Muitas
críticas se têm feito – eu próprio também já fiz algumas – à prestação de
cuidados de saúde nas unidades de saúde públicas do nosso país de um modo geral,
seja por demoras excessivas no atendimento, por demoras excessivas nas chamadas
para exames, cirurgias ou consultas, por todos os motivos e mais um, amplamente
divulgados nos OCS mais ou menos mediáticos, comedidos nuns exagerados noutros,
mas quase todos por motivos reais.
Tal
como dei conta na hora, sofri uma aparatosa queda no passado sábado quando fui
apanhar azeitona oferecida por um amigo de toda a vida para conserva caseira,
mas apesar do aparato e do desconforto intenso inicial não fiz grande caso e
mal a dor passou ligeiramente já eu estava de volta das oliveiras a colher dois
baldes da dita cuja só me tendo apercebido dos ferimentos na palma da mão
direita quando vi as azeitonas que colhia ficarem ensanguentadas.
Envolvi
os ferimentos com o lenço e continuei até ter a quantidade que queria apanhar
após o que meti os baldes na mala do carro e rumei a casa. Ainda quente mas já
a sentir uma dor estranha na zona lombar bem como o pulso e mão direita a
latejarem e a incharem, tomei um duche, desinfetei as feridas com betadine e
fui almoçar. Primeiro sintoma raro foi o de não conseguir segurar o garfo com a
mão direita por me doer tanto e ter de usar só a esquerda.
À
medida que ia arrefecendo aumentava o desconforto. O segundo sintoma
dolorosamente raro foi não conseguir levantar-me do banco da cozinha em que
estava sentado com uma dor aguda e a sensação de que algo estava a “morder-me”
no interior da coluna lombar ao nível dos rins.
-
É só doído – conjeturava mais a marida!
-
É amassado por ter embatido desamparado com as costas de chapa no alcatrão! Cremes
reumatismais, saco de água quente sobre uma toalha húmida, um relaxante
muscular Adalgur de 8 em 8 horas entremeado com um Brufen 600 mg de 12 em 12 a
ver se isto melhorava. Qual quê! Na noite de sábado para domingo ainda dormi
alguma coisa, sedado pelos analgésicos mas na noite de domingo para
segunda-feira não dormi um segundo sequer porque não conseguia mover-me
sem que a dor aguda, enjoativa e intensa me dissesse logo:
-
Fica quieto!
Ufff
que noite!
E
na manhã de segunda-feira para me levantar?
Tive
primeiro de me atravessar na cama muito devagarinho, escorregar para o chão até
ficar de joelhos, amparar-me no guarda-fatos até ficar de pé, suster a
respiração para aguentar a intensa dor lombar e finalmente telefonar ao filho
Manel e à nora Paula a pedir ajuda. Entre os dois conseguiram-me uma consulta
com a nossa extraordinária médica de família que me mandou lá ir e perante o
quadro que lhe apresentei me enviou de imediato para o SU da ULSNA –
Portalegre.
Meio
apreensivo já, quer pelas dores imparáveis, quer pela má fama geral daquele SU
onde conterrâneos meus já tiveram de esperar doze horas para serem atendidos,
lá foi o filho comigo e com uma carta fechada da distinta médica para o SU
mencionado que não estava muito concorrido embora houvesse utentes que àquela
hora, cerca das seis da tarde, lá permaneciam desde as dez da manhã.
Antes
de prosseguir, devo informar que foi a primeira vez na minha vida que tive de
recorrer a um Serviço de Urgência hospitalar. Muitas vezes já lá tinha ido e
permanecido horas de espera com a minha mãe, com a minha marida e outros
familiares, mas apenas como acompanhante. Por isso esta foi de facto a
minha primeira vez enquanto utente daquele serviço específico.
E
não posso, não quero nem devo ficar calado, porque entendo ser um ato cívico e
de cidadania enaltecer a forma profissional, correta, rápida e genuinamente
simpática como fui atendido desde o guichet de ingresso, sala de triagem,
seguidos da chamada ao gabinete do médico em serviço na Urgência que me
encaminhou para o Serviço de Radiologia onde poucos minutos depois me foram
feitos os Rx necessários, após o que também quase de seguida – nem deu tempo de
voltar a sentar-me na sala de espera – fui chamado ao gabinete do médico
ortopedista de serviço que já tinha no ecrã do seu computador as imagens dos
exames que eu acabara de realizar.
Fui atendido e tratado por cada um destes profissionais com uma simpatia, educação e profissionalismo que nada ficam a dever à dos hospitais e serviços de saúde particulares que bem conheço também. Independentemente do diagnóstico que não foi o melhor, senti que fui atendido e tratado de uma forma diametralmente oposta àquela que a vox populi tantas vezes difunde e propagandeia como habitual, mas que afinal não é. O seu a seu dono.
Conversando
com o filho no regresso a casa ele foi dizendo que o senhor que lá estava desde
as dez da manhã teve necessidade de fazer uma TAC que demora sempre um pouco
mais pela sua complexidade e ainda pela necessidade de esse exame ter de ser
analisado por um especialista nem sempre presente e por quem é necessário
esperar, sendo o doente só despachado de volta para casa ou ficar internado, em
função do diagnóstico desse clínico.
Também
as demoras são variáveis em função da gravidade de cada caso ingressado, tendo
obviamente prioridade os mais agudos. Sendo o meu caso uma suspeita de fratura
da coluna lombar teve um tratamento mais imediato que outros em que a situação
clínica era menos grave. A triagem não é feita pela cor dos olhos de ninguém,
mas pela urgência na detecção e tratamento do quadro clínico de cada paciente, mas também, obviamente, pela maior ou menor afluência diária de utentes ao SU.
Infelizmente
nem sempre a boa-fé e integridade daquilo que se difunde é
como deveria ser. Ou porque somos do contra, ou porque estamos zangados com o
governo, ou porque somos adeptos do dividir para reinar, dizemos mal só porque
sim. Eu não tinha lá qualquer “cunha”, não conhecia lá ninguém, não pedi nada a
ninguém e fui muito, muito, muito bem tratado.
Por
isso aqui deixo esse mais que justo registo.
Obrigado
a todos os Profissionais da Saúde do Banco de Urgências da ULSNA Portalegre que
ontem me atenderam e trataram tão bem. Entrei por volta das dezoito horas, saí
com o diagnóstico e receituário na mão, pouco depois das dezanove.
Bem
hajam.
José Coelho