Que o brilho deste Natal esteja mais no olhar das pessoas do que na iluminação das ruas. Que ele traga muitos presentes mas daqueles que não estão à venda nem se embrulham, porque não têm preço. Que o espírito natalício proporcione a toda a minha Família e Amizades momentos inesquecíveis, abraços calorosos, reencontros sonhados e sorrisos sinceros.

Foto José Coelho
22. 12. 2024 *

Para memória futura

O Presépio que nesta quadra festiva há 80 anos é exposto na Igreja Paroquial da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, como provavelmente alguns Beiranenses da minha geração ainda o devem recordar. Dele só já restam as três figuras principais. A Virgem Maria, o Menino e S. José, que continuam ainda lá. Apesar de todos os cuidados que sempre mereceram, as figuras mais pequenas foram-se quebrando e deteriorando ao longo das já muitas décadas de montagem e desmontagem dos presépios. Deixo esta imagem, para memória futura de quem a queira guardar.
Foto Pedro Coelho - Natal de 2012 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Bom Natal e Ano Novo a quem elege passá-los só

Foto Pedro Coelho em 24. 12. 2022
(O Deus Menino da Igreja da Beirã, desde1943)


Nem todos querem multidões. Nem todos precisam de um abraço à meia-noite ou de uma mesa cheia para fazer sentido. Há quem prefira o silêncio ao ruído das expectativas alheias.
Quem fica sozinho nas noites de 24 e 31 não é triste; é livre. A liberdade, às vezes, é não precisar explicar por que preferes ouvir o estalar do aquecedor ao barulho do champanhe.
Nem todos têm a mesa cheia, os brindes ruidosos, o calor que os filmes prometem. Talvez nem todos queiram. A luz do frigorífico pode ser mais honesta do que velas num jantar forçado. O silêncio não mente.
O problema nunca é estar sozinho. O problema é carregar o peso do que outros esperam. A solidão não é um crime; o crime é fingir que precisas de companhia.
Os que dizem que estar sozinho é fracasso nunca encararam o silêncio. O silêncio é o mais honesto dos juízes. É ele que diz sempre a verdade.
Podes estar só e, mesmo assim, estar em paz.
Não precisas de ninguém para contar até zero. A solidão nunca foi o inimigo. Só um lugar onde, enfim, te podes encontrar. 

Pedro Chagas Freitas
A RARIDADE DAS COISAS BANAIS

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

BOAS FESTAS


 À nossa Família e Amizades desejamos um Bom Natal, saúde e paz.

- 18. 12. 2024

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Os Meus Contos Preferidos de Natal


