quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Há quem lhes chame amigos...

...mas eu prefiro chamar-lhes anjos!

Boa semana


As melhores coisas da vida são as pessoas que amamos, os lugares que conhecemos e as memórias que vamos guardando ao longo do caminho.

Em contraciclo com o resto da Europa

DIA NACIONAL DO SARGENTO


 31.01.2024 - Celebra o 133.º aniversário da Revolta de 31 de Janeiro de 1891

Entre as datas que marcam a implantação da República, o 31 de Janeiro destaca-se. A razão é simples: foi neste dia – mas no ano de 1891 – portanto há 133 anos, que se verificou o primeiro movimento de cariz militar para derrubar a monarquia.
A Revolta de 31 de Janeiro de 1891 foi o primeiro movimento revolucionário que teve por objetivo a implantação do regime republicano em Portugal. A revolta teve lugar na cidade do Porto. A revolta do Porto ficou também conhecida como “revolta dos sargentos”, devido ao papel central desempenhado pelos sargentos de vários regimentos de infantaria, assim como da guarda fiscal.
Discute-se ainda hoje se o golpe foi preparado com a concordância das chefias republicanas, se resultou da precipitação de alguns elementos militares, nomeadamente dos sargentos, que juntavam um descontentamento pelas condições de trabalho e de salário à adesão à causa republicana.
Seja como for, os revoltosos saíram das casernas na madrugada do dia 31 e concentraram-se no Campo de Santo Ovídio, dirigindo-se depois ao edifício da Câmara Municipal. Foi aí que Alves da Veiga, um dos líderes políticos da revolta, proclamou a República e foi hasteada a bandeira verde-rubra.
Houve alguma adesão popular, mas os revoltosos foram rapidamente cercados pela Guarda Municipal, que disparou sobre a multidão e rapidamente sufocou a revolta.»
Desde há vários anos, especialmente desde as comemorações do centenário do 31 de Janeiro que foi assinalado com uma sessão solene do Plenário da Assembleia da República em 1991, que a Associação Nacional de Sargentos tem vindo a apelar - infelizmente sem êxito - à Assembleia da República para que delibere consagrar o 31 de Janeiro como Dia Nacional do Sargento.
A consagração desse Dia Nacional tem inteiro cabimento. Os sargentos de Portugal desempenham um papel muito relevante no funcionamento das força militares e de cariz militar, pois cumprem o seu dever para com o País com honra e com um empenho que é justo reconhecer.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Vai por mim


Valoriza o que tens, supera o que te dói, luta pelo que queres. Foi o que eu fiz sempre, faço ainda e continuarei a fazer enquanto o meu raciocínio ajudar e a força anímica não faltar...

Sempre presente



Nada fazia mais feliz o ti Pexorra de alcunha e António Maria Coelho de seu nome e apelido. Mulher, filhas, filho, genros e nora, netas e netos, cunhadas e cunhados, sobrinhas e sobrinhos, sogros, até mesmo até alguns primos chegados ou afastados. Para todos havia um lugar no seu coração. Para todos havia sempre também um lugar na sua casa, à sua volta, à sua - nem sempre farta - mesa ou ao redor do lume na belíssima e espaçosa chaminé que tinha a nossa cozinha para os serões frios do inverno.

No verão era na varanda do quintal que tinham lugar as tertúlias familiares já que o calor convidava a procurar-se ali o fresquinho da noite. Não muito dado a grandes conversas, mimos ou sorrisos, era o senhor meu pai quase sempre portador de um semblante sério, sisudo, a dar assim para o mal encarado com’ó meu. Mas isso nunca o impediu de ter bom coração e de ser capaz de dar a camisa que trazia vestida a quem dela necessitasse mais do que ele.

Recordo particularmente, como se tivessem acontecido ontem muitos dos seus hábitos de líder da família. A infalível hora de se ir deitar, fosse noite de natal, fosse outra noite qualquer da semana e estivesse quem estivesse cá em casa. Nove horas dadas no sino da torre da igreja, verão ou inverno e lá ia ele pra cama com o seu “té amanhã”. Mas no hábito de sair da cama era também pontual mal rompia o dia. Certinho como um relógio.

