E como não se vislumbra bem o nome na sepultura, vou tratar-te apenas por Camarada e vou também responder por ti na chamada da formatura do recolher de hoje:
Aos 07 de Março de 2015 nasce este blogue que tal como o seu antecessor TocadosCoelhos pretende apenas ser um ponto de encontro e de entretenimento pautando-se sempre pelas regras da isenção, da boa educação e do civismo em geral. Sejam bem-vindos.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
terça-feira, 29 de setembro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Força, filho...
Foto by Pedro Coelho
Imagem do Google
O nosso coração, o nosso pensamento e as nossas orações, estão contigo.
domingo, 27 de setembro de 2015
Bom domingo...
Foto by José Coelho
A paz interior é o bem mais precioso que você pode cultivar.
E por mais que o mundo seja cheio de estímulos, às vezes, é preciso desacelerar.
Se for o caso, aprenda a viver sozinho, em paz. É possível continuar a vida depois
de ter sido ignorado ou esquecido. É mesmo. Tudo passa no fim de contas.
Por mais vulgar que possa parecer, a vida traz sempre depois algo melhor. Ninguém é
insubstituível e nada é maior do que a sua paz, do que a sua satisfação consigo
mesmo.
Se alguém lhe está a tirar o seu sono, a sua fome, a sua energia,
aproveite e tire você também essa pessoa da sua vida. O
seu bem estar e o seu coração agradecem.
Porque ninguém vale mais do que
a sua paz.
Autor desconhecido
sábado, 26 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Uma União que nunca o foi e lentamente vai escorrendo para o esgoto...
O fulano em causa é um papel higiénico daquele reles que se rompe e caga os dedos quando se limpa o cu.
Que Europa é esta?
por NUNO SARAIVA - Hoje no DN
Depois das imagens de refugiados a serem carimbados por polícias armados até aos dentes nas fronteiras europeias, de discursos mais ou menos inflamados de políticos e não só contra o acolhimento de gente que foge à morte, de muros e cercas de arame farpado erguidos em pleno coração da UE, eis que Viktor Orbán, primeiro--ministro da Hungria, continua empenhado em contrariar o ideal europeu de solidariedade e tolerância. Ontem, em Budapeste, fez aprovar a última tranche de um pacote legislativo antimigrantes que autoriza o destacamento em massa de militares para as fronteiras e permite-lhes fazer buscas em residências privadas onde se suspeite que há refugiados ou, até, em determinadas circunstâncias, abrir fogo contra estes, desde que os disparos contra aqueles que "cercam" a Hungria "não sejam mortais". A toda esta falta de humanidade, ancorada num discurso xenófobo e carregado de preconceito e populismo, a Europa responde com silêncio ensurdecedor e uma condescendência inaceitável com aquilo que Orbán vai dizendo e fazendo. Em Bruxelas conhecemos a dureza e a intransigência com que se punem aqueles que, certamente por irresponsabilidade e incompetência, não cumprem as regras financeiras e por isso têm dívida monstruosa e défices excessivos. Mas perante o manifesto défice humanitário que certas personagens revelam, a Europa emudece. Não gosto de fazer comparações com o passado, mas uma comunidade que se comporta desta maneira só pode sofrer de amnésia em relação ao seu próprio passado e não tem, seguramente, grande futuro. A União Europeia nasceu como projeto de paz e integração e não para ser uma fortaleza que rechaça os "infiéis" fugidos aos seus tiranos. Quem não percebe isto e, sobretudo, quem não pratica esta doutrina de acolhimento brandindo o mantra da fé que contraria a cultura ocidental, não pode ter lugar à mesa de Bruxelas. E é bom que alguém diga isto na cara de Viktor Orbán.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Solidariedade, caridade, generosidade, humanidade e outras coisas terminadas em "ade"...
Imagem copiada do Google
O que os nossos olhos vêem por tudo o que são órgãos de comunicação social acerca do modo como estão a ser tratados, numa Europa dita civilizada, os "fugitivos" da guerra e do caos que reina nas suas terras onde não lhes é permitido viverem em paz, é, em meu entender, VERGONHOSO.
Como se não bastasse a dor de terem que deixar para trás tudo quanto foi a sua vida até a mesma se ter tornado num verdadeiro inferno com o perigo e a morte a espreitarem a cada esquina, com famílias desfeitas ou porque morreram num bombardeamento, ou porque foram capturados e feitos reféns pelas partes em litígio.
