terça-feira, 7 de agosto de 2018

Até sempre, vizinha Julia...

Foto que fiz ao acaso enquanto as duas vizinhas e amigas
punham a sua conversa em dia

Uma das melhores coisas que tem o viver na aldeia é a proximidade entre as pessoas que nela habitam, mesmo que umas morem no cimo, outras no fundo da rua, umas a norte, outras a sul da mesma. Há um sentimento de quase família que aproxima e une inquestionavelmente todos os habitantes. E quando têm que partir para outras bandas e se encontram por acaso assim afastados da terra, a alegria desses encontros é em tudo idêntica ao encontro de irmãos que por qualquer razão tiveram que viver longe uns dos outros.

Sei do que falo porque vivi alguns anos fora da Beirã e quando me cruzava com um ou uma Beiranense algures, era uma festa.

Cada vizinho que parte é uma perda que deixa sempre saudades.  Mormente vizinhos de quase toda a vida como os meus, como por exemplo a Família Brito Dias, a Família Rosado Maroco, a Família Antunes, e tantas outras, rua acima ou rua abaixo, que aqui residem ou residiram tantas décadas como quase todas aquelas que eu conto de vida e onde vamos sendo cada dia menos. Que o digam as dez casas fechadas da Rua Fernando Namora e outras tantas na Rua da Escola (Avenida Dr Matos Magalhães) aquelas que dão acesso ao "meu bairro".

Logo pela manhã recebi um telefonema para acionar o toque de finados do sino da igreja em sinal de luto por uma dessas vizinhas que hoje faleceu. Já não residia há algum tempo na sua casa, quase em frente da minha, por motivo de doença. A sua família, que vive longe, acolheu-a, para cuidar dela. Veio visitar a sua casa há poucas semanas atrás, trazida por esses familiares e a minha mulher, sua grande amiga, gostou muito de a ver, de conversar com ela, tendo achado até que estava bastante animada, na medida do possível e das limitações que o seu problema de saúde lhe impunham.

Eu não a vi no dia que cá esteve. Pouco saio também de casa e muitas coisas passam-me por isso ao lado. Mas tive um pressentimento e comentei com a minha Maria que talvez a vizinha Júlia tivesse vindo cá não só matar saudades da sua casa mas também despedir-se dela. Senti exatamente isso e confirmei esse meu pressentimento quando há uma semana atrás me chegou a notícia que a vizinha Júlia tinha sofrido um segundo AVC e dificilmente iria sobreviver. Há coisas que sentimos e não sabemos explicar. Quiçá ela tivesse também pressentido que estava próximo o seu fim e quis estar, ainda que por breves momentos, naquele chão que foi seu quase toda a sua vida, pelo qual muito se sacrificou e trabalhou e onde certamente foi muito feliz.

Descanse em paz querida vizinha Júlia. Ganhou, tenho a certeza, o seu lugar junto de Deus. Não sei se são leitores deste meu sítio virtual mas ainda assim quero deixar uma palavra de sentidos pêsames e de conforto a toda a sua família, muito particularmente à sua filha Rosa Mota nossa querida amiga também, a qual, por imprevisível acaso, cumpre hoje mais um aniversário. Para todos, o nosso amigo, sincero e sentido abraço de solidariedade.

Beirã, 7 de agosto de 2018

Ao vosso dispor, os vizinhos amigos

José Manuel e Maria Manuela Coelho