Setembro
O sol que secou a face da terra
E deixou sem água ribeiros e fontes
Vai dando lugar na encosta da serra
Às folhas que caem juntando-se em montes
O ar abafado incómodo e quente
É mais fresco agora, muito mais ameno
Com ele se foi a canícula ardente
Bem-vindo setembro do tempo sereno
Olho à minha volta com ar desolado
Pois tudo o que vejo está diferente
Sobreiros que secam por todo o montado
E terras bravias por falta de gente
Já não há pessoas por estes canchais
Nem fontes cantantes pelos caminhos
Ó velhos sobreiros que aos pares secais
Onde irão as rolas fazer os seus ninhos
Setembro é sossego, é melancolia
Silêncio d’outono, sono de criança
Gorjeios de melro ao raiar do dia
Tempo em o tempo se faz de mudança
É ainda o mês em que as madrugadas
Trazem a maresia aos sois das manhãs
Gotas que simulam nas folhas orladas
Tiaras de pérolas das deusas pagãs
Sossega alma minha que já vem chegando
O tempo em que a terra vai ser fecundada
De orvalho, de chuvas, de noites geando
A Natureza inteira a ser saciada
Na roda que gira veloz como o vento
A vida se escoa o tempo a levou
Não se detendo nem por um momento
Na roda girando Setembro voltou
Beirã 1 de Setembro de 2005
José Manuel Lourenço Coelho.
Foto José Coelho
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