Foto que fiz ao acaso enquanto as duas vizinhas e amigas
punham a sua conversa em dia
Uma das melhores
coisas que tem o viver na aldeia é a proximidade entre as pessoas que nela
habitam, mesmo que umas morem no cimo, outras no fundo da rua, umas a norte,
outras a sul da mesma. Há um sentimento de quase família que aproxima e une
inquestionavelmente todos os habitantes. E quando têm que partir para outras
bandas e se encontram por acaso assim afastados da terra, a alegria desses
encontros é em tudo idêntica ao encontro de irmãos que por qualquer razão
tiveram que viver longe uns dos outros.
Sei do que falo
porque vivi alguns anos fora da Beirã e quando me cruzava com um ou uma
Beiranense algures, era uma festa.
Cada vizinho que
parte é uma perda que deixa sempre saudades. Mormente vizinhos de quase toda a vida como os
meus, como por exemplo a Família Brito Dias, a Família Rosado Maroco, a Família
Antunes, e tantas outras, rua acima ou rua abaixo, que aqui residem ou
residiram tantas décadas como quase todas aquelas que eu conto de vida e onde
vamos sendo cada dia menos. Que o digam as dez casas fechadas da Rua Fernando
Namora e outras tantas na Rua da Escola (Avenida Dr Matos Magalhães) aquelas que dão acesso ao "meu bairro".
Logo pela
manhã recebi um telefonema para acionar o toque de finados do
sino da igreja em sinal de luto por uma dessas vizinhas que hoje faleceu. Já
não residia há algum tempo na sua casa, quase em frente da minha, por motivo de doença. A sua família, que
vive longe, acolheu-a, para cuidar dela. Veio visitar a sua casa há poucas semanas
atrás, trazida por esses familiares e a minha mulher, sua grande amiga, gostou
muito de a ver, de conversar com ela, tendo achado até que estava bastante animada, na
medida do possível e das limitações que o seu problema de saúde lhe
impunham.
Eu não a vi no
dia que cá esteve. Pouco saio também de casa e muitas coisas passam-me por isso
ao lado. Mas tive um pressentimento e comentei com a minha Maria que talvez a
vizinha Júlia tivesse vindo cá não só matar saudades da sua casa mas também
despedir-se dela. Senti exatamente isso e confirmei esse meu pressentimento quando
há uma semana atrás me chegou a notícia que a vizinha Júlia tinha sofrido um
segundo AVC e dificilmente iria sobreviver. Há coisas que sentimos e não
sabemos explicar. Quiçá ela tivesse também pressentido que estava próximo o seu
fim e quis estar, ainda que por breves momentos, naquele chão que foi seu quase toda a
sua vida, pelo qual muito se sacrificou e trabalhou e onde certamente foi muito feliz.
Descanse em paz
querida vizinha Júlia. Ganhou, tenho a certeza, o seu lugar junto de Deus. Não
sei se são leitores deste meu sítio virtual mas ainda assim quero deixar uma
palavra de sentidos pêsames e de conforto a toda a sua família, muito
particularmente à sua filha Rosa Mota nossa querida amiga também, a qual, por
imprevisível acaso, cumpre hoje mais um aniversário. Para todos, o nosso amigo,
sincero e sentido abraço de solidariedade.
Beirã,
7 de agosto de 2018
Ao vosso dispor, os vizinhos amigos
José Manuel e Maria Manuela Coelho