domingo, 30 de março de 2025

Vergonha na p**a da cara




Sei que o tempo não volta. Oh como sei. Outra coisa eu não soubesse! E sim, corre agora em velocidade de cruzeiro quando eu queria que ele avançasse um pouco mais devagar. Longe vai o tempo em que ele me parecia uma eternidade. Porque nunca mais era sábado para ir outra vez ao baile na Sociedade Recreativa, ou domingo para ir namorar. As semanas já tinham sete dias mas parecia terem catorze. Os dias também já tinham vinte e quatro horas mas parecia terem trinta e seis. E os meses, esses, tinham para aí oitenta dias. 

Ainda assim as pessoas eram invariavelmente felizes e bem-dispostas. Quase sempre. E eu também.

Do Natal até à Páscoa demorava uma eternidade. Os Invernos duravam uns longos seis meses, desde Outubro até Março quase sempre a chover e frios de rachar. Os Verões tinham apenas três: Junho, Julho e Agosto. Os outros três, Abril Maio e Setembro, eram de tempo ameno sem ser inverno nem verão, sem estar frio mas também sem estar calor. E toda a gente percebia os sinais dos astros. Das estrelas, do sol, da lua. Aos cinco ou seis anos já eu conhecia a estrela boieira ou da manhã, aquela que há milénios indica que o dia está prestes a romper a escuridão da noite, pois muitas vezes o romper da aurora nos surpreendia, já de mão dada, a mim e à minha mãe, a caminho das tapadas onde ela ia sachar milho ou feijão preto de sol a sol.

O astro avermelhado ao fim do dia no verão anunciava que o seguinte seria ainda mais quente. E no inverno, a cor rosada no céu poente, dava como certo um dia seguinte gélido. A lua e os seus quartos também tinham segredos. O minguante era o adequado para as sementeiras, o crescente o de fazer crescer e amadurecer os frutos, mas também de fazer crescer a boa sorte ou as dificuldades em que as pessoas se encontrassem naquele quarto de lua. Por sua vez a lua cheia, tão romântica no verão para os namorados, era temida no inverno por causa dos lobisomens cujo uivar se confundia com o do vento.

O tempo! Ah! O tempo...

Às vezes nem parece o mesmo de quando nasci. Está tudo tão diferente! Para pior, acho eu. Naquela época não havia casa, casebre ou socha que não contivesse uma família lá dentro. Fosse uma pessoa para onde fosse, da Beirã ao Cabeço de Seixo, da Beirã à Atalaia, da Beirã às Amendoeiras, da Beirã à Retorta, por todos os lugares dos quatro pontos cardeais havia gente a morar, a trabalhar, a viver. Por toda a parte se ouviam vozes a conversar, pastores a assobiar aos gados, searas a ondular nas tapadas, pomares e abundantes hortas a bordejarem os regatos e ribeiros. Chamava-se a tudo isso... Vida. E tudo isso deixou de existir. Bastaram trinta anos. Foi tudo varrido destas paragens como se vento ruim por aqui tivesse passado e com ele levado tudo.

E não sei se não foi mesmo.

Esse vento ruim, para mim, tem um nome fino e sonante. Apelidam-no de progresso. Eu não acho que ele nos tivesse trazido algo assim tão bom. Senão vejamos. Que progresso extingue tudo aquilo em que toca, desertifica freguesias, concelhos, regiões inteiras? Que progresso mata os usos e costumes de um povo maioritariamente rural de norte a sul, a sua agricultura, o seu comércio e serviços, obrigando ao êxodo em massa dessas populações para os grandes centros urbanos abandonando as suas raízes? Que progresso sobrecarrega o povo de impostos, taxas e sobretaxas para satisfazer os mercados, cujos donos visam apenas o lucro e a ganância de muitos, nem que para isso seja necessário promover a corrupção e o compadrio numa total ausência de decoro? E como se isso não fosse só por si já suficientemente censurável, ter ainda, como consequência direta, a asfixia e morte de quase todos os pequenos negócios que serviam e facilitavam a vida às populações das vilas e aldeias que teimaram e delas não quiseram arredar pé?