Obviamente nós ficávamos a pé até às tantas porque quando nos juntávamos todos a euforia era tal que o sono tardava e a pressa de ir deitar era nenhuma. Tantas vezes o ti Pexorra, depois de ter dormido o seu primeiro sono da noite completamente indiferente ao reboliço que nós fazíamos na cozinha, aparecia descalço e em ceroulas a espreitar feliz, para nos dizer naquela sua pronúncia da "terra do bonaco" que nunca perdeu:

– “Atã mas vocês ind’aí 'tã filhes?”

Herdei dele, com certeza, esta apetência para reunir a família regularmente cá em casa. Quantos mais, melhor. Nada me dava mais alegria. Filhos, noras, netas, irmãs, cunhados, sobrinhos ou tios, algumas vezes também alguns bons amigos com as respetivas famílias, pese embora sejamos por estas bandas cada vez menos, quer a hoste familiar, quer a dos amigos, já que não vai sobrando ninguém.

Ainda assim continua a ser sempre uma satisfação quando na agenda de compromissos dos poucos que ainda por aqui restamos, fica marcado que “tal dia” - aos fins de semana ou feriados quase sempre - vai sair um arroz de pato, uma favada com chouriço, umas sopas de cachola com pernil assado no forno, umas migas com toucinho frito ou apenas uma sopa caseira de couves do quintal com soã à moda da nossa Mãe Florinda.

Normalmente estes “petiscos” mais não são do que um repescar de memórias e sabores que nos ajudam a viajar no tempo ao encontro daquele passado em que fomos tão felizes e não sabíamos. Com os filhos casados e cada um em sua casa longe de nós, restamos por aqui só eu e a minha companheira de uma já quase vida inteira, a morar no “cimo d’aldeia” e a irmã caçula Joaquina com o seu Zé a morarem “na parte de baixo da linha”.

Como a fadista Mariza diz numa canção “o tempo não para e a gente só repara quando ele já passou”. Eu reparo particularmente que as últimas décadas da minha vida não passaram. Voaram. Faz hoje trinta anos que te acompanhei à tua eterna morada Pai, mas no meu coração e pensamento, continuas sempre presente.

José Coelho
(Texto e Foto c/filtro do Avô António Coelho com a sua neta Carmem ao colo)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O sorriso


 

O sorriso é uma chave

Que abre portas e janelas.

Entre muitas coisas mágicas

O sorriso é uma delas.

 

O sorriso é simpatia

Também pode ser amor.

O sorriso tem magia

Tem ternura tem calor.

 

O sorriso dá carinho

O sorriso faz amigos.

Constrói tu, no teu caminho

Uma ponte de sorrisos.

 

Rosa Lobato de Faria

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Surpresas inesperadas


A primeira foto, à porta da igreja da Beirã, é do dia da minha Profissão de Fé no Corpo de Deus de 1963 e tinha 11 anos.

A segunda, de gravata a preto e branco, foi em Nisa em 1986 para a renovação do Bilhete de identidade e tinha 34 anos.

A terceira, no canto superior direito com ar tristonho foi em julho de 1974 recém-chegado da guerra em Angola, com 22 anos. Em baixo à esquerda, Outubro de 2014 com 62 anos, estou a fazer uma carícia à minha netinha Mariana no colo da avó Manuela, com apenas alguns dias, no momento em que chegou da maternidade a sua casa, na Escusa - Marvão.

E a última, no canto inferior direito todo de negro a teclar no computador, é do verão de 2014 poucos dias depois do funeral da Senhora minha Mãe. Esta fotomontagem feita sobre um postal do Castelo de Marvão em dia de nevão, foi-me gentilmente enviada por camaradas da página da guerra colonial Utw Ultramar Terraweb.

Sábia é a Vida e só mesmo ela

Imagem da lesão na consulta do dia 10. 01. 2024

 

Quando julgamos que sabemos tudo pelo muito que já vivemos e aprendemos, vem a vida e mostra que tem sempre muito mais para nos ensinar. Depois de tantos anos de trabalho e luta uma vida inteira porque iniciei aos onze a “servir” como assalariado justo ao mês por cento e cinquenta escudos no dia imediatamente a seguir ao Exame da 4ª classe do Ensino Primário, que, para a malta do pé descalço a que eu pertencia era o doutoramento para o resto da vida; depois de ainda mais sessenta anos de aprendizagem constante eivados de peripécias nem sempre de boa memória, pensava eu que nada mais iria perturbar o sossego do meu normal envelhecer.