Como se não fosse já suficientemente problemático e traumatizante o sobressalto constante de quem vive o dia a dia naquelas perigosas zonas de permanentes conflitos e que por causa deles se vêem obrigadas a fugir para procurar a segurança (que qualquer ser humano merece) a muitos milhares de quilómetros, já que, entretanto, os países vizinhos seus irmãos nos credos e nos costumes para além de podres de ricos não aceitam recebê-los, ajudá-los ou protegê-los, numa inexplicável e crua desumanidade.
Assim sendo, outra opção não lhes é deixada senão a de se aventurarem e meterem-se ao caminho por mais longo que pareça em busca de abrigo e proteção, quer para si quer para os seus. O desespero e o tudo por tudo fá-los ainda meterem-se em barcos inadequados que outros criminosos lhes facultam a troco de gananciosas maquias, sabendo de antemão que a maior parte deles irá perecer em alto mar, como tem acontecido e sobejamente noticiado.
Contudo, porém, muitos são ainda os que de uma forma ou de outra conseguem alcançar o almejado chão seguro. Para quê? Para serem escorraçados, humilhados, rejeitados, agredidos, como se fossem portadores de doenças ruins e contagiosas. A famosa Europa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade, apressa-se a dar o dito por não dito, remete Shengen para os antípodas e aqui não entra mais ninguém, ou, se entrar, serão só uns tantos mil. Os outros? Que se lixem. Que se comam uns aos outros. Que vão morrer longe para não cheirarem mal.
Repito: VERGONHOSO!
Eu estive na guerra. Há 40 anos, sim. Mas lembro-me do que lá passei ainda hoje, lembrar-me-ei até morrer. Não, não sou daqueles traumatizados que se atiram para trás das paredes ou para debaixo das camas quando ouvem um foguete a rebentar. Mas ainda tenho pesadelos e acordo muitas vezes de noite aos pulos na cama. Ou, ao contrário, passo algumas noites a contar carneiros sem conseguir dormir. Quem vive no bem-bom e nunca viu os miolos de um camarada espalhados pelo para-brisas de um unimog, ou um desgraçado quase feliz por ter perdido só um pé na explosão da mina que pisou, a limpar terra e o sangue do coto decepado enquanto murmurava "posso meter um pé postiço..."
Quem, como diz o Paco Bandeira na cantiga, "nunca viu, quem nunca andou a combater, não dá valor nem faz ideia o que é sofrer". Não fazem, MESMO. Nunca fui de histórias da desgraçadinha mas senti a guerra na pele e sei o quanto é horrível acordar todos os dias a pensar que se pode morrer em qualquer momento daquele mesmo dia. De tal modo foi duro que vou confessar-vos uma coisa que nunca disse a ninguém; esqueci o verdadeiro contorno dos rostos da minha mãe e das minhas irmãs. Não conseguia reconstituí-los, por mais que me concentrasse a tentar imaginá-los. Nas fotografias que me enviavam frequentemente pareciam-me sempre tão diferentes! Que estranho, não? Mas que verdade! A minha, a preocupação de todos nós, 24 sobre 24 horas, era sobreviver. Durante o dia, ficar atentos a qualquer movimento estranho no meio daquele inferno verde onde se escondia a morte. Durante a noite, rezar para que não fossemos acordados com o bombardeamento do quartel ao romper da aurora, como já tinha acontecido em outros quarteis da nossa unidade situados a poucos quilómetros do nosso. Não havia nenhum lugar seguro num raio de mais de duzentos quilómetros porque toda aquela imensa superfície era coberta pelo denso e para nós quase impenetrável Maiombe, onde, inexplicavelmente, os guerrilheiros se movimentavam à vontade e sem dificuldades aparentes.