Que progresso extingue, em vez de modernizar e tornar rentáveis, ramais ferroviários inteiros, com tudo o que deles dependia, desrespeitando sem contemplações um património construído à custa do esforço e erário públicos, que serviram as populações e o país durante décadas? Que progresso permite que se cometam todos estes atropelos aos direitos mais elementares das pessoas, sucessivamente repetidos nos gabinetes climatizados da capital por decisores políticos sem a mínima sensibilidade social e cada um mais hostil que o anterior? Progresso é só planear autoestradas, pontes e outras obras faraónicas? E nós, os provincianos, só servimos para votar de quatro em quatro anos? 

Resmungões mas obedientes, refilando mas sempre votando... 

... nos mesmos do costume!

O tempo não volta. Mas às vezes penso que muitas das coisas antigas o tempo repete. Por exemplo, no "tempo da outra senhora" dizia-se que a política vigente era a "dos três éfes". Fátima Futebol e Festas. Curiosamente no tempo da "senhora atual" esse espírito mantém-se vivo e vibrante mesmo passados quarenta e tal anos. Basta olhar as multidões que continuam a afluir a Fátima, as paixões sempre ao rubro no Futebol, e, como não, o quanto a malta gosta de Festas. Sejam feiras medievais, romarias ou campanhas eleitorais. 

Dou a mão à palmatória e assumo sem qualquer encargo de consciência que também aprecio Fátima, Futebol não tanto, Festas menos ainda. Mas do que gosto a sério, tento praticar diariamente, ensinei aos filhos e ensino agora ensino as netas, são os valores e princípios fundamentais que me foram transmitidos pelos meus pais e avós, hoje tão raros:

- Respeito de uns para com os outros
- Dignidade no trato entre todos
- Honestidade nas palavras e atitudes
- Honradez nos compromissos assumidos
- Integridade de carácter 
   
Ou, resumido apenas numa frase...

- Vergonha na puta da cara.

Pela manifesta e total ausência da maior parte desses valores e princípios em muitas pessoas ao nosso redor mas também, infelizmente, em muitas figuras públicas que deveriam ser público exemplo mas muito pelo contrário são frequentemente a nossa vergonha coletiva, é que inúmeras vezes me revejo muito mais naquele tempo do passado, do que no presente. 

Disse.

José Coelho

sexta-feira, 28 de março de 2025

"Saboreai e vede como o Senhor é bom (M. Luís)"

SALMO RESPONSORIAL DO IV DOMINGO DA QUARESMA

Hora de Verão


Não esquecer que na noite de sábado, 29 de março, para domingo, 30 de março de 2025, à 1h da manhã, os relógios adiantam para as 2h. Uma hora de sono a menos, mas em troca, teremos mais tempo de luz solar para desfrutar dos dias mais longos. Os smartphones e outros dispositivos electrónicos atualizam automaticamente a hora.

Bom fim de semana


Por vezes temos de esquecer o que sentimos,
para lembrar o que merecemos.

Foto José Coelho

Nunca


Desengane-se, quem o contrário pensar
 

quinta-feira, 27 de março de 2025

Não é para qualquer um



Falar sempre a verdade mesmo quando ela não nos favorece, não é para qualquer um. É preciso ter-se estaleca. Ou em português arcaico, tê-los no sítio. Ou ainda em português mais formal, ser possuidor de invioláveis valores e princípios.