Enganei-me.

Não vou enumerar dificuldades obviamente porque são passado e o que conta é o hoje, com esperança no amanhã, e sei, sem sombra de dúvida, que sou um Cota prudente quanto baste para não ser surpreendido pelas chatices que a falta de cuidado tantas vezes provoca. Levo uma vida bastante tranquila, recatada e muito ao meu jeito, principalmente dedicada à família, ao lar e às coisas que gosto de fazer. E tenho sido maioritariamente feliz. Cuido da horta de inverno porque no verão só tenho água da rede pública, e do resto, o ano inteiro. Tenho alguns compromissos no serviço à comunidade fazendo parte dos órgãos sociais de uma instituição de apoio á terceira idade desde 2011, da CPCJ concelhia há três anos, do CEP desde 1999 e mais recentemente também da Assembleia da “minha” Freguesia, com muito gosto e empenho.

Mas…

Tem de haver sempre um mas…

No dia 31 de outubro passado, aprestei-me a ir apanhar dois baldes de azeitonas cordovis para adoçar em salmoura que me haviam sido oferecidas pelo seu dono e amigo de toda a vida. E lá fui, feliz e contente. O monte onde se situa o olival tem cães de guarda e um deles não gosta nada de gente estranha. O dono tinha avisado e por isso esperei que o fosse prender antes de me aproximar. Quando me pareceu que já devia poder avançar e sem esperar que me dissessem “já podes vir” avancei. Erro crasso. O animal ia à frente do dono preso a uma sólida corrente, mas apercebendo-se da minha proximidade fintou-o e avançou para mim mas sem conseguir alcançar-me ou tocar-me.

Instintivamente recuei no inclinado acesso à propriedade alcatroado e cheio de areia solta onde me escorregaram subitamente os dois pés ao mesmo tempo e caí desamparado de costas com todo o meu peso e força. Senti um estalar sinistro e a dor foi tão intensa que me faltou o ar. Porém, habituado a outras quedas menos aparatosas, mas ainda mais dolorosas por terem sido causadas pela maldade humana, logo tentei recompor-me, levantei-me, peguei nos dois baldes e fui mesmo enchê-los como estava programado antes de voltar para casa. Só ao ver as azeitonas cheias de sangue vi que a pele da palma das mãos e de um cotovelo tinha ficado agarrada ao alcatrão, mas nem isso me demoveu porque, entretanto, a tal dor violenta provocada pela queda tinha abrandado e pensei que seria passageira.

Acondicionei as azeitonas no pote, fui tomar um duche, curei as feridas das mãos e cotovelo com ajuda da minha enfermeira particular e fomos almoçar. Com o decorrer das horas e à medida que ia arrefecendo o corpo, a tal dor apresentou-se de novo e foi ficando cada vez mais intensa e agressiva. Nessa noite não preguei olho. Adalgur, Brufen, nada acalmava aquilo. Tive de recorrer à médica de família que de imediato me encaminhou para o SU da ULSNA em Portalegre por suspeita de fratura lombar. Submetido imediatamente ao RX foi de facto detetada uma lesão na vértebra L1, mas enviado para casa pelo Ortopedista de serviço na urgência do hospital apenas com uma caixa de Randutil 90 para as dores. Foram noites consecutivas sem conseguir mexer-me na cama e muito menos dormir. Sentia-me mais confortável de pé do que deitado fosse de que maneira fosse. Mais desanimado já do que é costume, recorri à Ortopedia do Hospital Lusíadas onde de facto se cuida bem da nossa saúde e bem-estar.