Ora se nós vivíamos assim naquele sobressalto permanente no meio de uma floresta, imagino o que será viver num pais, numa cidade, numa vila ou numa aldeia rodeados desse medo incessante. Sentir o perigo em cada casa, em cada rua, em cada esquina. Viver cada momento a pensar; será que vou chegar ao fim do dia vivo? E os meus filhos, e os meus pais, e a minha mulher, e os meus irmãos? Será que vamos conseguir sobreviver todos a este inferno? Tentem imaginar uma vida assim com a vossa família. Deve ser para lá de aterrorizante. Eu já há 41 anos que regressei ao sossego e à paz do meu alentejo, contudo, nunca mais fui capaz de ser a mesma pessoa alegre e feliz que em 1972 partiu para o Maiombe. NUNCA MAIS. Esta tendência para a melancolia e para o isolamento é fruto de violentos e íntimos traumas que nunca me abandonaram nem irão abandonar jamais.
Quando há semanas atrás vi aquele miudito morto na praia não contive uma lágrima de revolta e de frustração pela incompetência na ajuda que ele merecia e tanto necessitava. Nós no Maiombe éramos emboscados à traição pelos guerrilheiros do MPLA e da UNITA, morreram 18 camaradas desfeitos por balas e minas, e mais 103 feridos graves tiveram que ser evacuados, muitos dos quais foram morrer aos hospitais de Luanda dias mais tarde, ou ficaram estropiados para sempre como aquele que perdeu o pé, mas nunca maltratámos a população indígena, nunca os olhámos a todos como inimigos nem nos vingámos nos inocentes, muito pelo contrário, dávamos boleia às mulheres carregadas de filhos às costas e volumes enormes à cabeça, tratávamos os miúdos doentes na nossa enfermaria, transportávamos os adultos doentes na nossa ambulância, ajudávamos a construir-lhes e a equipar-lhes escolas.
Dei o meu almoço a duas meninas irmãs de tenra idade certo dia porque não aguentei o olhar faminto delas no meu prato. Elas à espera de boleia para o Buco Zau em frente ao posto de rádio, onde eu, de radiotelegrafista de turno àquela hora, me preparava para comer umas batatas com peixe cozido. Perante aqueles enormes olhitos aguados, não consegui meter sequer uma batata pra boca. Chamei-as, sentei as duas na mesa do posto de rádio e dei-lhes o almoço a elas. Fiquei mais saciado com a gratidão que vi naqueles dois rostinhos negros do que se tivesse almoçado um bom bife. Foi isso que vi também sempre fazer à minha mãe durante toda a sua vida e aprendi com ela. Repartir. Repartir. Repartir. E foi sempre tão pobre a minha família. Mas mesmo assim sabiamos repartir. Quando era preciso, repartia-se. Foi o que eu fiz naquele dia sem pensar duas vezes. E não me senti nem herói nem santo. Senti apenas que tinha feito o que era preciso fazer naquele momento.
É exactamente o que eu acho que a Europa deveria fazer. Repartir. O pão, a paz, a solidariedade. Se há dinheiro para tanta coisa dispensável e secundária, também tem que haver para dar pão a quem tem fome porque isso é prioritário e indispensável para aquela gente que está a fugir da morte, da guerra e do medo. Terroristas infiltrados no meio deles? É possível. Cabe contudo aos serviços próprios de cada país, selecionarem vigiarem e neutralizarem potenciais suspeitos. Mas que isso seja um pretexto para negar ajuda generalizada é inconcebível. Nós não temos cá terroristas. Mas todos os dias morre gente na estrada ou assassinada. Mulheres pelos maridos, ou ajustes de contas, ou por causa de partilhas, ou de uma levada de água... Ou... Ou... Ou. Não é bem terrorismo mas é morte violenta na mesma!
Invasão da Penínula Ibérica da Europa ou do resto do mundo pelo estado islâmico? Não me amolem com essas fantasias que só são boas para quem ao ver os problemas dos outros costuma assobiar para o lado, a fingir que os não vê...
Invasão da Penínula Ibérica da Europa ou do resto do mundo pelo estado islâmico? Não me amolem com essas fantasias que só são boas para quem ao ver os problemas dos outros costuma assobiar para o lado, a fingir que os não vê...
domingo, 20 de setembro de 2015
Verdade...
Eu integro-me (felizmente) nos que nunca tiveram quase nada e nunca me cansei de agradecer, ao fim de cada dia.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
O mais elementar direito...
Do mural de uma amiga no Facebook
"Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações: a dos vivos e a dos mortos".
Mia Couto
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
E venham os serões à lareira...