Mas qual quê?
É tão mais fácil sacudir a água do capote, varrer a verdade para debaixo do tapete para ficar oculta, achar que aqueles a quem se mente são todos parvos, trouxas ou ingénuos. Ficar feliz e na mó de cima e julgar-se muito mais inteligente, mais desenrascado, mais...
Xico-esperto.
Que orgulho sinto de ter sido tão bem ensinado pelos meus humildes pais a nunca mentir, a assumir sempre as minhas responsabilidades, a não fazer a ninguém o que não quisesse que me fizessem a mim.
Que orgulho sinto agora em duplicado porque foram exatamente esses valores e princípios que ensinei aos meus dois filhos e ambos me concedem a suprema felicidade de serem dois seres humanos íntegros e leais como todos deveriam ser.
Não é porque a mentira, a falsidade, a conveniência e falta de vergonha na cara que nos rodeiam são praticadas de cima para baixo pelas hierarquias do poder, das instituições públicas ou particulares, noticiadas diária e profusamente pelos Órgãos de Comunicação Social, que as faz estarem corretas.
Porque o certo é sempre certo mesmo que ninguém o pratique e o errado será sempre errado, mesmo quando todos o façam. Não há outra volta a dar. Por isso mesmo não há nada que mais me incomode e desagrade nesta vida, do que perceber que me estão a mentir.
Descaradamente e sem o menor pudor, algumas vezes. Se for um amigo, provavelmente perde a minha confiança e amizade definitivamente. Se for um familiar porque nunca deixará de o ser faça ele o que fizer, perderá a minha consideração e estima.
Afirmo-o tranquilamente porque nunca, jamais ou em tempo algum usei de mentiras com a intenção de não assumir as minhas responsabilidades ou para ficar mais bem visto seja para quem for. E nunca, jamais ou em tempo algum, o farei.
Sou assim. Fui sempre assim. Serei sempre assim. Quem gostar de retidão e honradez, seja bem-vindo. Quem não gostar, siga o seu caminho e vá em paz, que nela eu ficarei também...

A minha "sorte" deu muito trabalho


Ao meu lado permanecem os testemunhos perenes de uma vida de conquistas alcançadas pelas quais tive de lutar cerrando os dentes de frustração ou de raiva não raras vezes.

27. 03. 2025

Um laço não deve ser nó


quarta-feira, 26 de março de 2025

Décimo aniversário



O tempo...
Ah! O tempo!
Ele corre.
Voa.
Passa.
E tudo leva.
O tempo não volta atrás.

São tão vulgares e rebatidos estes lugares-comuns, não é verdade?

A gente não costuma perder tempo a pensar nele.
E quando damos conta, já se foi.
Só depois de ter passado e de tudo mudar, sim, mudar, porque ao passar, o tempo muda tudo, só depois é que começamos a perceber que podia ter sido isto, que podia ter sido aquilo, que podia ter sido o outro.

E inutilmente repetimos outros muito rebatidos lugares-comuns:

- Ah se eu soubesse o que sei hoje!
- Ah se eu pudesse voltar atrás…

Pois!

O tempo e a vida não têm retorno nem permitem segunda volta.

É inútil pensar-se no que podia ter sido e não foi.
No que podia ter-se feito e não se fez.
Que teria sido melhor assim do que assado.

O "Meu vicio da escrita" fez dez anos no passado dia 7.
Empenhado noutras obrigações familiares inadiáveis, não tive oportunidade de vir aqui deixar uma palavrinha. 

Mas deixo-a hoje.

Tanta coisa aconteceu nestes dez anos.

Com toda a certeza vos garanto que não mudaria uma vírgula, uma sílaba, uma letra.

Nada!

Pondero muito bem sempre, antes de publicar seja o que for, só depois assino por baixo se é da minha lavra, ou identifico devidamente o seu autor ou a fonte.

Obrigado aos 105.900 visitantes que se dignaram ocupar algum do seu tempo passando por aqui, mesmo aos quem não vieram imbuídos das mais louváveis intenções. 

Cada um dá aquilo que tem, ou sabe dar.

Cordiais saudações para quem as quiser aceitar.


José Coelho

Custa, mas aprende-se...

Memórias que nunca esqueço

10 de Março de 1972

O dia em que fiz vinte anos. Almocei com os tios Francisca Coelho e Pedro Maniés (irmã e cunhado do meu pai) na sua bonita vivenda nos subúrbios de Luanda e passei o serão na casa de fados "O campino" em companhia do seu filho mais novo meu primo-irmão Augusto Coelho Maniés e sua esposa a fadista Fernanda Varela que fazia parte do elenco de artistas que ali atuavam todas as noites.

