sexta-feira, 27 de abril de 2018

In memoriam...

Francisco Alegria Alvarrão Coelho



Soube da tua partida pela internet, primo-irmão Chico Alegria. Curiosamente, foi nela também que te encontrei há já alguns anos quando comentaste um artigo que escrevi no meu blogue Toca dos Coelhos que hoje já nem existe. Nunca nos vimos pessoalmente mas a partir dessa altura conversávamos às vezes pelo telefone, outras vezes pelo skype, pelo Watsap ou pelo Messenger.

Falávamos sempre da nossa família atual, mas também dos nossos avós, tios e primos, nossa árvore genealógica e nossas raízes, de tudo o que nos unia apesar de termos um oceano inteiro a separar-nos. Praticavas como eu, o sagrado culto da Família. E perguntavas, perguntavas, perguntavas. E eu respondia a tudo o que podia e sabia. Mas também me deste a conhecer muitas coisas da nossa família que eu desconhecia por completo.

Um dia disseste-me que tinhas um problema e talvez necessitasses fazer um transplante. Mais sugeriste que te ajudasse a seres tratado em Portugal porque no Brasil a lista de espera era infinita. Falei com quem de direito, tratei de tudo e sim, era possível ajudar-te, porque continuavas a ser Castelovidense apesar de residires no Brasil há mais de 50 anos. 

Falavas constantemente em voltar à tua terra quando chegasse a aposentadoria que já estava próxima e eu tinha a mais profunda convicção que iria conhecer-te e dar-te um abraço em breve. Contudo, achei muito estranho que de repente desaparecesses do contacto permanente que mantínhamos e mandei-te várias mensagens a que nunca respondeste. E enviei-te o meu livro que se mantém em Curitiba desde 19 de Março sem ser levantado.

Sei agora porque não podias responder-me, nem levantar o livro que te enviei para a Rua Artur Bernardes (...) que me indicaste naquele que foi o nosso último contacto, em meados de Março. Estavas na UCI a lutar pela vida. E não deu tempo de avisar. A tua mulher e os teus filhos não nos conhecem, a nossa relação era primo com primo apenas, e, a tua mãe, a tia Ana, na sua idade avançada, não deve ter ja capacidade para me contactar. Por isso ninguém me disse nada.

Vi a notícia nas redes sociais. Primeiro não percebi bem, pensei que eras tu a recordar o teu pai, o tio Abílio Coelho, e pensei que seria a data aniversaria da sua morte. Meti um like no sentido de dar-te força, porque sei as saudades que também tenho do meu, o teu tio António Coelho. Minutos depois fui informado pela mana Maria da Luz que em Inglaterra se deu conta que TU é que tinhas falecido. 

Fiquei siderado e não contive as lágrimas porque gostava muito de ti. Estava plenamente convencido que em breve iríamos conhecer-nos pessoalmente. Era quase uma certeza. Mas, como alguém escreveu,  quando julgamos conhecer todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas. Essa mesma vida que eu aprendi a respeitar e me ensina cada vez mais que nada é certo, nada é seguro, nada é definitivo. E que, por isso mesmo, devemos viver um dia de cada vez, aproveitando ao máximo cada segundo.

Estás agora junto do teu pai e do meu, primo Chico. E de quase toda a nossa Família Coelho. Lá nos iremos encontrar um dia para te dar aquele abraço que durante tanto tempo planeámos mas não tivemos tempo de concretizar. 


Descansa em paz, primo-irmão