O imediato RX a que fui submetido seguido de uma ressonância magnética para melhor esclarecimento da lesão revelou uma fratura grave da vértebra D12 com edema inflamatório e não da L1 diagnosticada em Portalegre. Profundamente surpreendido pelo comportamento do colega, o Dr Ortopedista do Lusíadas disse que me deveria ter sido mandado colocar imediatamente uma cinta para imobilizar a coluna e fazer novo RX oito dias depois para esclarecer melhor a gravidade e localização da lesão porque se a coisa se agrava o paciente sujeita-se a ir parar a uma cadeira de rodas.

E lá ando desde então.

Opero, não opero, diz o Dr que com uns parafusos e/ou cimento ósseo isto ficava melhor, mas eu contraponho que se não tiver obrigatoriamente de ser, prefiro ter algumas dores mas não se mexer mais, porque antevejo um vai e vem constante de e para o hospital, semanas e meses de recuperação e fisioterapias. Desse modo e perante a minha manifesta oposição à cirurgia o Dr diz que não me irei ver livre dele e lá tenho de voltar daqui a mais umas três ou quatro semanas. Entretanto não devo pegar no carro porque a condução prejudica a lesão e qualquer esforço maior só com a cinta colocada no dorso. E claro que, com tudo isto, têm-se ido alguns anéis. Mas ficam os dedos!

Esta mais não foi do que outra dura lição que a vida me quis ensinar. Temos de assumir com humildade que os anos passam e desgastam as nossas capacidades, por isso devemos ter o dobro do cuidado para não nos colocarmos a jeito destes percalços que interferem e de que maneira com a nossa qualidade de vida e merecido bem-estar. Curiosamente, utilizo para com todas as pessoas de quem gosto um termo muito meu que é, ao despedir-me delas diariamente, recomendar-lhes:

- Cuidem-se!

Agora dir-me-ão vocês a mim que…

- Bem prega Frei Tomás! Olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz…

Tenham um excelente fim de tarde, Família & Amizades.


José Coelho 

Na primeira, qualquer cai


Se a pessoa te decepcionou uma vez, pensa duas vezes antes de voltares a confiar nela. Lembra-te que um lobo muda de pelo todos os anos, mas não muda nunca de instinto!

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Amanhã fico triste, hoje não


