sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Sou (também) assim

Selfie José Coelho

Há pessoas que gostam de estar sozinhas. Pessoas que precisam de estar sozinhas. Como eu. É que estar sozinho não significa sentir-se sozinho. Uma coisa é não ter ninguém ao pé, outra coisa é não ter ninguém que nos dê a mão, se for preciso. Podemos estar sozinhos sem sentir solidão e podemos sentir-nos absolutamente sós numa sala cheia de gente. Estar sozinho não é estar só, é estar a sós. Estar a sós conosco. É sermos a nossa própria companhia, ouvirmos a nossa voz de dentro, sem o ruído que vem de fora e que silencia os nossos pensamentos. Estar sozinho não é ser sozinho. Estar sozinho é coisa do corpo, sentir-se sozinho é assunto da alma. Às vezes, precisamos de estar sozinhos porque a alma precisa de espaço.
In lado.a.lado
29.10.2020

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Um padre a sério

Capela da Fronteira do Porto de Roque - Marvão
Foto José Coelho

Quando alguém julgar o teu caminho, empresta-lhe os teus sapatos. O detalhe fundamental que torna uma pessoa bonita, é a alma: se tu não fores bonito por dentro, nunca serás bonito por fora. Antes de decidires qualquer coisa na tua vida, espera até sentires paz no teu coração. A paz é o sinal que tu fizeste a escolha certa. Ninguém sabe quando será o último abraço… por isso, por precaução ou por amor, abraça sempre como se fosse a última vez. Nada é o que parece ser. O mar de longe é azul, de perto, verde, por dentro, transparente. Aparentemente tudo é diferente do que realmente é. Eis, então, o segredo para não julgar: em vez de olhar o mar de longe, mergulha! Dizia alguém que quanto mais vazia estiver a carroça mais barulho faz na calçada. Por isso, quando vires uma pessoa que grita, fala mais alto do que todos, trata alguém de forma grosseira, lembra-te que essa pessoa, é vazia como a carroça. A oração mais linda de um novo dia, é de não adiar os momentos preciosos. As palavras têm poder. Então, permite só no teu vocabulário as melhores, as positivas, as que fazem tão bem que são confundidas com preces. A mente e palavra que procuram vingança, destroem um estado. Enquanto as que buscam reconciliação, constroem nações. Às vezes, precisamos deixar ali, naquele lugar frio, sombrio, onde estivemos aprisionados pela dor, pelo medo, pelo sofrimento…toda a raiva, todo o ódio, todo o ressentimento. Se assim não for, continuamos a ser prisioneiros. A lâmina de barbear é afiada, mas não pode cortar uma árvore. Um machado é forte, mas não pode cortar cabelo. Todo o mundo é importante com o seu propósito único. Nunca menosprezes ninguém, trata sempre com respeito. Dizem que se falarmos gentilmente com as plantas que as ajudamos a crescer. Imagina o que acontece quando falas gentilmente com as pessoas… que neste novo dia que inicias, possas ser luz para os que estão á tua volta, e permite que Jesus, esteja nas tuas palavras e gestos. Um dia muito feliz e abençoado para todos.

P.e Ricardo Esteves

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Diz quem sabe

~
Foto Pedro Coelho


Não procure a felicidade – não é algo que se possa encontrar em outra pessoa ou em coisas materiais. A felicidade está em si e deve aprender a arte de desenvolver as suas habilidades e refletir sobre as suas conquistas e objetivos, sendo esse o caminho da felicidade

Se estiver satisfeito consigo mesmo e tiver a segurança de ser bom, inteligente e digno, nunca precisará da validação das outras pessoas.

Se realmente quer algo na sua vida, não espere nem peça permissão ou aprovação de outra pessoa para fazê-lo. Você deve ter o controlo.

Seja uma pessoa madura, alguém com conhecimento que sabe como usá-lo. Uma pessoa imatura geralmente tem o conhecimento, mas não sabe o que fazer com ele, por isso os imaturos vivem a criticar os outros.

Certifique-se que planeia as suas ações e organiza as suas prioridades e a sua vida. Como resultado, a felicidade será sua companheira.

Ninguém pode remover completamente outra pessoa da sua vida . Alguns só avançam mais rápido e aqueles que são deixados para trás são considerados rejeitados.

Não pode agradar a todas as pessoas, é impossível, e se tentar só se sentirá desconfortável e emocionalmente cansado.

Se alguém que lhe fez um favor e, a algum momento, o fez sentir culpado ou ingrato, retribua o serviço prestado e afaste-se dessa pessoa.

Alguém sem boas qualidades e realizações próprias começará a criticar e falar mal dos outros.

Não reprima os sentimentos de depressão, pois embora possam ser horríveis e difíceis, permitirão explorar profundidade da sua alma, pensar em si mesmo e entender as suas necessidades.