Foto by José Coelho
Estava a ver que iam chegar primeiro as chuvadas d'outono do que a lenha para alimentar a lareira no próximo inverno. Não é que estivesse muito muito aflito porque sobraram talvez mais de duas toneladas do inverno passado que se encontram devidamente guardadas debaixo de telha e que vão com certeza ser suficientes até lá para tantos de Janeiro ou Fevereiro de 2016. Mas, normalmente, logo nos finais da primavera, princípios do verão, é costume tê-la toda arrumada no seu lugar, o que este ano excepcionalmente não aconteceu. É verdade que ainda estamos no verão mas ele já está de pantanas e eu cá sou com'à formiguita. Gosto de encher o celeiro no verão de tudo aquilo que irá fazer falta no tempo frio e de maior escassez. Batatas, cebolas, alhos, conservas de legumes, compotas, vinho, azeite e, claro, a lenha.
Foi mesmo à tabela! Poucas horas depois de os sólidos madeiros de carvalho serem todos empilhados nos telheiros construídos para esse fim específico, quer na minha, quer na Toca 2 da Escusa, começou a chover. E que noite de chuva santo Deus. Parecia que andava o diabo à solta. Mal anoiteceu, veio, não sei de onde, um ambiente revolto, invernoso, com o vento a assobiar zangado pelas frestas das venezianas das janelas e a sacudir furiosamente os sobreiros da tapada mais as árvores de fruto do nosso quintal e as dos quintais vizinhos. Hoje pela manhã era um rodo de ramos e folhas diversas, figos secos, laranjas, limões e azeitonas espalhados um pouco por todo o quintal como lhes se tivessem andado a varejar as mães, que, coitadas, apresentavam todas elas um ar desgrenhado e com ramos rasgados aqui e ali, sinais evidentes da agitação da noite.
Fez-me lembrar Agosto de 1976, aquele em que começou a chover no dia 13, a véspera do nosso casamento. Estávamos na esplanada do Restaurante Sever da Portagem a festejar a despedida de solteiros, eu, a minha noiva e mais um punhado de amigos e familiares convidados (naquele tempo essa despedida era mesmo só no último dia de solteiros) mas tivemos que vir todos embora por causa da chuva que começou a cair a meio do serão. Falámos sobre essa casualidade com a D. Julieta Garraio, proprietária já naquela data de tão excelente espaço, e que, curiosamente, continua a sê-lo ainda, passados todos estes anos, no jantar comemorativo do nosso 39º aniversário matrimonial, há pouco mais de um mês. Naquele ano (1976) nunca mais parou de chover a partir daquela data. Fomos em lua de mel para Madrid (casa dos cunhados) depois Aveiro (Hotel Afonso V), Matosinhos (casa dos compadres) e São Bento da Porta Aberta a caminho das Termas do Gerês, sempre debaixo de um tempo húmido, desagradável, incerto. Os picos das serras do Parque Nacional da Peneda todos cobertos de neblinas em pleno Agosto, a estrada com centenas de curvas e toda encharcada pela chuva miudinha desde Matosinhos até lá.
Obviamente, nunca mais me esqueci de nenhum daqueles pormenores. Nem sequer de quanto custou a nossa lua de mel que durou uns felicíssimos quinze dias, muito bem passados e ainda melhor viajados. Trinta contos. Cento e cinquenta euros! As coisas que a gente fazia com um pequeno punhado de escudos no bolso, naquele tempo que parece já tão longínquo. Nunca fomos de grandezas mas soubemos aproveitar a nossa vida e dentro da maior simplicidade temos sido minimamente felizes. Não gosto de ser velho do restelo mas desconfio que não nos esperam já muitos dias felizes daqui em diante, dada a conjuntura atual de tudo aquilo que nos rodeia, quer no nosso país, quer nos outros países desta Europa que se fundiu numa pretensa união de vários estados e que cada vez se revela menos unida, menos solidária e menos auspiciosa. Os interesses do capital que financia esses estados sobrepuseram-se aos interesses das pessoas e tira-se, se preciso for, o pão da mesa das famílias, o teto de cima das suas cabeças, se tanto for necessário para que o capital não sofra perdas nem danos.