Quem me conhece minimamente sabe que eu não uso de mentiras e que sou frontal, porque digo sempre o que tenho a dizer cara a cara seja o que for e a quem for, além de que não faço também prática do detestável costume de dar palmadinhas nas costas de qualquer pessoa para fingir amizade e a seguir, quando ela se vai embora, ficar a cortar-lhe na casaca, como tanta gente faz e me tem feito a mim.
É certo aquele ditado que diz: “Cada um dá, o que tem”. Cá continuo no meu tranquilo dia a dia completamente indiferente a todas essas velhacarias e falsidades e a dizer ou escrever o que é por norma a verdade, apenas a verdade e só a verdade.
Hoje vou escrever sobre algo que há muito era previsível mas sempre acreditámos demoraria ainda algum tempo a acontecer. Porém, como os caminhos do Senhor são insondáveis, não demorou em chegar a nova realidade em toda a sua força.
E a primeira consequência foram os sinos da igreja da nossa bonita Beirã que há 80 anos consecutivos tocavam sempre por cerca das onze horas de cada domingo a convocarem os fiéis calarem-se provavelmente para sempre e não voltarem a ouvir-se no Dia do Senhor a anunciarem a missa, muito menos com a ininterrupta regularidade com que se ouviam desde que a igreja foi inaugurada em 16 de Julho de 1943.
Ouvimos apenas, no dia a dia, o dolente repicar que nos diz que mais uma alma Beiranense vai a caminho do céu, ou o bater das horas do relógio que substituiu o velho e avariado mecanismo original na torre da igreja quando foi instalado o computorizado e moderno mecanismo que desde então coordena automaticamente os toques, naquela que foi uma das últimas e excelentes iniciativas do querido e saudoso padre Luís Ribeiro.
Mudam-se os tempos, mudam-se as circunstâncias. Tivemos por isso de aceitar com humildade o possível, mesmo que entristeça. Como dizem os evangelhos há mais de dois mil anos “a vinha é grande e os trabalhadores são poucos”. Poderemos acrescentar hoje que esses trabalhadores do Senhor são muito para lá de poucos e já se contam quase pelos dedos.
Mas a vinha continua grande.
Foram as circunstâncias que obrigaram a redesenhar o mapa dos acontecimentos e tentando manter vivas as comunidades cristãs dentro dos curtíssimos limites do possível, a habitual missa de domingo na paróquia de Nossa Senhora do Carmo da Beirã teve de passar para a subcategoria de missa vespertina a ser celebrada desde então todos os sábados às seis da tarde.
Foi o melhor que se conseguiu, temos de aceitar e dar graças a Deus por haver conseguido providenciar um novo Pastor para guiar dentro dos seus outros inúmeros afazeres o cada vez mais reduzido rebanho cristão desta paróquia da Beirã.
Esse Pastor é o Reverendo Padre Marcelino Marques. Conhecemo-nos em Nisa. Ele a iniciar o seu ministério sacerdotal, eu comandante do posto daquela bonita vila. Curiosamente tivemos algum protagonismo pessoal, cada um a tentar cumprir as suas funções, ou, como o povo diz, cada um a querer puxar a brasa à sua sardinha. Demo-nos cordialmente, resolvemos o que havia para resolver e cada um seguiu o seu percurso de vida.
Pese embora a minha saúde ultimamente não tenha ajudado, continuo a colaborar com ele em tudo o que posso e sei, conforme colaborei com o Rev. Padre Emílio desde 1992, depois a seguir com os Rev.ºs Padres Luís e Tarcísio que em janeiro de 1999 me pediram para fazer a contabilidade da paróquia, tendo sido mandatado oficialmente só em 2003 para o Conselho Económico Paroquial pelo senhor D. Antonino, Bispo de Portalegre e Castelo Branco e sucessivamente renomeado até hoje, 25 anos depois.
Tenho guardados em suporte informático mas também em papel todos os processos que justificam escrupulosamente cada cêntimo de receita, cada cêntimo de despesa, semanais, mensais e anuais. A contabilidade da igreja, das obras de restauro e conservação realizadas, dos donativos, da instalação do relógio e automatização dos sinos, da colocação das luzes LED, das despesas com vencimentos dos sacerdotes e todas as outras.
Ao pormenor, limpinhas, fáceis de entender. Tudo pronto a entregar a quem de direito. E mais. Este cargo no CEP da Paróquia da Beirã está, como sempre esteve, disponível todos os dias e a todas as horas, ao completo dispor de quem me escolheu e nomeou, prontíssimo a entregar a quem se ofereça para me substituir. É só chegar-se à frente porque quem o quiser será muito bem-vindo.
Mas disponha-se também a ser criticado e censurado quando não estiver por perto para poder defender-se. Palavras de reconhecimento ou agradecimento nunca as ouvirá. Indiferente a tudo isso tenho cumprido as minhas obrigações com lealdade, dedicação e empenho.
Nunca cobrei um cêntimo sequer por nada do que fiz. Ofereço desde 1999 gratuitamente os meus serviços e tempo, o meu computador, tinteiros e resmas de papel da impressora, o combustível do automóvel nas deslocações ao banco e às reuniões a Portalegre, a São Tiago, a Mem Soares, a Nisa, a Castelo de Vide, a Marvão e a muitas outras localidades onde os párocos me solicitavam que fosse. Quase sempre sozinho, ou, quando muito, acompanhado apenas e só pela minha esposa.
É mais que verdade que ninguém na sua terra consegue ser profeta. Muitas vezes me senti triste e desmotivado. Muitas vezes também me apeteceu mandar tudo às malvas e até ir embora daqui. Mas a excelente ajuda e a sempre reiterada confiança dos párocos, excelentes guias espirituais e amigos, aliada à minha forte convicção de Missão e Serviço à Comunidade, conseguiram superar sempre a vontade de desistir.
Ajuda-me muito, ao chegar a casa desmotivado, ligar o computador para procurar e reler um poema que foi encontrado na parede de um dos dormitórios para crianças judias no campo de extermínio nazi de Auschwitz:
“Amanhã fico triste… Amanhã! Hoje não… Hoje fico alegre! E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu direi sempre: Amanhã fico triste, hoje não”.