Conversar com amigos e pessoas que aprecia é bom e divertido, mas também pode ser útil conversar com os seus “inimigos”. Isso pode torná-lo mais consciente dos seus defeitos e maus hábitos e aprender coisas sobre si mesmo.

Se gosta de sonhar acordado, certifique-se que fantasia apenas sobre os sonhos que pode alcançar. Mantenha os seus sonhos no plano do atingível ou vai acabar por perder o seu foco e sentir-se frustrado.

Ler um bom livro será sempre muito mais benéfico do que falar com uma pessoa superficial.

Não mergulhe na vida dos outros e concentre-se em algo que o beneficia, como ciência ou filosofia.

Se quer descobrir quem é o seu maior inimigo, basta olhar ao espelho. Depois de se enfrentar a si próprio, qualquer outro inimigo será derrotado.

Vai sempre haver alguém que o critica, mas não deve prestar atenção. Lembre-se que quando alcançar os seus objetivos, todas essas críticas não significarão nada.

Há apenas uma razão que justifica deixar o emprego e terminar os seus relacionamentos: a incapacidade de crescer pessoal e profissionalmente.

Não tenha medo de falar com as pessoas, especialmente se mal se conhecem, para que possam pensar positivamente sobre você.

Se a algum ponto sentir solidão, não veja isso como algo negativo. Nesse momento, pode crescer emocional e espiritualmente e até melhorar a sua produtividade.

Não existe lógica feminina ou masculina, o que existe é a capacidade de ser sábio e pensar corretamente.

A felicidade aumenta quando partilha e faz outras pessoas felizes. Partilhe a sua alegria com os seus “inimigos” também e deixe-os saber que se sente muito bem.

Aprenda a viver por si mesmo, sem necessidade de se testar diante de outras pessoas. Caso contrário, poderá passar o resto da sua vida a tentar agradar aos outros.


Dr Mikhail Litvak 

(Psicólogo e Psicoterapeuta russo)

Um novo desafio

Com o Rui Gavancha na tomada de posse
Foto Jorge Rosado - 17.10.2021


 

sábado, 16 de outubro de 2021

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Desisto

Foto Maria Coelho no Ramal de Cáceres - Horta do Faleira

Foto Maria Coelho no Ramal de Cáceres - Horta do Faleira

Foto José Coelho na PN da Cavalinha

Adeus, meu Ramal de Cáceres. Dei a cara por ti, fiz o que pude, acreditei que ias voltar a ter o teu comboio sobre estes carris porque havia projetos interfronteiriços desde setembro de 2020, havia condições conforme foi confirmado em direto por governantes dos governos de Portugal e de Espanha para quem os quis ouvir, mas não foi suficiente. Há pessoas que não o querem já porque, entretanto, outros (menores mas mais astutos) valores se levantaram. Que assim seja.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Que...

Outono na estrada da Amieira - Castelo de Vide
Foto José Coelho


Que eu continue com vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, uma lição difícil de ser aprendida.
Que eu nunca perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles vão indo embora das nossas vidas.
Que eu realimente sempre a vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, sentir, entender ou merecer essa ajuda.
Que eu mantenha o meu equilíbrio, mesmo sabendo que muitas coisas que há no mundo, entristecerão os meus olhos.
Que eu conserve a minha garra, mesmo sabendo que as derrotas e as perdas são ingredientes tão fortes como os sucessos e as alegrias.
Que eu atente sempre mais a minha intuição, porque ela sinaliza o que de mais autêntico eu possuo.
Que eu pratique mais o sentimento de justiça, mesmo no meio da turbulência de duvidosos interesses.
Que eu ame sempre a minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exige muito, para manter a sua harmonia.
E, acima de tudo...
Que eu me lembre sempre que todos nós fazemos parte desta maravilhosa odisseia chamada Vida, criada por alguém superior a todos nós!
E que as grandes mudanças não acontecem por grandes feitos
só de alguns, mas sim pelos pequenos feitos quotidianos de todos.

Chico Xavier

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Viver e aprender

Não olho para trás com raiva nem para a frente com medo, 
mas olho em meu redor com muito mais atenção!
Foto Pedro Coelho

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Regresso

Sócha sobre os canchos do Miradouro da Beirã
Foto Maria Coelho

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
Miguel Torga 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Bom fim de semana

Verdi - Nabucco Va Pensiero - MET 2002

Parabéns, Mãe

Foto Pedro Coelho em 08.10.2011

Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
do tempo em que ajoelhava, orando ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
e a lua branca, além, por entre as oliveiras,
como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu.
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço
vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço
eu balbuciava minha infantil oração,
pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
que mandasse um alívio a cada sofrimento,
que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Guerra Junqueiro

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A Lista, de Oswaldo Montenegro.


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava, hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você.