O Presépio

Havia quase um ano que estava na loja, mercearia num bairro escuro, em que mal entrava de esguelha, como espreitando a medo, um raio de sol, entre as casarias muito altas da rua tortuosa.
Com doze anos, que saudades tinha da aldeia, da família, dos antigos companheiros de escola, dos cães amigos que ladravam de noite a vigiar a casa! Tudo lá tão longe! Ah! Se ele soubesse!... Pois nem uma lágrima lhe viera anuviar o último adeus, quando a diligência dera volta na estrada e ele vira sumirem-se os choupos da ribeira e o lenço que mão saudosa sacudia no alto do cabeço.
É que o deslumbrava a ideia de Lisboa, de que tantas maravilhas grandes lhe contavam. Ainda agora partia, e já se via de volta na aldeia, de relógio e cadeia de ouro, a falar de alto, a puxar o bigode, a dar enchente, como o Januário, que lhe arranjara o lugar. Com o seu examezinho de instrução primária, marçano de uma tenda... Não, que os pais não o queriam para cavador.
Tinham sido consultados o mestre-escola, o prior, o senhor Freitas, lavrador muito importante que arrastava tudo nas eleições, o Custódio, velhote de muito bom conselho, e todos se tinham mostrado de acordo: não havia como Lisboa para fazer um homem. Era ver o Januário que tinha casado com a viúva do patrão. A loja era de um cunhado dele, bom homem, áspero mas bom homem.
Os olhos baixos do Manuelzito, fitos no chão, viam no tijolo resplandecer auréolas, que giravam como o fogo de vistas pelas festas. Ah estava, havia quase um ano; e no desvão da escada, onde às dez horas o mandavam deitar, a morrer de calor no Verão, no Inverno a morrer de frio, punha-se a rever os campos e a casa deixados sem as lágrimas, que lhe corriam agora em grossos fios pelas faces.
Os primeiros dias tinham passado muito lentos. A conselho do Januário, um biscoito ou outro da mão papuda e oleosa do merceeiro tinham-no ajudado na tarefa. Assim é que ele havia de ser homem, um dia. Mas o patrão mostrava maior pressa. Pai, mãe e mestre-escola nunca lhe tinham batido. Atreveu-se uma vez a declará-lo. Foi pior.
Chegou o Verão. As festas de São João e São Pedro aumentaram-lhe a tristeza. Reviu nesses dias mais intensamente a alegria da aldeia, os bailes à noite em volta da fogueira, a ida à fonte pela manhã, o sino a tocar à missa, e ele a pensar que, quando fosse crescido, havia de ter uma namorada por quem queimasse uma alcachofra, a quem cantasse umas quadras falando de estrelas e de flores.
A bulha nas ruas, nessas noites, não o deixara dormir. Cada bomba era uma pancada no coração. Um sol-e-dó que passou tocando arrancou-lhe lágrimas de imensa saudade. Pelos Santos, com a melancolia do tempo, ainda foi pior. Depois veio o Inverno, começaram os dias de chuva. O mau tempo irritava o patrão, porque lhe afugentava fregueses.
Na loja, com recantos muito negros, acendiam-se muito cedo os candeeiros, e o Manuelzito tinha pena da sombra em que se acolhia com maior amor. Pasmava os olhos, fugia com o pensamento para muito longe.
— Acorda, ralaço! — gritava-lhe o patrão.
Estava a chegar o Natal. Que lindo era o Natal lá na aldeia! Andavam na rua a abrir um cano; quase ninguém ali passava; os passeios eram cheios de lama. O patrão andava furioso.
Então o pequeno teve uma ideia. Lembrou-se de fazer muito misteriosamente um presépio.
O segredo em que havia de trabalhar mais o animava na tarefa. Todos os dias, muito a medo, enquanto o patrão almoçava ou saía da loja algum instante, vinha à porta, se não havia freguês a servir, espreitava, corria, apanhava um nadinha de barro nas escavações do cano. Escondia-o, e debaixo do balcão, quase às apalpadelas, ia fazendo as figurinhas.
Assim modelou o menino Jesus, que deitou num berço de caixa de fósforos, Nossa Senhora de mãos postas, São José de grandes barbas, os três Reis Magos a cavalo, e os pastores, um a tocar gaita de foles, outro com um cordeirinho às costas, e uma mulher com uma bilha. Não se pareceriam lá muito; mas ele deu provas de que sabia puxar pela imaginação.
Sempre lhe faltava alguma coisa. Havia problemas difíceis de resolver. Um dia, engraxando as botas do patrão, lembrou-se de engraxar um dos reis, e pôs-lhe depois umas bolinhas brancas, de papel a fingir os olhos. Aos anjos fez asas com as penas de uma galinha que depenou para um jantar de festa que não comeu. Moeu vidro para fingir as águas do rio, e no papel de embrulho recortou um moinho que só havia de armar à última hora.
Levou nisso parte de Novembro e Dezembro todo, até ao Natal. Escondia os materiais debaixo da enxerga e, de vez em quando, revia-se na obra. O que mais o encantava era o menino Jesus, com a cabeça do tamanho de um grão de milho, com buraquinhos a fingirem olhos, ouvidos, nariz e boca. Tinha mãos com cinco dedos riscados a canivete e dois pezinhos que ele achava um encanto. Com tiras de papel azul havia de fazer o céu e, como o não tinha dourado onde recortasse a estrela, fez em papel branco uma meia Lua; vinha quase a dar na mesma.
Aquele mês passou correndo. Era a véspera do Natal. As dez e meia, o patrão mandou-o deitar e saiu. Que alegria estar só! Não lhe deixavam luz; mas que importava? Às escuras armaria o presépio. E logo começou. Enrolou o moinho, pôs-lhe as velas; esticou o papel azul que fingia o céu e pregou nele com um alfinete a meia Lua; espalhou o vidro moído, num S em volta das palhas; dispôs as figurinhas, suspendeu os anjos.
Depois fez uma carreira de fósforos de cera, que todos se tinham de acender ao mesmo tempo, num deslumbramento, quando desse meia noite.
Deram onze e três quartos. Ajoelhou. Batia-lhe o coração, que lhe parecia que deviam de ser milagrosas as figurinhas, que delas lhe viria algum bem, consolação da sua vida triste. Que seria quando ele iluminasse o desvão da escada e os santinhos se pusessem todos a luzir quase tanto como os verdadeiros?
Rezava-lhes... Rezava-lhes...
Àquela hora, lá na aldeia, tocavam os sinos alegres e iam ranchos contentes a caminho da igreja. Lá dentro reluzia o trono, e o sacristão muito atarefado ia, vinha... Meia noite! Acendeu os fósforos e ficou embasbacado! Nunca assim vira coisa tão perfeita. Os anjos voavam deveras, os cavalos dos reis galopavam, o rio corria, as velas giravam no moinho e os pontinhos do Menino Jesus sorriam-lhe no rosto a São José e a Nossa Senhora! Pôs-se a cantar, como lá na aldeia: Andava nessas campinas, Esta noite, um querubim.
Tão enlevado cantava, que nem ouviu o patrão abrir a porta, entrar na loja, chegar ao desvão. Acordou-o do êxtase um pontapé.
— Isso... Agora larga-me fogo à escada!... Varre-me já esse lixo! E ele, a chorar, levantou-se, foi buscar a vassoura. O bruto continuava aos pontapés.
— Vá?... Vá! Mas quando se deitou, encontrou na enxerga uma figurinha. Apalpou-a, conheceu-a logo: era a do Menino Jesus. Beijou-a muito. Pior vida levara do que ele... Sentiu de repente um dó muito grande do patrão, que não vira nada, nem que era tão bonito aquele Menino, com um olhar tão meigo nos seus olhinhos.
D. João da Câmara

