Nascer do sol na Beirã 01.09.2019 - Foto José Coelho
Setembro
O sol que secou a face da terra
E deixou sem água ribeiros e fontes
Vai dando lugar na encosta da serra
Às folhas que caem e se juntam em montes
O ar abafado incómodo e quente
É mais fresco agora e bem mais ameno
Com ele se vai a canícula ardente
Bem-vindo Setembro do tempo sereno
Olho à minha volta com ar desolado
Pois tudo o que vejo está diferente
Sobreiros que secam por todo o montado
As terras vazias por falta de gente
Já não há ninguém por estes canchais
Nem fontes cantantes junto dos caminhos
Ó velhos sobreiros que aos pares secais
Onde irão as rolas fazer os seus ninhos?
Setembro é sossego, é melancolia
Silêncio d’outono, sono de criança
Gorjeios de melro ao raiar do dia
O tempo em o tempo se torna mudança
É também o mês em que as madrugadas
Trazem maresias aos sóis da manhã
Gotas que simulam nas folhas orladas
Pérolas em tiara de deusa pagã
Sossega minh’alma que já vem chegando
O tempo em que a terra vai ser fecundada
De chuva, de vento, de noites geando
Natureza ávida de ser saciada
Na roda que gira veloz como o vento
A vida se escoa, o tempo a levou
Deixou a saudade, doce sentimento
Penso aliviado: Setembro chegou...
Beirã, Setembro de 2005
José Coelho