quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Sábia é a Vida e só mesmo ela

Imagem da lesão na consulta do dia 10. 01. 2024

 

Quando julgamos que sabemos tudo pelo muito que já vivemos e aprendemos, vem a vida e mostra que tem sempre muito mais para nos ensinar. Depois de tantos anos de trabalho e luta uma vida inteira porque iniciei aos onze a “servir” como assalariado justo ao mês por cento e cinquenta escudos no dia imediatamente a seguir ao Exame da 4ª classe do Ensino Primário, que, para a malta do pé descalço a que eu pertencia era o doutoramento para o resto da vida; depois de ainda mais sessenta anos de aprendizagem constante eivados de peripécias nem sempre de boa memória, pensava eu que nada mais iria perturbar o sossego do meu normal envelhecer.

Enganei-me.

Não vou enumerar dificuldades obviamente porque são passado e o que conta é o hoje, com esperança no amanhã, e sei, sem sombra de dúvida, que sou um Cota prudente quanto baste para não ser surpreendido pelas chatices que a falta de cuidado tantas vezes provoca. Levo uma vida bastante tranquila, recatada e muito ao meu jeito, principalmente dedicada à família, ao lar e às coisas que gosto de fazer. E tenho sido maioritariamente feliz. Cuido da horta de inverno porque no verão só tenho água da rede pública, e do resto, o ano inteiro. Tenho alguns compromissos no serviço à comunidade fazendo parte dos órgãos sociais de uma instituição de apoio á terceira idade desde 2011, da CPCJ concelhia há três anos, do CEP desde 1999 e mais recentemente também da Assembleia da “minha” Freguesia, com muito gosto e empenho.

Mas…

Tem de haver sempre um mas…

No dia 31 de outubro passado, aprestei-me a ir apanhar dois baldes de azeitonas cordovis para adoçar em salmoura que me haviam sido oferecidas pelo seu dono e amigo de toda a vida. E lá fui, feliz e contente. O monte onde se situa o olival tem cães de guarda e um deles não gosta nada de gente estranha. O dono tinha avisado e por isso esperei que o fosse prender antes de me aproximar. Quando me pareceu que já devia poder avançar e sem esperar que me dissessem “já podes vir” avancei. Erro crasso. O animal ia à frente do dono preso a uma sólida corrente, mas apercebendo-se da minha proximidade fintou-o e avançou para mim mas sem conseguir alcançar-me ou tocar-me.

Instintivamente recuei no inclinado acesso à propriedade alcatroado e cheio de areia solta onde me escorregaram subitamente os dois pés ao mesmo tempo e caí desamparado de costas com todo o meu peso e força. Senti um estalar sinistro e a dor foi tão intensa que me faltou o ar. Porém, habituado a outras quedas menos aparatosas, mas ainda mais dolorosas por terem sido causadas pela maldade humana, logo tentei recompor-me, levantei-me, peguei nos dois baldes e fui mesmo enchê-los como estava programado antes de voltar para casa. Só ao ver as azeitonas cheias de sangue vi que a pele da palma das mãos e de um cotovelo tinha ficado agarrada ao alcatrão, mas nem isso me demoveu porque, entretanto, a tal dor violenta provocada pela queda tinha abrandado e pensei que seria passageira.

Acondicionei as azeitonas no pote, fui tomar um duche, curei as feridas das mãos e cotovelo com ajuda da minha enfermeira particular e fomos almoçar. Com o decorrer das horas e à medida que ia arrefecendo o corpo, a tal dor apresentou-se de novo e foi ficando cada vez mais intensa e agressiva. Nessa noite não preguei olho. Adalgur, Brufen, nada acalmava aquilo. Tive de recorrer à médica de família que de imediato me encaminhou para o SU da ULSNA em Portalegre por suspeita de fratura lombar. Submetido imediatamente ao RX foi de facto detetada uma lesão na vértebra L1, mas enviado para casa pelo Ortopedista de serviço na urgência do hospital apenas com uma caixa de Randutil 90 para as dores. Foram noites consecutivas sem conseguir mexer-me na cama e muito menos dormir. Sentia-me mais confortável de pé do que deitado fosse de que maneira fosse. Mais desanimado já do que é costume, recorri à Ortopedia do Hospital Lusíadas onde de facto se cuida bem da nossa saúde e bem-estar.

O imediato RX a que fui submetido seguido de uma ressonância magnética para melhor esclarecimento da lesão revelou uma fratura grave da vértebra D12 com edema inflamatório e não da L1 diagnosticada em Portalegre. Profundamente surpreendido pelo comportamento do colega, o Dr Ortopedista do Lusíadas disse que me deveria ter sido mandado colocar imediatamente uma cinta para imobilizar a coluna e fazer novo RX oito dias depois para esclarecer melhor a gravidade e localização da lesão porque se a coisa se agrava o paciente sujeita-se a ir parar a uma cadeira de rodas.

E lá ando desde então.

Opero, não opero, diz o Dr que com uns parafusos e/ou cimento ósseo isto ficava melhor, mas eu contraponho que se não tiver obrigatoriamente de ser, prefiro ter algumas dores mas não se mexer mais, porque antevejo um vai e vem constante de e para o hospital, semanas e meses de recuperação e fisioterapias. Desse modo e perante a minha manifesta oposição à cirurgia o Dr diz que não me irei ver livre dele e lá tenho de voltar daqui a mais umas três ou quatro semanas. Entretanto não devo pegar no carro porque a condução prejudica a lesão e qualquer esforço maior só com a cinta colocada no dorso. E claro que, com tudo isto, têm-se ido alguns anéis. Mas ficam os dedos!

Esta mais não foi do que outra dura lição que a vida me quis ensinar. Temos de assumir com humildade que os anos passam e desgastam as nossas capacidades, por isso devemos ter o dobro do cuidado para não nos colocarmos a jeito destes percalços que interferem e de que maneira com a nossa qualidade de vida e merecido bem-estar. Curiosamente, utilizo para com todas as pessoas de quem gosto um termo muito meu que é, ao despedir-me delas diariamente, recomendar-lhes:

- Cuidem-se!

Agora dir-me-ão vocês a mim que…

- Bem prega Frei Tomás! Olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz…

Tenham um excelente fim de tarde, Família & Amizades.


José Coelho