terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Défice alarmante

Vivemos no século XXI, o mundo e a ciência evoluíram de forma extraordinária mas a verdade que recentemente mais se evidenciou foi a de esse mesmo mundo e ciência terem sido apanhados de surpresa não só com a mortalidade do Covid19, como ainda com a rapidez como se propagou por todo o planeta no espaço de apenas algumas semanas.

Não houve forma de conter a pandemia e muito menos de impedir que ela chegasse a todos os Continentes. Até então nunca a fragilidade da nossa condição humana havia sido assim exposta.
No silêncio que se abateu sobre as nossas cidades, vilas e aldeias durante os longos confinamentos a que fomos submetidos, devíamos ter aprendido algumas coisas, refletido acerca da forma como vivemos e nos comportamos quer para com a natureza, quer em família e em sociedade, tirar ilações do que fazemos menos bem para corrigir o que urge ser corrigido, pois não vivemos isolados em bolhas mas em comunidade e por isso necessitamos preocupar-nos uns com os outros.
Dos que ainda cá estamos e dos nossos vindouros.
Pela parte que me disse respeito, em longos passeios pelos campos da minha aldeia refleti bastante e corrigi mesmo alguns erros do meu quotidiano.
A solidão sempre foi a melhor conselheira da minha vida por isso gosto muito mais do silêncio puro da natureza do que do agressivo ruído das multidões ou de falsas retóricas com duvidosas intenções que tantas vezes nos cercam.
Patriarca do que ainda resta da família Coelho, herdei dos meus antepassados os seus valores e princípios que sempre irei seguir e cumprir, ou pelo menos sempre me esforçarei por imitá-los.
Pelo salutar hábito de toda uma vida de ter comigo os meus regularmente, o que mais me custou foi a sua constante ausência durante meses a fio. Jamais poderia imaginar que iríamos passar duas páscoas e um natal longe uns dos outros sem nos podermos abraçar e confraternizar.
Do mal o menos, apenas um dos filhos foi ligeiramente atingido pela infeção tendo de fazer a obrigatória quarentena, mas felizmente sem ter contagiado ninguém da família e também sem quaisquer outras mazelas em termos do seu bem-estar físico.
Consequência provável da sua componente profissional de atendimento e contacto diário com o público em geral, não passou ainda assim de um sobressalto que causou a todos alguma apreensão mas apenas isso.
Cumprimos todos, responsavelmente, de comum acordo e sem hesitarmos um segundo sequer, todas as regras e recomendações das autoridades. Por isso me custou tanto entender porque carga d’água tanta gente não foi capaz de fazer como nós.
Não pelo medo de morrer, pois essa é a coisa que temos mais certa na nossa vida, mas pelo respeito às autoridades sanitárias e à saúde de todos e de cada um, assim como também pelo mais elementar cumprimento do intrínseco dever de civismo e cidadania, de uns para com os outros.
Esperemos que nas próximas – a probabilidade de o mundo vir a enfrentar novas pandemias é muito alta – as coisas corram melhor e não voltemos a regredir.
Os sinais não deixam de nos ir avisando ano após ano:
- Vírus Mpox,
- Vírus Sincial Respiratório,
- Surtos de Hepatite,
- Entre outros…
Venha o que vier, é minha convicção que a sociedade do nosso tempo pelo mundo inteiro continua a navegar sobre um défice alarmante na aprendizagem e na prevenção, optando pelo deixa andar, seja o que deus quiser, ou, simplificando, pelo desleixo coletivo.
Oxalá me engane.

(Texto e foto)