Parque Terra Nostra - S. Miguel - Açores - Abril'18
Não morremos
assim de qualquer maneira
A
semana passada deixei de comer chouriços. E presunto. E fiambre. E mortadela!!!
Esta semana deixei de comer queijo. “Afecta a mesma molécula das drogas duras”,
dizia um estudo. Eu não quero ter nada a ver com isso, gosto muito de queijo,
mas não quero ter nada a ver com drogas, muito menos ser visto como um agarrado
ao queijo. Acabou-se com o queijo cá em casa. Também já tinha acabado com o
pão, por isso…
O
mês passado deixei de beber vinho branco. Um estudo dizia que fazia mal a não
sei quê. Se calhar era cancro também. Passei a beber só tinto que dizia um
estudo ser ideal para uma série de coisas. Esta semana voltei a beber branco
porque, entretanto, saiu um estudo a dizer que afinal o branco até tem
propriedades que fazem bem e muito tinto é que não. Comecei a reduzir no tinto,
mas também acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Cortei
nas azeitonas também porque um estudo dizia que têm demasiada gordura, são
muito insaturadas, ou lá o que é, mas não parece nada bom.
Andava
praticamente a peixe até perceber que os portugueses comem peixe a mais e são,
por isso, prejudiciais ao ambiente. Eu sei que não moro no continente mas como
sou português e ainda contam todos para o estudo, sei lá, os que estão e os que
não estão, e como eu não quero ser acusado de inimigo do ambiente, ando a
cortar no peixe também. Especialmente no atum que está cheio de chumbo e o
bacalhau também porque causa daquele estudo que saiu sobre a quantidade de sal
mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Esta
semana saiu um estudo a dizer que afinal o vinho em geral faz mal. Fiquei
devastado. Há dois meses foram as couves roxas. Vi até um especialista na
televisão dizer que não devíamos comer nada cuja cor seja roxa; “é sinal que
não é para comer”, dizia. Arroz também quase não como porque engorda, quanto
mais esfregado pior, e saiu um estudo a dizer que implica com uma função qualquer
mais ou menos delicada. Não é a reprodutora porque acho que essa é com a soja.
Dá hormonas femininas aos homens, e consequentes mamas, o raio da soja (!) e
prejudica as funções todas. Não, soja nem pensar!
Leite
também já há muito que me livrei dele. Foi, salvo erro, desde que saiu um
estudo a dizer que o nosso corpo não está preparado para leites. Por isso,
leite não. Sumos de frutas também dispenso enquanto não resolverem o problema
levantado no estudo que apontava para… não sei muito bem para quê, mas apontava
e não era nada excitante mas, também, acho que compreendem, não quero morrer
assim de qualquer maneira.
Carne
vermelha, claro, também não. Ataca o coração, diz o estudo. Galinha nem sonhar
porque umas estão cheias de gripe e as outras encharcadas de antibióticos. Além
de que carne de galinha a mais, como dizia outro estudo, impacta com o
desenvolvimento dental, o que até parecia óbvio mas ninguém percebia, pois as
galinhas não desenvolvem dentes. Cortei a galinha há muito tempo. Porco? Só a
brincar. É óbvio que não há cá porco. Não chegassem as salsichas e afins ainda
veio este outro estudo, ou ainda não leu? Pois então, diz que o excesso de
carne de porco pode provocar uma diminuição de massa cinzenta e o aumento dos
ciclos atópicos do mastoideu singular. Ninguém quer passar por isso! Você quer?
Eu não mas, também, acho que compreende, não quero morrer assim de qualquer
maneira. Esqueça-se a carne de porco, pelo amor da santa!
Ah!…
Já me esquecia do glúten! Glúten, também não. É que nem pensar! Durante muitos
anos nem sabia que existia, mas desde que me apercebi da existência de
semelhante coisa arredei tudo o que tivesse glúten. Deixa-me pouca escolha mas,
também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Ovos!
Claro que também não como ovos. Primeiro porque não sou nenhum ovíparo e depois
por causa das quantidades de coisas que aquele estudo que saiu a semana passada
dizia. É um rol senhores, um rol e colesterol! Vão ver e admirem-se! Os ovos!
Quem diria os ovos… Enfim, é a vida: ovos nem vê-los! Como a manteiga: é só
gordura! Desde que acabei com o pão e com o queijo, a manteiga também, por
assim dizer, deixou de fazer falta. Ainda a usava para fritar ovos mas agora
também não se pode comer ovos… Pois, a manteiga, dizia o estudo, é só gordura
animal e animais não devem comer a gordura uns dos outros. Pareceu-me um bom
fundamento e acabei com a manteiga.
Ia
fazer uma salada. Sem muito azeite, claro, porque, compreendem, não quero
morrer assim de qualquer maneira, sem sal, naturalmente e vinagre só do
orgânico, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira…
É
quando recebo um email com o título “Novo Estudo Aconselha a Ingestão Moderada
de Saladas e Hortaliças”.
Enchi
um copo de água, filtrada, naturalmente, de garrafa de vidro e sorvi um golo
ávido. Espero que não me faça mal.”
Encontrei
na net e desconheço o autor