Uma das muitas fotos publicadas na net
Desconheço o autor
Foto da autoria do Prof. João Bucho

Foto da autoria do Prof. João Bucho
Marvão anda frequentemente nas bocas do mundo não só pela sua incomparável beleza de burgo medieval impecavelmente conservado, como também pelas paisagens a perder de vista que se desfrutam de todos os seus pontos cardeais e que, de tão deslumbrantes, alcançam de quem lá vai e as vê, o estatuto de inesquecíveis.

Foto da autoria do Prof. João Bucho
Marvão anda frequentemente nas bocas do mundo não só pela sua incomparável beleza de burgo medieval impecavelmente conservado, como também pelas paisagens a perder de vista que se desfrutam de todos os seus pontos cardeais e que, de tão deslumbrantes, alcançam de quem lá vai e as vê, o estatuto de inesquecíveis.
Não
foi por acaso que José Saramago escreveu um dia:
"De Marvão vê-se o mundo todo…”
"De Marvão vê-se o mundo todo…”
Contribuem muito também para a sua merecida fama, um conjunto de eventos que ao
longo do ano ali se desenvolvem, como, por exemplo, o famosíssimo
Festival Internacional de Música de Marvão que há poucos dias atrás decorreu, trazendo como sempre até nós, os mais famosos músicos de todos os continentes.
E
claro, a inigualável hospitalidade das suas gentes. O modo de bem receber e ainda melhor acolher
cada visitante é, talvez, uma das suas melhores características, entre todas
as outras não menos boas.
No
passado fim de semana, porém, Marvão foi notícia em todos os noticiários e redes
sociais mas pelos piores motivos. Fogo. O flagelo maldito que não poupa nada nem
ninguém e derrete tudo o que apanha pela frente transformou o verde da
vegetação que envolvia a altaneira muralha em cinzas e negrume.
Em poucas horas.
A
sólida e elegante estrutura medieval protegeu ao menos os seus moradores e visitantes. Ciente das inexpugnáveis paredes e firme construção que a caracterizam, a torre de menagem bradou com
desdém ao monstro incandescente que a cercava:
-
Não, velhaco! Aqui não entras…
E
não entrou, pese embora tivesse chegado mesmo, mesmo, às Portas da Ródão, o principal acesso à Vila. Quero crer que não entrará nunca, tão seguro e bem
construído foi aquele reduto que afronta sóis e canículas, ventos e tempestades, ocupações e contendas, há muitos, muitos séculos.
Mas não foi só a paisagem verde que se perdeu nas encostas de Marvão. Tão
importante como o aquilo que os nossos olhos vislumbram é o ar que respiramos e as árvores produzem
e ajudam a purificar. Por isso os sufocantes 44º de calor que aí temos há 3 dias, por isso as tempestades
súbitas e destruidoras um pouco por toda a parte no pino do verão como nunca se viu, por isso, em resumo, todo um clima em colapso acelerado que em vez de vida produz morte.
Não
gosto de mediatismo seja por que
motivo for. Pese embora tenha consciência que aquilo que faço é uma gota de
água no oceano, prefiro contribuir com as minhas atitudes no dia a dia para o bem comum. E por isso, evito tudo o que possa causar algum transtorno colectivo não deixando
lixo no ambiente, reciclando tudo o que é reciclável, contribuindo de todas as
formas ao meu alcance para um ambiente melhor e mais limpo.
Sem
alardes nem selfies.
Pelas
minhas netas e por todas as crianças que merecem um mundo como
aquele em que eu nasci, fui criado e tão feliz. Na idade da minha Francisca, ia com o meu pai para o Ribeiro
das Águas no pino do verão. Ele ia tirar areia do ribeiro para vender aos empreiteiros
da construção civil. Só nas margens do ribeiro havia juncos verdes. Tudo quanto a vista
alcançava para além disso, eram tapadas com searas secas ou restolhos já ceifados.
A
minha missão era cozer o almoço. Levávamos uma panelinha de barro com feijões,
duas batatas e um pedaço de toucinho. O meu pai fazia um aceiro no meio do
pasto seco com uma enxada. No centro do aceiro punha uma laje e a panela dos feijões
encostada a um pequeno lume de gravetos secos que eu ia apanhando por ali para o manter aceso, enquanto o meu pai pegava no rodo enorme de madeira e ia à sua vida de
retirar areia do leito do ribeiro juntando-a em grandes montes pelas margens.
A
minha responsabilidade era pois cuidar do lume. Criança de tenra idade, 5 ou 6 anos apenas. E nunca havia fogos como estes
agora. Até os ceifeiros faziam lume no meio das searas para
cozerem os seus almoços. Em aceiros como aqueles que o meu pai fazia. E não havia
fogos. Havia cuidado. Havia responsabilidade. Havia respeito. Para com a natureza e de uns para com os outros. Tudo coisas que
hoje não há.
E
o resultado está aí…