segunda-feira, 2 de julho de 2018

E já lá vão 60 anos...

Foto by José Coelho

Tinha 6 anos quando o Revº Padre Joaquim Caetano me indigitou seu sacristão. Estávamos por isso em 1958. Exatamente há 60 anos. É muito tempo. Muito mesmo. Não tenho por que explicar-me, não devo satisfações a ninguém, mas também não tenho por que esconder a profunda devoção, amor e carinho que tenho pela Senhora do Carmo. Como não haveria de ter? É uma vida inteira a ver, cá de baixo, o terno olhar com que nos abençoa lá do cimo do seu altar por detrás do sacrário onde habita permanentemente o seu bem-amado Filho, não O que tem no colo, mas Aquele que se fez presente em cada Eucaristia e é depois guardado sob a forma de hóstia consagrada naquele digno tabernáculo.

Presunção e água benta cada um toma a que quer. Eu não tenho qualquer presunção mas sou devoto. Não aquele beato de andar sempre a bater com a mão no peito mas apenas devoto convicto e sério. Sou assim porque assim fui ensinado. E não só aprendi como interiorizei todos esses ensinamentos. Descobri, no dia a dia da minha já longa vida, de Deus "fala" connosco muitas vezes e de muitas formas. Dei-me conta disso sem qualquer hipótese de dúvida e senti-me sempre um privilegiado por n'Ele crer sinceramente. Poderia enumerar e explicar alguns desses factos concretos mas não o faço porque entendo não ter que convencer ninguém, seja daquilo que for.

Mas eu comecei por escrever que já lá vão 60 anos. Não estive sempre presente. Tive que crescer, ir à guerra, casar, cumprir enfim, todo o meu percurso de homem e profissional. Nos intervalos, sempre que podia, ia passando por cá. A Senhora do Carmo, essa, foi comigo aonde quer que eu fui, porque mora na carteira que trago sempre comigo, em forma de estampa (santinha) que inclusivamente já tive que mandar plastificar porque estava a desfazer-se com a idade. Foi comigo à guerra, às Minas, à GNR e continua ali na bolsinha da carteira que faz de Sua casa há muitas décadas. Foi a minha força, a minha ajuda, a minha proteção. 

Sempre. Inquestionavelmente, sempre!

Voltei incólume da guerra, conquistei todos os meus objectivos de vida, alcancei todas as metas que me propus alcançar. Entretanto fui naturalmente envelhecendo. E a vida que me levou foi a mesma que me trouxe de volta. Definitivamente, julgo eu, mas não posso ter a certeza, porque, muitas vezes, quando pensamos ter todas as respostas, vem a malvada e muda todas as perguntas. De qualquer modo, os meus planos foram sempre de voltar para cá definitivamente. Veremos. Entretanto já cá levo 25 anos consecutivos. Estes, já ninguém me tira. 25 anos de regresso à Senhora do Carmo também. Nunca mais dela me afastei. E tento merecer todas as bençãos que sempre me concedeu.

São por isso 25 anos a colaborar com os párocos. Primeiro com o Revº Emílio, depois o Revº Tarcísio, depois o Revº Luís Ribeiro, agora o Revº Marcelino e às vezes também o Revº João Rosa. As assembleias é que vão sendo cada vez menos numerosas. A Beirã está a ficar sem gente. No coro que tanto empenho me cativa, chegámos a ser mais de 20. Restamos 3 ou 4. De vez em quando, 5 ou 6. Não sei uma nota musical. Não conheço um fá, um ré ou um mi, só sei repetir o que aprendo de ouvido. Depois tento ensinar. E costuma sair bem. Não somos artistas e também a Eucaristia não é um espectáculo, por isso o único que importa é dignificar as celebrações e torná-las mais místicas.

É nisso que me empenho. E é APENAS por isso que dou o melhor de mim. Quase sempre conseguimos que cada celebração seja vivida com muita dignidade e interiorizada por quem nelas participa. Hoje estive toda a tarde no computador a preparar a Eucaristia da Padroeira que será de hoje a 15 dias. Com devoção, empenho, e muito carinho. Vamos uma vez mais honrar a nossa Mãe Senhora do Carmo. Já vou sendo velho e já me faltam às vezes o ânimo e a vontade de continuar porque sinto que já não estamos a conseguir. O futuro a Deus pertence e há que aceitar o que temos, assim como estas cada vez maiores limitações por falta de quorum.

Para 2018 está feito. Falta ensaiar, preparar, ajustar. Vai correr bem. E para o ano logo se verá. 

Haja Deus...