O mundo está, qual vulcão prestes a entrar de novo em atividade, numa ebulição que me parece extremamente perigosa. Basta estarmos atentos ao que se passa e é profusamente noticiado. Guerras, terrorismo, extremismos assassinos, gente que foge do inferno da guerra e do medo mas que ninguém parece muito disposto a ajudar, enfim, um caos que se generaliza e aproxima de todos nós muito mais do que parece e seria desejável. A ameaça terrorista, o medo de infiltrações perigosas, a segurança interna de cada país, tudo isso e muito mais torna as pessoas cautelosas, desconfiadas, temerosas. E o espírito de solidariedade, a mais elementar caridade humana para com quem necessita de segurança e paz, fragiliza-se, estremece, evapora-se...
Ena pá!
Eu estava a falar da lenha para o inverno. Da minha e da do meu Manel... Falta a do Pedro, mas essa não vai de cá. Compra-se por lá. Os meus dois rapazes aprenderam comigo a gostarem de passar serões à lareira. Assim. De lume vivo, de lenha seca do campo. A netinha Mariana ainda é muito bébézinha mas a netinha Francisca já apanhou também "o vício". Fica extasiada a olhar para as chamas, estende as mãozinhas e emite um engraçado e consolado aaaahhhh quando sente o agradável calorzinho. Também já aprendeu com o pai dela. Como eu aprendi com o meu. E o meu pai com o avô Faustino, pai dele. Como eles adoravam sentar-se connosco à volta do lume onde sobre a trempe fervia quase sempre a ceia, numa bela sertã espanhola. Mas não era só o avô Faustino. O avô Zé Lourenço era outro devoto do lume no chão com lenha do campo. Tantos feixinhos que o ajudei a fazer e a transportar às costas para que nunca lhes faltasse. A ele e à avó Amélia que em toda a sua longa vida (93 anos) nunca cozinhou em qualquer fogão. A saborosa comidinha dela era sempre confeccionada em lume de lenha. De inverno e de verão. Tenho tantas saudades de tudo e de todos!
Porra! Não vou ficar triste agora. Venha mas é de lá o frio, que a lenha já cá canta...
Obviamente, nunca mais me esqueci de nenhum daqueles pormenores. Nem sequer de quanto custou a nossa lua de mel que durou uns felicíssimos quinze dias, muito bem passados e ainda melhor viajados. Trinta contos. Cento e cinquenta euros! As coisas que a gente fazia com um pequeno punhado de escudos no bolso, naquele tempo que parece já tão longínquo. Nunca fomos de grandezas mas soubemos aproveitar a nossa vida e dentro da maior simplicidade temos sido minimamente felizes. Não gosto de ser velho do restelo mas desconfio que não nos esperam já muitos dias felizes daqui em diante, dada a conjuntura atual de tudo aquilo que nos rodeia, quer no nosso país, quer nos outros países desta Europa que se fundiu numa pretensa união de vários estados e que cada vez se revela menos unida, menos solidária e menos auspiciosa. Os interesses do capital que financia esses estados sobrepuseram-se aos interesses das pessoas e tira-se, se preciso for, o pão da mesa das famílias, o teto de cima das suas cabeças, se tanto for necessário para que o capital não sofra perdas nem danos.
O mundo está, qual vulcão prestes a entrar de novo em atividade, numa ebulição que me parece extremamente perigosa. Basta estarmos atentos ao que se passa e é profusamente noticiado. Guerras, terrorismo, extremismos assassinos, gente que foge do inferno da guerra e do medo mas que ninguém parece muito disposto a ajudar, enfim, um caos que se generaliza e aproxima de todos nós muito mais do que parece e seria desejável. A ameaça terrorista, o medo de infiltrações perigosas, a segurança interna de cada país, tudo isso e muito mais torna as pessoas cautelosas, desconfiadas, temerosas. E o espírito de solidariedade, a mais elementar caridade humana para com quem necessita de segurança e paz, fragiliza-se, estremece, evapora-se...
Ena pá!
