segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Cansaço...




 O que há em mim é sobretudo cansaço
 Não disto nem daquilo,
 Nem sequer de tudo ou de nada:
 Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
 Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
 As paixões violentas por coisa nenhuma,
 Os amores intensos por o suposto em alguém,
 Essas coisas todas
 Essas e o que falta nelas eternamente
 Tudo isso faz um cansaço,
 Este cansaço,
 Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
 Há sem dúvida quem deseje o impossível,
 Há sem dúvida quem não queira nada
 Três tipos de idealistas, e eu, nenhum deles:
 Porque eu amo infinitamente o finito,
 Porque eu desejo impossivelmente o possível,
 Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
 Ou até se não puder ser...

E o resultado?
 Para eles a vida vivida ou sonhada,
 Para eles o sonho sonhado ou vivido,
 Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
 Para mim só um grande, um profundo,
 E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,
 Íssimo, íssimo, íssimo,
 Cansaço...


Álvaro de Campos