08.09.19
(Não publico foto de todo o grupo por falta da devida autorização de acordo com a Lei de Protecção de Dados)
"Poucas
coisas na vida são tão gratificantes como deitar a cabeça no travesseiro com a
consciência tranquila, e esse é um privilégio das pessoas que não têm nada a
esconder..." (Luiza
Flecher).
Depois
dos festejos do Dia do Concelho de Marvão e da sua Padroeira Nossa Senhora da
Estrela, bem como dos preparativos indispensáveis que há dias, semanas e meses vinham sendo desenvolvidos para tudo sair o melhor possível, o
resultado final dessa congregação de esforços superou todas as
expectativas.
Como
Marvanense – ou Marvanejo como tão bem canta à Senhora da Estrela o Rancho
Folclórico da Casa do Povo de Santo António das Areias – sinto um particular e
genuíno orgulho.
“Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce” diz o ditado popular. Se Deus quer, não
podemos ver. Se o homem sonha, também não é possível observamos a olho nu. Mas o que
não pode, de todo, ser invisível aos olhos de ninguém é uma obra a ser
concebida por um grupo de pessoas que se unem em redor de um só objectivo:
Preparar
o Dia Maior do Concelho de Marvão.
Este
ano o Presidente, Vice-Presidente e todo o restante staff de Vereadores do
Município de Marvão, o Provedor e demais Órgãos Sociais da Santa Casa da
Misericórdia e o Rev.º Padre Marcelino Marques, empenharam-se activamente em trazer
até nós a RTP1, para, em directo, ser transmitida a Solene Eucaristia da
Padroeira Nossa Senhora da Estrela a todos os Marvanenses – mas não só –
espalhados pelo mundo inteiro.
Coube
por sua vez à Tuna Sénior de Marvão, orientada pelo Professor Carlos Vilhalva e
da qual faço parte mais a minha esposa, a animação litúrgica desta solene
celebração. Coube-me depois a mim apesar de todas as minhas limitações em termos de
conhecimentos de música, coadjuvá-lo na preparação dos cânticos litúrgicos, uma
vez que habitualmente sou também quem há vários anos orienta o coro da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, e às vezes outras, quando necessário.
Não
foi tarefa fácil porque da Tuna fazem parte pessoas que simultaneamente são também elementos dos coros litúrgicos das suas paróquias e outras pessoas que desses cânticos não têm qualquer experiência. A primeira grande dificuldade a
transpor foi exactamente essa. Cada coro de cada paróquia tem o seu modo de
interpretar e executar os cânticos. Cada um tem o seu estilo. Nenhum
será perfeito mas também nenhum é melhor ou pior que os outros. Porém, para esta solene celebração era fundamental uniformizar todos num só modo.
E conseguimos.
E conseguimos.
Somos
tão poucos os que nos dispomos a “dar a cara” ao serviço das nossas pequenas comunidades
que devemos ser gratos a quem generosamente se atreve a chegar-se à frente. A
“nossa” Tuna Sénior conta com cerca de 35 elementos – 31 senhoras e 4 senhores –
mas raramente estamos todos disponíveis. Vai quem pode e quer, quando pode e
quer. Extraordinariamente, o grupo inteiro quis fazer parte e assumir a
responsabilidade de animar a Eucaristia da Senhora da Estrela, mesmo antes de se
saber que vinha a RTP1.
Apesar
dos inúmeros acertos e sucessivos ensaios até à noite da véspera, a devoção à Senhora
e o amor a Marvão falaram mais alto no coração de cada uma e de cada um de nós.
Por isso respondemos à chamada cumprindo com elevada dedicação e empenho aquilo
que nos foi solicitado. Sobre os meus ombros particularmente, pesou duramente tamanha
responsabilidade, quantitativamente mais inquietante quando se confirmou em definitivo a transmissão televisiva em directo. Mas uma vez mais assumi a responsabilidade de tentar ensinar a todos o pouco que sei e me foi também ensinado a mim em sedes próprias.
Se
é verdade que a importância da celebração de uma Eucaristia é sempre igual seja para
uma dezena de fiéis ou seja para um milhão, não é menos verdade que a responsabilidade
de quem a celebra e coadjuva aumenta significativamente em proporção da quantidade
de participantes nas mesmas. Tomemos como exemplo de comparação uma
Eucaristia na nossa pequena Paróquia com uma Eucaristia de 13 de Maio em
Fátima. A importância e valor eucarísticos são exactamente os mesmos, sim, mas a responsabilidade é completamente
desproporcional.
Foram para mim, por isso mesmo, dias de desassossego e noites mal dormidas, porque, embora às vezes não pareça, sei muito bem quais são as minhas
limitações. E sei também qual é o meu lugar na vida. Jamais pretendi
qualquer espécie de protagonismo. Pelo contrário, prefiro sinceramente e muito mais o
anonimato, o sossego das paisagens onde sempre encontrei paz, sentar-me
tranquilamente no cimo de um cancho a ouvir o sussurro do vento, o
canto da passarada, o monótono badalar dos chocalhos dos gados a pastarem pelos
campos, ou não fosse eu filho de dois saudosos e humildes camponeses, e também neto de um querido guardador de rebanhos. Porém e porque amo incondicionalmente a minha terra e a minha
gente, nunca hesitei em colaborar fosse no que fosse, por ambas. Mas só faço o que sinto
ser capaz de fazer sempre que é preciso.
Jamais
assumi uma responsabilidade sem ter certeza de ser capaz de a conseguir levar a cabo. E coadjuvar
o Professor Carlos Vilhalva na preparação dos cânticos para a Eucaristia da
Senhora da Estrela 2019 perante as câmaras da televisão foi apenas mais uma
dessas conscientes decisões. Porém, tão
positiva e gratificante prova registada em suporte digital para
todo o sempre, não foi conseguida apenas por mérito meu mas pelo consciente esforço colectivo de toda a Tuna Sénior de Marvão, um excelente grupo de pessoas que, dando cada
um o seu melhor, teve ainda que aturar as minhas impaciências produzidas invariavelmente pela enorme responsabilidade que sobre os ombros
de todos nós pesava.
Como podemos hoje confirmar, felizes pelo resultado, mereceu a pena.
Grato
por tudo, pedindo desculpa se alguma coisa disse ou fiz ainda que sem intenção e possa ter sido interpretada como menos correta, reitero o imenso orgulho de ser Marvanense
e mais ainda de fazer também parte da Tuna Sénior de Marvão.
José
Coelho
09.09.2019