Eu estava a falar da lenha para o inverno. Da minha e da do meu Manel... Falta a do Pedro, mas essa não vai de cá. Compra-se por lá. Os meus dois rapazes aprenderam comigo a gostarem de passar serões à lareira. Assim. De lume vivo, de lenha seca do campo. A netinha Mariana ainda é muito bébézinha mas a netinha Francisca já apanhou também "o vício". Fica extasiada a olhar para as chamas, estende as mãozinhas e emite um engraçado e consolado aaaahhhh quando sente o agradável calorzinho. Também já aprendeu com o pai dela. Como eu aprendi com o meu. E o meu pai com o avô Faustino, pai dele. Como eles adoravam sentar-se connosco à volta do lume onde sobre a trempe fervia quase sempre a ceia, numa bela sertã espanhola. Mas não era só o avô Faustino. O avô Zé Lourenço era outro devoto do lume no chão com lenha do campo. Tantos feixinhos que o ajudei a fazer e a transportar às costas para que nunca lhes faltasse. A ele e à avó Amélia que em toda a sua longa vida (93 anos) nunca cozinhou em qualquer fogão. A saborosa comidinha dela era sempre confeccionada em lume de lenha. De inverno e de verão. Tenho tantas saudades de tudo e de todos!
Porra! Não vou ficar triste agora. Venha mas é de lá o frio, que a lenha já cá canta...
domingo, 13 de setembro de 2015
sábado, 12 de setembro de 2015
Bom fim de semana...
Estrada dos Aires - Foto by José Coelho
A tua caminhada ainda não terminou.
A realidade te acolhe
dizendo-te que pela frente
o horizonte da vida necessita
das tuas palavras
e do teu silêncio.
Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com a tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do
mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da
paz
e não do ressentimento.
É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá que ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que
destrói.
Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar à perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e de se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que corre
e o coração necessita de afeto.
Não faças do amanhã
o sinónimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que um nunca mais.
Os teus passos ficaram.
Olha para trás
mas vai em frente
pois há muitos que precisam
que chegues, para poderem
seguir-te.
Charles Chaplin
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Coisas que leio...
Imagem copiada do Google
Já não há pachorra.
1 - Pachorra para explicar que existem cerca de 4 milhões de
refugiados sírios nos países limítrofes, Turquia, Iraque e Libano,
2 - Pachorra para contrapôr que existe uma diferença entre
ser vítima de pobreza endémica por razões sociais, o que infelizmente acontece
em todos os países do mundo mesmo os mais desenvolvidos, e fugir com os nossos
filhos para lhes dar uma hipótese de viver.
3 - Pachorra para explicar que os tão temidos guerrilheiros
do estado islâmico não vieram da Síria para a Europa, mas que grande parte
deles na realidade foram da Europa para a Síria.
4 - Pachorra para contrapôr que existe um estatuto totalmente
diferente, mesmo legalmente, entre um refugiado e um imigrante, a permanência
de um e de outro, obedecem a regras diferentes.
5 - Pachorra para explicar que defender a obrigatoriedade de
civilização de apoiar inocentes, mulheres e crianças que fogem da guerra e da
morte não significa que se defenda que portugueses ou quem quer que seja durma
na rua ou passem fome numa altura do nosso desenvolvimento em que mais riqueza
se produz.
6 - Pachorra para explicar que antes pelo contrário defender
o apoio aos refugiados de guerra é também combater a pobreza e a exclusão, dado
que pior que ter fome e dormir na rua, é ter fome, dormir na rua e temer pela
vida a cada hora e a cada minuto que passa.
7 - Por fim pachorra para explicar o medo, pachorra para
explicar que temos todos medo, temos medo do muçulmano, do moreno, do negro, do
que não conhecemos, sem perceber uma coisa, os Sírios também fogem desse medo,
fogem do "Estado Islâmico" e do medo que ele impõe, e o que procuram
na Europa, nesta Europa, é o esclarecimento, a ordem, no fundo a CIVILIZAÇÃO
que este continente ainda representa para eles e para muitos povos no mundo,
deveríamos orgulhar-nos disso, do facto deles nos procurarem por causa disso.
Eu tenho medo de muitas coisas, mas não tenho medo que os
meus netos se convertam ao islão, não tenho medo que as minhas netas usem
burka, porque existe algo que eu sei...o esclarecimento, a civilização ganha
sempre ao medo e à ignorância.
Pode demorar tempo, mas é essa a lição da história, no fim a
ignorância perde sempre. E nós europeus deveríamos saber isso melhor do
ninguém. Foi aqui neste continente que o "tempo das luzes" começou a
derrotar o obscurantismo, foi aqui que começámos a colocar em causa os dogmas
da religião e escolhemos a ciência para grande parte das nossas certezas.
