segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Família e aconchego

Enquanto o filho cuidava dos grelhados, avô e a neta divertiam-se!



Ontem foi um domingo como quase todos os outros domingos do ano. E escrevi "quase" porque foi dia de almoço familiar em casa do filho mais velho que de vez em quando promove estas ajuntadas com a família possível. Desde que me conheço o domingo foi sempre o dia desse aconchego fraterno. Noutros tempos ainda não muito distantes a grande mesa da nossa sala de jantar na Toca dos Coelhos ficava tão rodeada de gente que as suas oito cadeiras eram insuficientes e tínhamos de acrescentar os lugares para mais do dobro. 

Como era bom esse convívio com os entes queridos...

Ainda assim, mesmo sendo agora muito menos os comensais, um domingo sem família em casa e rancho melhorado nem parece já domingo. Tentei durante muitos anos não deixar extinguir essa tradição que herdei do senhor meu Pai a quem nada dava mais alegria do que ver à sua volta o filho e as filhas, a nora e os genros, as netas e os netos, ainda que as suas posses fossem modestas e o rancho não fosse, porque não podia mesmo ser, muito diferente do que era nos restantes dias da semana.

Porém mais importante do que qualquer iguaria que se pusesse nos pratos para se comer, era o facto de estarmos ali unidos e felizes. Tudo o resto com toda a certeza era mais que bom e suficiente. Foi nessa escola de benéfica simplicidade que aprendi a dar mais importância ao apego fraterno do que a qualquer outro bem material. Foi também onde formei no meu espírito a certeza da importância vital que a união familiar tem, para, através do exemplo, moldar o carácter dos nossos filhos porque lhes transmite alguns dos valores e princípios fundamentais da vida em sociedade. 

Porque naturalmente, quem aprende a amar e a respeitar os entes queridos, aprende por acréscimo e sem qualquer dificuldade a estimar e a respeitar também todos os outros em seu redor.

Reconheço hoje sem nenhuma dificuldade que é uma batalha em vias de extinção. A dispersão da família que resta e o atual conceito de vida em que para conseguirem fazer face às despesas quotidianas têm de se empregar os dois elementos do casal, alterou por completo esses antigos preceitos da vida em família. As crianças que antes eram entregues aos avós enquanto os pais trabalhavam são hoje entregues em infantários que os acolhem e cuidam desde muito tenra idade.

Os mesmos motivos que originam essa separação prematura de filhos e pais estendeu-se aos progenitores que já não podem agora também contar com o apoio dos filhos no limiar das suas vidas e por isso terminam os seus dias em lares de idosos completamente fora do contexto habitual do ambiente familiar.

É o que temos e há não só que compreender como também aceitar. Ainda assim e enquanto puder tentarei manter o que aprendi e me enriqueceu com incontáveis momentos da maior felicidade rodeado quase sempre por todos aqueles que incondicionalmente amei mas já partiram, que tenho ainda, amo e amarei enquanto viver.


Tenham uma excelente semana...


José Coelho

Foto Mariana Coelho