José Coelho - Histórias do Cota (Excerto)

- 16. 07. 2023

domingo, 14 de janeiro de 2024

Lugares que povoam a minha memória

Casa da Meirinha - Beirã 

 

Fica para lá da Murta, depois da Anta, quase encostada à Estrada da Herdade como a gente por aqui lhe chama. Foi morada de famílias durante décadas. A última, se bem me lembro, era eu ainda cachopo, foi a numerosa família do ti João e da ti Maria José. O ti João trabalhava “à jorna” na casa do senhor João Dinis e a ti Maria José vinha todos os dias da Meirinha à Beirã – cerca de 2 km – trazer-lhe o almoço à cabeça, com os filhos atrás ou ao colo.

Depois que essa família de lá saiu e veio morar para a aldeia, não me recordo de lá morar mais ninguém. Já agora um pouco de história ainda que reduzida à dimensão dos meus humildes conhecimentos. Chamava-se “à jorna” o trabalho que era pago ao dia sem qualquer outro vínculo que não fosse apenas os dias e o ordenado ajustados pelas duas partes, trabalhador e patrão.

Tanto podia ser um dia só como uma semana ou duas ou três, dependendo do tempo necessário para fazer o serviço. Normalmente eram tarefas exclusivamente agrícolas e sazonais. Cavar ou semear um quintal, uma horta ou uma vinha, arrancar ou colher legumes, sachar um jardim ou uma belga de qualquer coisa, ceifar uma seara, gadanhar uma tapada...

Por sua vez, os trabalhadores com vínculos mais duradouros recebiam ao mês não só o ordenado combinado com o patrão, como também as comedías ajustadas. Não, não confundam com comédias. Eram mesmo comedías com acento agudo no i por se tratar de coisas de comer – géneros alimentares – que eram pagos juntamente com o ordenado e do qual faziam parte integrante.

A esses assalariados permanentes chamava-se “os justos” e os ajustes destes homens eram apenas verbalmente firmados e aceites por ambas as partes, sendo tão ou mais respeitados do que são hoje os que se fazem por escrito. Tinham normalmente a duração de um ano, que se iniciava e terminava de S. Pedro a S. Pedro, ou seja, de 29 de Junho do ano do ajuste a 28 de Junho do ano seguinte mas eram sucessivamente renovados por igual período de tempo enquanto as partes assim o quisessem.

O meu avô José Lourenço e os meus tios maternos, enquanto solteiros, tiveram sempre esse vínculo de justos e assim se mantiveram assalariados por anos sucessivos, décadas até e quase sempre por conta do mesmo patrão. Os ordenados eram pequenos porque cada lavrador pagava o menos que conseguia. Para compensar depois essas fracas pagas e serem capazes de manter por meses ou anos os guardadores dos gados, os ganhões do amanho das terras, os carreteiros das carretas de vacas e os carreiros dos carros de bestas, acresciam os ordenados das tais comedías, que normalmente se compunham de um saco de centeio em grão para moagem e fabrico do pão - só os patrões comiam pão de trigo – uma almotolia com azeite, alguns litros de grão de bico ou de feijão frade – normalmente um alqueire – e dois ou três queijos secos.

Sei isso porque eram essas as comedías que o meu avô trazia para casa no fim do mês, juntamente com a sua magra mesada de justo, no Matinho. Logo no dia seguinte lá tinham que as mulheres ir de talêgo de centeio à cabeça a caminho dos moinhos no rio Sever para trazerem a farinha do pão que alimentava a família todo o mês seguinte. Curiosamente, as pessoas eram aparentemente felizes e não faltava trabalho a ninguém um pouco por toda a parte. Bem diferente dos dias de hoje.

Todas as casas, em todos os lugares, por mais ermos que fossem, eram habitadas como a da Meirinha que ilustra esta prosa. Não se consegue ver na foto, mas ao lado da casa está também um forno de lenha onde era cozido o pão. Poucas são as casas por esses campos que não têm um forno e uma eira por perto, porque eram essenciais à sobrevivência dos seus moradores.