Sou ateu, mas não islamofóbico, os meus netos serão o que bem
entenderem e por isso não temo a reconquista islâmica do país a partir de um
descampado de Silves, temo sim a estupidez do racialismo de um povo que há
cerca de dois séculos atrás um viajante inglês descreveu como sendo tão
marroquino que era quase negróide. Ficariam chocados de saber que temos
genéticamente mais a ver com os sírios do que com os suecos?
Haverá maior confissão de fraqueza do que o facto de
recusarmos ajuda devido ao medo de sermos conquistados culturalmente por um
homem com fome e uma criança nos braços? Somos assim tão fracos como país com
centenas de anos de história?
Por isso, publiquem os vídeos que quiserem retirados de
contexto com refugiados na Hungria a rejeitar água sabe-se lá porquê, publiquem
fotos de quão sujos e ingratos eles são, publiquem cartoons sobre o secreto
plano árabe para nos conquistar.
Para mim suporto tudo isso para não ver mais nenhum miúdo de
três anos afogado numa praia, chama-se a isso ser...europeu e civilizado.
PS - Sou descendente de judeus...e orgulho-me disso.
Paulo Mendes
terça-feira, 8 de setembro de 2015
sábado, 5 de setembro de 2015
País que não respeita o passado, não é digno do presente...
A minha especialidade. Transmissões. Chamar a base. Pedir socorro.
Campa abandonada de um soldado português da Guerra do Ultramar
Nenhum militar morto em combate deveria jamais ficar assim sepultado e depois esquecido no meio do mato como se não tivesse Família, Pátria ou Dignidade. É uma falta de respeito sem tamanho pela memória de quem deu o melhor que tinha para dar:
A própria Vida.
Não sei quem foste, camarada. Mas sei que és um herói. E eu estive por lá também, talvez perto ou talvez longe desse local onde tombaste por um país que há muito te esqueceu. Hoje, triste por ti, irei rezar pelo teu descanso eterno, antes de me dormir.
E como não se vislumbra bem o nome na sepultura, vou tratar-te apenas por Camarada e vou também responder por ti na chamada da formatura do recolher de hoje:
- Presente!
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Realidade inimaginável nesta Europa do século XXI...
Imagens e texto copiados do Facebook
Uma criança é o mundo
inteiro
(por: Juan Cruz en El Pais)
03 - Quinta-feira - Set
2015
A morte de uma criança
é uma afronta, um grito da vida contra a morte. Uma criança morta na praia, no
lugar em que acontece esse idílio do mar com a terra e que aí não espalha
felicidade, mas o terrível som de uma notícia de que chove como o pranto no
coração. Uma criança morta na praia, em busca de refúgio no mundo, fugindo da
guerra, fugindo do som cruel das armas e também da fome.
Essa imagem da criança
síria morta numa praia turca, a desolação que apresenta o gesto do guarda que
foi salvá-lo, a luz, a praia, essa costa que parece um símbolo da própria
passagem descalça da criança por um mundo que já não vai recebê-lo nunca, nem
ele nem muitos. É um poema comovente, um réquiem como aquele que entoava José
Hierro: é uma criança como milhões de crianças, um ser humano que já ri,
pergunta e persegue sombras como se fossem brinquedos.
A machadada cruel dos
nossos tempos faz dela o retrato com o qual a consciência do mundo há de
conviver como expressão dessa afronta. O guarda fez o gesto desesperado; mas
antes do guarda foi o mundo que não soube salvá-la; o guarda foi o herói dos
olhos tristes, fez tudo o que podia. O mundo não soube salvá-la. Seu único
destino, o de seus pais, o de seus passos, era sobreviver; seu horizonte não
era sequer viver, ter profissão, amores e despedidas: seu destino, esse que
agora jaz sem vida no mundo, era o de desenhar na areia a casa, o barco, e já
não há nem casa nem barco nem nada. Não há nada. O mundo levou-lhe tudo: nem
este nem aquele, nem este país nem este outro: o responsável por esta terrível
expressão dos nossos tempos é o mundo inteiro, porque a criança é também o
mundo inteiro. Suas mãos são os desenhos que deixa, seu corpo de três ou quatro
anos é o que resta da árvore que ela teria imaginado que era a vida, e antes da
hora soube que o mundo não sabe salvar as crianças, porque também desconhece
como se salvar. Aí jaz, nessa praia, o mundo inteiro.
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