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Já não há pachorra.
1 - Pachorra para explicar que existem cerca de 4 milhões de
refugiados sírios nos países limítrofes, Turquia, Iraque e Libano,
2 - Pachorra para contrapôr que existe uma diferença entre
ser vítima de pobreza endémica por razões sociais, o que infelizmente acontece
em todos os países do mundo mesmo os mais desenvolvidos, e fugir com os nossos
filhos para lhes dar uma hipótese de viver.
3 - Pachorra para explicar que os tão temidos guerrilheiros
do estado islâmico não vieram da Síria para a Europa, mas que grande parte
deles na realidade foram da Europa para a Síria.
4 - Pachorra para contrapôr que existe um estatuto totalmente
diferente, mesmo legalmente, entre um refugiado e um imigrante, a permanência
de um e de outro, obedecem a regras diferentes.
5 - Pachorra para explicar que defender a obrigatoriedade de
civilização de apoiar inocentes, mulheres e crianças que fogem da guerra e da
morte não significa que se defenda que portugueses ou quem quer que seja durma
na rua ou passem fome numa altura do nosso desenvolvimento em que mais riqueza
se produz.
6 - Pachorra para explicar que antes pelo contrário defender
o apoio aos refugiados de guerra é também combater a pobreza e a exclusão, dado
que pior que ter fome e dormir na rua, é ter fome, dormir na rua e temer pela
vida a cada hora e a cada minuto que passa.
7 - Por fim pachorra para explicar o medo, pachorra para
explicar que temos todos medo, temos medo do muçulmano, do moreno, do negro, do
que não conhecemos, sem perceber uma coisa, os Sírios também fogem desse medo,
fogem do "Estado Islâmico" e do medo que ele impõe, e o que procuram
na Europa, nesta Europa, é o esclarecimento, a ordem, no fundo a CIVILIZAÇÃO
que este continente ainda representa para eles e para muitos povos no mundo,
deveríamos orgulhar-nos disso, do facto deles nos procurarem por causa disso.
Eu tenho medo de muitas coisas, mas não tenho medo que os
meus netos se convertam ao islão, não tenho medo que as minhas netas usem
burka, porque existe algo que eu sei...o esclarecimento, a civilização ganha
sempre ao medo e à ignorância.
Pode demorar tempo, mas é essa a lição da história, no fim a
ignorância perde sempre. E nós europeus deveríamos saber isso melhor do
ninguém. Foi aqui neste continente que o "tempo das luzes" começou a
derrotar o obscurantismo, foi aqui que começámos a colocar em causa os dogmas
da religião e escolhemos a ciência para grande parte das nossas certezas.
Sou ateu, mas não islamofóbico, os meus netos serão o que bem
entenderem e por isso não temo a reconquista islâmica do país a partir de um
descampado de Silves, temo sim a estupidez do racialismo de um povo que há
cerca de dois séculos atrás um viajante inglês descreveu como sendo tão
marroquino que era quase negróide. Ficariam chocados de saber que temos
genéticamente mais a ver com os sírios do que com os suecos?
Haverá maior confissão de fraqueza do que o facto de
recusarmos ajuda devido ao medo de sermos conquistados culturalmente por um
homem com fome e uma criança nos braços? Somos assim tão fracos como país com
centenas de anos de história?
Por isso, publiquem os vídeos que quiserem retirados de
contexto com refugiados na Hungria a rejeitar água sabe-se lá porquê, publiquem
fotos de quão sujos e ingratos eles são, publiquem cartoons sobre o secreto
plano árabe para nos conquistar.
Para mim suporto tudo isso para não ver mais nenhum miúdo de
três anos afogado numa praia, chama-se a isso ser...europeu e civilizado.
PS - Sou descendente de judeus...e orgulho-me disso.
Paulo Mendes