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Aceitar, desacelerar e lembrar sem se perder


Não é fácil envelhecer. É um processo de aprender a desacelerar os passos e, ao mesmo tempo, aceitar a despedida do que foste para abraçar quem te tornaste.

Envelhecer exige coragem para encarar o novo rosto refletido no espelho, vestir o corpo transformado com dignidade e deixar para trás a vergonha, o preconceito e os medos que inevitavelmente os anos trazem.
É preciso compreender que a vida segue o seu curso, deixar ir aqueles que precisarem partir e acolher os que escolherem permanecer. É um exercício de desapego, mas também de força.
Envelhecer é aprender a caminhar só, despertar em silêncio e resistir ao peso das manhãs, enfrentando o homem ou a mulher que te olha do outro lado do espelho.
É aceitar que tudo tem um fim — os sonhos, os amores e, um dia, a própria vida.
É preciso saber dizer adeus sem se quebrar, lembrar sem se perder e chorar até que as lágrimas abram espaço para novos sorrisos, novos desejos, outras pequenas alegrias.
Não, não é fácil envelhecer.
Mas, em cada cicatriz e em cada memória, reside a prova de uma vida vivida com intensidade, coragem e humanidade.

Autor desconhecido

- 11. 12. 2024

Doces memórias


No mesmo sítio desta sala da minha casa, existia uma lareira alentejana na cozinha dos meus pais, onde me criei. Por isso quando agora me sento aqui a olhar para a dança das labaredas e a ouvir o estalar da lenha a arder, facilmente as memórias mais doces vêm ao meu encontro para me confortarem e apaziguarem a saudade daquele que foi sem dúvida alguma o tempo mais feliz da minha vida...
- 16. 12. 2024

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Muito Boas Memórias


Tal como aconteceu à minha aldeia, também a minha casa se foi esvaziando de entes queridos. Uns que voaram do ninho, outros que foram viver para longe, outros ainda que terminaram o seu percurso terreno. E por cá ficámos só os dois Cotas rodeados de muito boas memórias. É a vida, mas é também esta a época em que as ausências mais se sentem...

Foto José Coelho

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Em modo celebração



Parabéns, marida. Foi mesmo um excelente dia a dois. Que venham ainda mais alguns para celebrarmos juntos...