E também uma horta com uma fonte, um tanque ou um poço nas redondezas, para abastecimento de água potável para o seu consumo e regadio dos alimentos que metiam na panela para as suas refeições. Basta-me fechar os olhos e pensar um pouco: na Murta, a eira é também muito perto da estrada antes das casas e o forno era ao lado da casa principal. Um pouco mais acima, na Anta, a eira é no cimo de uma laje e o forno em frente da casa. No Penedo da Rainha, a eira faz parede com a estrada e o forno é ao lado da queijeira. Na Tapada do Cabeço, a eira fica a dez metros da estrada do Pereiro, o forno na empena da casa.

No Cancho de Ruivo, na Torre, no Pereiro, na Broca, no Maxial, no Vale do Cano, no Cabril, na Bica... Em tantos outros lugares da minha freguesia existem estas estruturas, para um imprescindível apoio doméstico às antigas donas de casa, quase sempre mães de numerosas famílias. Jazem hoje por aí abandonadas, quase todas em ruínas, principalmente os fornos de lenha que vão abatendo por força das intempéries e do abandono.

Já as circunferenciais eiras, onde, ano após ano, foram sendo amontoados e debulhados searas e grão, porque construídas sobre o imortal granito, ficarão, como as antas ou dólmens milenares que por aí abundam também, a testemunhar pelos séculos fora os usos e costumes das humildes gentes que por estas bandas conseguiam sobreviver do que a terra dava e serem felizes com o pouco que tinham.

Refém de tão queridas memórias a minha alma só vai deixar de chorar no dia que eu morrer.

José Coelho in Histórias do Cota

(Texto e foto)

Boa semana

 

Às vezes precisamos afastar-nos e ficar algum tempo apenas conosco, para entendermos quem somos no meio dos outros.

Foto José Coelho - Janeiro 2024

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Vão-se os anéis, fiquem os dedos


Mais dois dias pelo Lusíadas - Lisboa. A marida na Cardiologia e eu na Ortopedia, cada um a tratar as suas sequelas, made in PDI. Andamos nisto desde 2016 porque a falta de resposta do SNS assim o obriga. Nem vale a pena quase já contar com ele. Fica muito mais dispendioso mas é a nossa opção. Uns vão de férias para as Caraíbas, outros viajam para conhecer o mundo, nós investimos na nossa saúde e bem-estar com a consequente melhoria da qualidade de vida. Regressaremos em Março e Abril...

Foto José Coelho - Sala de espera do Edifício 2 - 10. 01. 2024

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Sempre na véspera


Eucaristia Vespertina de Ano Novo - Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo - Beirã.


31. 12. 2023

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Consciente e grato


 

Sei, tenho serena consciência que do mesmo modo que um dia vimos ao mundo sem nada trazer, noutro dia partiremos sem nada levar.
Porque o tempo que nos é concedido, como em tudo no universo, trás sempre consigo princípio e fim.
Sei também, sem dramas, sem medos e sem quaisquer amarguras, que o meu está a aproximar-se da sua última etapa, porquanto o raciocínio, agilidade, força, energia e capacidades cognitivas vão diminuindo, a cada dia que passa.
Não terei sido tão feliz quanto desejava - creio que ninguém é - mas fui o suficiente para convictamente afirmar que valeu a pena ter nascido.
Não tive tudo quanto queria e precisava, mas tive o bastante para olhar para trás e dizer hoje, com absoluta tranquilidade:
- Obrigado Vida, por tudo quanto me deste!

03. 01. 2024

Feliz Ano Novo


No silêncio da noite, o nicho com a Sagrada Família que mandei esculpir numa das paredes da cozinha da casa dos meus pais em sua homenagem, porque durante décadas esta dependência - hoje sala de estar da Toca dos Coelhos - foi ponto de encontro da nossa família à mesa para as refeições diárias, em alegres tertúlias familiares e bailaricos ao som da rádio badajoz, nas tristezas se alguma coisa menos boa acontecia, ou simplesmente todos juntos felizes e quentinhos em redor da sua grande lareira nos serões dos invernos.

Assim e de forma extremamente simples perpetuo - pelo menos enquanto eu viver - as inapagáveis memórias dos que ainda continuamos presentes, dos que tiveram de ir viver para longe, mas ainda também dos que já partiram para a eternidade. Foi a forma mais simples e materialmente possível que encontrei para que possamos continuar todos espiritualmente unidos.