sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Há gestos que dizem mais que mil palavras


Este foi o bolo do nosso 48º Aniversário de Casamento, as denominadas Bodas de Granito, executado pelas hábeis mãos de uma profissional por excelência, imaginado e encomendado por uma pessoa que me é próxima e gosta muito de mim, à qual eu retribuo todo o carinho na mesma conta e medida. 

É um bolo único porque nunca houve outro igual ou parecido sequer. Entendi por isso que mesmo sem a conhecer devia contactar a sua autora para agradecer, elogiar a perfeição do seu trabalho mas também e sobretudo, reiterar quanto o apreciámos e nos encantou. É provável que agora alguém o encomende e outros iguais ou semelhantes sejam executados porque esse é o seu trabalho, mas este será sempre o primeiro, o original.

Quem o encomendou fê-lo por gostar de mim como já escrevi mas também por saber quanto eu gosto da Estação da Beirã e quanto queria voltar a vê-la de novo ativa, pese embora as hipóteses de que tal aconteça sejam escassas senão nulas. Pela sua arquitetura que faz dela uma das mais bonitas do nosso País, pelos magníficos azulejos da autoria de Jorge Colaço e finalmente pelo amor que tenho por ela enquanto Beiranense.

Neste lado do bolo são perfeitamente visíveis os painéis com o Castelo de Marvão no cimo da serra, com o Convento de Nossa Senhora da Estrela em Marvão, com o Templo de Diana em Évora e com a Torre de Belém em Lisboa. Os painéis axadrezados verde-brancos eram os que decoravam a Sala de Espera, da Bilheteira e de outras dependências da Estação. 

Ficou lindo, surpreendente, uma autêntica obra de arte.

Independentemente da celebração a que se destinava, podia ter sido uma peça vulgar, mais ou menos decorada mas igual a tantos outras bem bonitas e originais também. Porém quem na sua mente o imaginou, quis fazer algo diferente, quis que tivesse alguma coisa a ver com "a minha cara" com "a menina dos meus olhos" quis que fosse esta surpresa cheia de simbolismo que mexesse comigo e me chegasse ao coração. 

Chegou mesmo! 

Fez toda a diferença e tornou a nossa celebração familiar muito mais bonita e afetiva. 

Proferir ou escrever apenas um "obrigado" a quem o merece é demasiado curto e insignificante, porque foi inquestionavelmente a "prendinha" mais especial que poderíamos imaginar. Ser Família é isto. Chamam-se a estes gestos Amor Fraterno. Foi sempre isto que eu vi fazer em casa dos meus pais, era este sentimento, este bem-querer mútuo que senti sempre presente enquanto eles foram vivos.

Nunca houve dinheiro de sobra na sua casa mas nunca lhes faltou o amor por cada um de nós.

Infelizmente eles partiram e com eles levaram muito do que nos ensinaram e praticaram toda a vida. Na minha casa e com a Família mais próxima, esposa, filhos, noras e netas, tento, quanto posso, que esse vínculo de Família e esse amor fraterno não se perca. Nem sempre consigo porque está tudo tão diferente tão modificado e frio que até os valores e princípios estão fora de moda.

Fazer o que?

Por isso fico de coração cheio e a transbordar de felicidade quando alguém me diz sem proferir uma só palavra, que me quer bem. Porque há gestos mais explícitos do que quaisquer palavras. Já não devo ter uma vida muito longa porque o outono da minha vida está a chegar às portas do inverno. Sinto isso a cada dia, semana e mês que passam. 

Mas enquanto Deus me der alguma energia e raciocínio, a Família será sempre a minha maior prioridade e mais preciosa riqueza.


José Coelho