- 11. 12. 2024

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

domingo, 8 de dezembro de 2024

Lar é...


Lar é onde se acende o lume e se partilha mesa e onde se dorme à noite o sono da infância.
Lar é onde se encontra a luz acesa quando se chega tarde.
Lar é onde os pequenos ruídos nos confortam: um estalar de madeiras, um ranger de degraus, um sussurrar de cortinas.
Lar é onde não se discute a posição dos quadros, como se eles ali estivessem desde o princípio dos tempos.
Lar é onde a ponta desfiada do tapete, a mancha de humidade no tecto, o pequeno defeito no caixilho, são imutáveis como uma assinatura conhecida.
Lar é onde os objetos têm vida própria e as paredes nos contam histórias.
Lar é onde cheira a bolos, a canela, a caramelo.
Lar é onde nos amam.
Rosa Lobato de Faria

Vídeo José Coelho

Mulher, Amiga, Companheira

No casamento de um sobrinho do qual fomos padrinhos


Assim que fechei a porta da minha casa atrás das costas desatei num pranto incontrolável e profundo. Chorei como nunca me lembro de ter chorado até àquele dia. Chorei pela injusta e maldosa falsidade acabada de acontecer. Chorei por todos os enxovalhos que até ali sofrera desde a hora em que pus os pés na Guarda Republicana e chorei de indignação por nunca mais me ver livre de tantas e tão injustas agressões verbais.

Suportara melhor ou mais mal todas as calúnias por serem falsas, concebidas apenas por má fé e sem o menor fundamento. Mas chamarem-me desonesto? Afirmarem que eu era capaz de “engendrar” um golpe sujo para ficar com… quinhentos escudos?

Não, mas não mesmo!

Doía mais que uma unha arrancada e eu não ia consenti-lo, nem pintado. Tinha que tirar aquilo a limpo. Aquele assunto tinha que ser muito bem esclarecido e muito bem resolvido cara a cara para que não restasse qualquer hipótese de dúvida acerca da minha honestidade e integridade de carácter. Nem que para isso tivesse que partir as ventas ao “inteligente” camarada que fora capaz de inventar tamanha sacanice…

Porque, diz o povo, quem cala consente.

Não podendo imaginar nem pouco mais ou menos, o que de tão grave pudesse ter sucedido, a minha companheira ficou obviamente muitíssimo alarmada ao ver-me assim. Por isso e para não a assustar mais, quer a ela, quer aos miúdos, tentei acalmar-me o suficiente para lhe dizer que não havia nada de mal com a nossa gente e que já lhe contaria tudo, conforme um pouco mais tarde aconteceu.

Depois de adormecerem os filhos, seguiu-se uma longa noite de vigília a dois, enquanto ao nosso lado os dois pequenitos descansavam tranquilamente no seu soninho inocente.

Incapaz de conter novamente um pranto deveras sentido à medida que ia avançando na minha narrativa, provocado mais pela raiva de tantas injustiças sucessivamente cometidas do que propriamente pelos vexames sofridos, foi ali e pela primeira vez desde que ingressara na Guarda que contei em pormenor à minha companheira o inferno que havia sido todo meu o alistamento em Portalegre. E expliquei-lhe que tinha guardado tudo isso apenas para mim por amor a eles, mas sobretudo para lhe evitar a ela desgostos e preocupações não só pelo enorme empenho que ela tinha em me ver lá, como ainda também pela felicidade que isso manifestamente lhe causara.

Depois e para terminar expliquei-lhe o caso do porta moedas com mil escudos perdido naquele dia no mercado pela nossa prima Fernanda e um camarada tinha cobardemente alvitrado que fora tudo combinado com a prima para ela me dar depois metade. Fora essa a gota d’água a fazer ruir o dique das minhas forças e emoções, incapaz de suportar mais heresias. E que no dia seguinte tencionava esclarecer muito bem aquela calúnia nem que fosse à cacetada, porque não admitia nem pintado a filho de puta nenhum que me acusasse de ser desonesto.