Andre Rieu Radio City Music Hall New York Amazing Grace

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Finalmente!!!!

Regresso à normalidade amanhã dia 06.10.2021

Cumprir a democracia

~
Foto PS Marvão

1. "Neste 5 de Outubro, reunimos e reforçamos a união interna que existe nas nossas equipas para que possamos continuar a servir o concelho de Marvão e os Marvanenses com o rigor, proximidade e seriedade que é exigida ao Partido com maior representatividade nos órgãos autárquicos do Concelho de Marvão.
Viva Marvão!
PS Marvão"

2. É um privilégio meu fazer parte deste projeto e com a mesma democrática humildade que aceitei encabeçar a lista para a Assembleia de Freguesia da Beirã aceito o escrutínio do voto soberano da população Beiranense. Vou por isso desempenhar o papel que me compete em função dos resultados como é meu dever e obrigação pelo inequívoco respeito que merecem todas as pessoas que acreditaram e votaram em nós. 

José Coelho
05.10.2021

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Mais uma voz a clamar no deserto

Quem faz o que pode, a mais não é obrigado!
Foto Maria Coelho

"Que Interior é este a que cada vez menos ligam e poucos se importam? Para onde nos leva a esperança? Que país é este onde uma cidade pesa mais do que todas as outras? Dos 14 mil milhões de euros a fundo perdido do Plano de Recuperação e Resiliência apenas 5% são destinados ao Interior de Portugal. Sim, 5%. Dos 308 Municípios Nacionais, 165 são Territórios do Interior de Portugal, mais de metade, portanto, sendo que todos juntos apenas conseguirão usufruir de 5% da tal bazuca que aí vem. Tem mais força um piloto da TAP que meio milhão de pessoas do Interior. Neste Interior apenas residem cerca de 17% dos jovens portugueses, o que indica, com clareza, que ou se faz algo sério, impactante e credível, ou a morte anunciada será uma cruel realidade. Se este Interior fosse uma imensidão de Terra deserta, sem história e sem Património (cultural, ambiental, arquitectónico e humano), eu ainda compreendia, mas este Interior de Portugal é de uma dimensão patrimonial, a todos os níveis, extraordinária. Séculos e séculos de conhecimento acumulado, utilizado até hoje na cultura dos solos, na preservação do Património Cultural, na arte de fazer acontecer, na particular forma de receber e na renovação permanente da esperança em sobreviver. Deixar morrer este maravilhoso Interior é assassinar parte do que somos, é matar à pedrada a memória dos nossos antepassados, é violar a alma de quem resiste ao tempo. Não lutar por este Interior é não ser inteligente, não ser audaz, não ser capaz. Um dia, nos anais da história, serão muitas as gerações que serão apontadas como os assassinos do Interior, por nada fazerem para o salvar. Um dia, nos anais da história, todos irão perceber que jamais, partido algum, a partir da Capital do Império, se preocupou com este pedaço de Terra e este incomensurável pedaço de gente. O Interior de Portugal merece bem mais atenção do que qualquer Novo Banco ou qualquer TAP, mas sabemos bem que jamais este Interior de Portugal se atreveria a alimentar tantos sanguessugas quanto estas gamelas alimentam. De uma coisa é certa: se os Homens e Mulheres que amam o Interior de Portugal estiverem à espera que alguém da Capital do Império mexa uma palha que seja para mudar este paradigma, mais vale emigrarem para Marte. Cabe a quem ama este pedaço de Território se unir e, a uma só voz, reclamar o que é nosso por direito: igualdade no tratamento e no acesso às ferramentas de desenvolvimento social, cultural e económico. Talvez um dia, quando a água do mar subir desalmadamente, este pedaço de Terra ganhe o valor que lhe é merecido."

Texto: Paulo Costa

sábado, 2 de outubro de 2021

Faz o vento companhia

Sócha do Miradouro - Beirã

Um amigo que não se deixa ver mas de quem gosto, pese embora seja às vezes mais agreste do que a conta. Há quem ache sinistro o seu uivo quando vem zangado, mas a mim nunca me meteu medo. Nos serões à lareira, ouvi-lo rugir lá no alto do côncavo chapéu de telhas da chaminé da nossa cozinha, era para mim a bendita glória. Indiferente à fúria com que ele embatia lá em cima nas tijoleiras em vê, o lume de lenha crepitava sossegadamente oferecendo o seu calor e conforto a toda a nossa família instalada à sua volta. Em vez de termos medo, o estrondo da invernia fazia com que nos sentíssemos ali em segurança e abrigados. Hoje, a muitas décadas de distância, rodeado de conforto e de mordomias que à época não existiam, sinto infinitas saudades de coisas tão simples como aqueles longos serões de inverno em redor do lume onde a minha mãe preparava a ceia depois do seu dia de árduo trabalho no campo.

