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Soneto do Tempo
Deus pede hoje
estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu
tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar,
sem tempo, tanta conta
Eu que gastei
sem conta tanto tempo?
Para ter minha
conta feita a tempo,
O tempo me foi
dado e não fiz conta.
Não quis, tendo
tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer
conta e não há tempo.
Oh! Vós, que
tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis
vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto
é tempo em fazer conta.
Pois aqueles que
sem conta gastam tempo,
Quando o tempo
chegar de prestar conta,
Chorarão, como
eu, se não der tempo.
António das
Chagas