Nessa tormentosa noite, tive a maior prova da grande senhora que é a minha, a doce mãe dos meus filhos, a companheira discreta e portadora da maior simplicidade, mas capaz de se dispor a fazer o que quer que  fosse para me ajudar a ser feliz ao seu lado. Abraçada a mim, acariciando-me com a mesma meiguice com que muitas vezes a vi acariciar os nossos filhos, repetia carinhosamente para me sossegar, quando eu desatava de novo em pranto:

- Não chores mais que a gente vai resolver isso…

Quando finalmente consegui sossegar, senti-me de facto melhor, invadido por um enorme alívio interior. Com o seu braço sobre mim, a minha companheira ficou um bom bocado em silêncio a pensar só para si. 

Por fim foi a sua vez de falar e a minha de a escutar. 

E que bom foi ouvir tudo aquilo que ela foi capaz de me dizer a seguir.

Começou por me afirmar que sim, que era verdade que se sentira muito feliz por eu ter ingressado na guarda. Pelo futuro dos nossos filhos, pela nossa estabilidade como família, mas principalmente por mim, porque achava que eu merecia uma vida melhor do que a vida do campo ou de mineiro, uma vez que nem uma nem outra eram grande coisa. E que achava que apesar das dificuldades que parecia ter, a vida de um guarda era um pouco mais “estimadinha” do que todas que eu tivera até ali.  

Mas também que nunca lhe passara pela cabeça as “brutidades” que na Guarda eram capazes de fazer contra mim ou contra qualquer outra pessoa. Talvez por isso mesmo tinham tão má fama e quase ninguém gostava deles.

Que tudo aquilo era inadmissível e eu nunca devia ter ficado calado, devia sim ter-lhe sempre contado tudo porque era para isso que éramos marido e mulher. Para dividirmos o bom e o mau e para nos ajudarmos e aconselharmos sempre um ao outro. Que não queria que ninguém fizesse pouco de mim, nem daquela, nem de outra maneira, porque se tivesse sabido de tudo isso durante o alistamento, teria sido a primeira pessoa a dizer-me que desistisse do curso e os “mandasse cagar” a todos.

E continuou na sua inigualável e magnífica simplicidade com a mesma veemência:

- Peço-te agora que não te armes de pancada com ninguém. Não é assim que as coisas se resolvem Zé. Porque depois seria pior e quem acabaria por perder a razão serias tu.

- Não digas nada por enquanto, telefona ao teu capataz Zé Moura e ao primo João Gaspar das Minas da Panasqueira. Vê se há hipótese de voltares para lá. De certeza que eles te vão ajudar porque via-se que eram teus grandes amigos. Depois de os ouvires e se eles te disserem para voltares, mete então o papel e sai da guarda que eu e os nossos filhos iremos contigo como tu querias, porque para nos governarmos e criarmos os nossos filhos não precisamos que andes a levar pontapés de quem é tanto ou menos do que tu.

- Que me vai dar muita pena, isso vai, mas não quero de maneira nenhuma que por nossa causa continues a ser maltratado por um mal que nunca fizeste. Esses senhores haviam era de ir ouvir uma a uma todas pessoas que tu tanto ajudaste. Sempre fomos pobres e não havemos de morrer à fome. Pode ser que até eu por lá arranje também algum trabalho na lavandaria do clube desportivo como a tua prima Maria José arranjou, para ajudar nas despesas da casa.

Muitas outras coisas esta minha extraordinária companheira me foi sugerindo durante toda aquela madrugada para me animar, acalmar e confortar. Porém, a frase que nunca mais pude esquecer por ser de todas a mais generosa, a que mais me comoveu e caiu bem, foi ela dispor-se voluntariamente sem que eu o tivesse sequer sugerido para irmos todos viver definitivamente para as Minas da Panasqueira, coisa que ela sempre detestou e recusou a pé firme, apenas com o nobre intuito de me tirar de lá para fora.

O seu seu generoso sacrifício só não foi necessário porque ao ser por mim confrontado cara a cara no dia seguinte perante todo o efetivo do posto e do comandante do mesmo, o camarada linguarudo mudou várias vezes de cor mas confessou "ter dito aquilo apenas da boca para fora e sem pensar" reconheceu a maldade que cometera e perante todos pediu-me desculpa e mais ainda que pudéssemos continuar amigos...

José Coelho in Histórias do Cota