 

À medida que fui adquirindo novos conhecimentos tive que, em simultâneo, aprender a lidar com o meu invisível amigo de modo a não me deixar vencer por ele. Coisas tão básicas como acender um lume ao relento para me aquecer nos dias agrestes, húmidos e frios, sem ter que gastar a caixa de fósforos inteira. E acender o lume no pico do verão no meio do restolho das searas para cozinharmos o almoço sem deitar fogo à tapada toda, era também uma aventura repleta de cuidados e truques. Apesar de os camponeses cozinharem sempre em lume de chão as suas refeições fosse onde fosse, ou em que época do ano fosse, os cuidados eram tão eficientes que nunca havia os fogos assassinos de pessoas e do ambiente como há agora.

 

A vida revelou-me ainda segredos que o meu invisível amigo até hoje não descobriu, nomeadamente como é que consegue derrubar quase tudo com a sua extraordinária força, menos as aparentemente frágeis sóchas? Ah pois! Destelha os mais sólidos telhados, levanta coberturas inteiras de armazéns, barracas e barracões, mas uma sócha raramente ele consegue destapar. Deixa-as sempre de pé exatamente como as encontra, seja qual for a fúria que trouxer. A forma cónica das suas coberturas não permite que lhes pegue, nem que as derrube. Não têm frinchas nem fraquezas por onde possa entrar ou pegar. Limita-se por isso a seguir o seu caminho depois de inutilmente se enrolar em redor do ereto e sólido cone vegetal, sabiamente inventado pelos nossos ancestrais para enfrentar tamanha impetuosidade e resistir-lhe.

 

Tive a sorte e o privilégio de os meus avós e tios maternos serem quase todos guardadores de rebanhos. E todos eles viviam parte do ano em sóchas e sôchos onde eu dormia sempre, quando os ia visitar. Já agora, porque muita gente não saberá qual a diferença entre ambos, explicarei que a sócha é uma construção circular fixa com vários diâmetros de raio, com uma parede em pedra seca de mais ou menos metro e meio de altura e uma porta de madeira sobre as quais é disposta em cone uma armação de paus compridos direitos e pouco grossos, afastados entre si vinte ou trinta centímetros, solidamente amarrados uns aos outros com arames desde a base até ao bico da estrutura para serem depois cobertos com camadas sobrepostas de giestas verdes, as quais, à medida que vão secando, se vão transformando numa compacta e impermeável cobertura. Quentes no inverno e frescas no verão, de um dos lados do círculo interior ficava normalmente a zona de estar e comer, ao centro e bem por baixo do topo do cone um quadrado no chão feito de algumas lajes para o lume, enquanto do outro lado do círculo interior ficava a zona de dormir quase sempre sobre tarimbas forradas de restolho macio, por baixo das quais se guardavam as roupas e alguns víveres.

 

Capaz de afrontar também qualquer temporal, o sôcho era o primo-irmão da sócha embora muito mais pequeno e desmontável para se poder mudar de sítio sempre que se tornava necessário. Todo feito em giesta ou palha de centeio dispostos também em camadas sobre uma armação côncava de varas verdes de vime (ou outra madeira flexível) previamente entrelaçadas e fixadas, era composto por quatro peças amovíveis. O lado côncavo direito, o lado côncavo esquerdo, o centro posterior em semi-arco para unir os dois lados côncavos direito e esquerdo, e, finalmente, o centro frontal amovível que fechava o espaço e simultaneamente fazia de porta para utilização diária. Era montado num cabeço nas cercanias do bardo onde o gado pernoitava durante grande parte do ano. Cada vez que o rebanho mudava de um para o outro extremo da herdade, o sôcho era desmontado para voltar a ser montado no novo local de pernoita do pastor e do gado.

 

Mas voltemos ao meu fiel e invisível amigo, que já vai longa a prosa! Em dias menos bons da minha vida e foram muitos, o murmúrio das folhas nos ramos das árvores que ele suavemente balança quando está calmo, ajudou a sossegar tantas vezes as minhas inquietações. E há lá coisa mais repousante do que deitarmo-nos de costas sobre a erva dos campos a observar as brancas nuvens de algodão no seu deslizar pelo azul do céu, guiadas por ele? É, seguramente, o meu mais velho e fiel companheiro. Respeitamo-nos um ao outro. Se vejo que vem zangado viro-lhe as costas, abrigo-me e deixo-o passar. Se pelo contrário vem tranquilo em forma de brisa, gosto de o sentir no rosto a sussurrar-me aos ouvidos impercetíveis notas musicais que parecem conter os timbres das vozes de pessoas queridas que há muito deixei de ouvir.

 

José Coelho

Quase uma vida inteira

São 45 anos a caminhar juntos, Maria Manuela
Foto Pedro Coelho