O ar pouco animado tão evidente no meu semblante devia-se decerto ao facto de ter chegado apenas há setenta e duas horas a Angola integrado num contingente militar de substituição de efetivos numa zona de guerra, e no dia seguinte ir embarcar com os restantes camaradas de armas do BCav3871 para o enclave de Cabinda com destino ao quartel do Belize nas profundezas do Maiombe.

Foi a primeira vez que entrei numa casa de fados. 

Foi também a primeira vez na minha vida que provei gambas e bebi uísque. Não apreciei lá muito nem uma coisa nem a outra. Valeram-me as dicas dos primos para mergulhar as gambas num delicioso molho picante e acrescentar gelo com um gole de Coca-cola ao uísque, para melhorar sabores. 

Sabia lá eu então na minha humilde condição de camponês alentejano que raio de bichos e bebida eram aqueles!

Quem pudesse ter hoje a inocência que tinha então, naquele longínquo dia. Tios e primos já partiram todos para a eternidade, mas apesar de tantas coisas boas e menos boas por que passei, continuo ainda aqui. 

Tive a ventura de voltar para casa são e salvo passados uns longos e sofridos vinte e sete meses, de conseguir erguer-me após cada tombo, de contornar cada obstáculo até os que, matreiramente, foram urdidos para me prejudicar.

Deus é Pai, Justo, Amigo, Paciente e Protetor. 

Por isso nunca me enfado de dar graças plenamente convicto de que foi a Sua misericordiosa ajuda que me fez vencedor. 

Louvado seja.

 José Coelho

terça-feira, 25 de março de 2025

E o verbo se fez carne



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José,
que era descendente de David.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».

Palavra da salvação

Mágico entardecer




A Mãe Natureza e os seus cromáticos esplendores de fim da tarde. 
24 de Março de 2025 sobre a Beirã

Fotos José Coelho

sábado, 22 de março de 2025

Bom fim de semana


Você faz a paz

Procure uma posição confortável, acomode-se.
Fique em silêncio, feche os olhos, concentre-se.
Lentamente, respire fundo.
Relaxe, pense no mundo.
Atinja o nível mais alto do pensamento.
Sinta o que falta aos seres humanos
neste momento.
Analise a situação atual da humanidade.
E em como você pode colaborar,
seja qual for a sua idade.
Imagine um mundo sem ira, sem ódio,
sem inveja e sem maldade.
Só a honra de cada cidadão
cumprindo os seus direitos e deveres com serenidade.
Pense na paz em plenitude.
E em como alcançá-la, com certas atitudes.
É tão fácil e seria maravilhoso.
Qualquer um pode colaborar
com um comportamento honroso.
Torne isso uma realidade.
Então verá que só assim
a vida tem sentido de verdade.
Cumpra pelo menos você a sua parte
e proporcione paz.
E verá a felicidade que isso traz.

Clarice Pacheco

Foto José Coelho

quinta-feira, 20 de março de 2025

A Beirã e o pouco que dela vai restando



Foi residência familiar dos funcionários da alfândega, nos tempos áureos da nossa Estação Ferroviária Fronteiriça. 

Hoje é Unidade de Cuidados Continuados de Média e de Longa Duração. 

Ali se acolheram famílias inteiras de gente boa e amiga, durante muitas décadas. 

Ali se acolhem hoje os doentinhos que necessitam de cuidados especiais e para ali são enviados afim de serem tratados.

Ali segurei carinhosamente a mão da senhora minha mãe na tarde triste de um 28 de julho passado, no momento em que Deus a chamou para junto d'Ele. 

Ali também apesar da imensa tristeza dessa despedida, agradeci ao Senhor por me haver concedido a graça de estar junto dela nesse instante.

E por isso mesmo estou afetivamente ligado a esta residência/unidade até ao fim dos meus dias. 

Porque há momentos na nossa vida que nos marcam para sempre...

José Coelho
Texto e foto

Obrigado por tudo e por tanto



Foi um dia de aniversário feliz e muito tranquilo.

Foto Ana Batista
10. 03. 2025

O Senhor é clemente e cheio de compaixão (M. Luís)

SALMO RESPONSORIAL DO III DOMINGO DA QUARESMA

Mais uma...

*** Equinócio da Primavera ***
20 de Março de 2025 às 09h01