sábado, 30 de dezembro de 2023

Sejam felizes



Cada fim de ano é tempo de celebração mas também de reflexão, de análise e recomeço. Para trás fica o ano que acaba. Dele guardemos apenas o que foi positivo e tentemos, ainda que seja algo difícil, esquecer o que tenha sido menos bom.

Que o sofrimento que possa ter-nos causado deixe apenas a certeza de termos conseguido sobreviver-lhe. Dos erros que porventura possamos ter cometido guardemos os ensinamentos que colhemos. E das inevitáveis dificuldades fiquemos só com a lembrança do momento em que conseguimos superá-las.
Sintamos gratidão por mais um ano de vida, e, apesar de tudo o que tenha acontecido, o importante mesmo foi que chegámos até aqui, que nos tornámos mais experientes, mais fortes e mais sábios.
Agora é tempo de encher os nossos corações de otimismo e de esperança assim como é também tempo de renovar os nossos sonhos e projetos para recomeçarmos nova vida, no novo ano que está a chegar.
Saibamos viver e aproveitar cada dia, cada hora, cada minuto e cada segundo, dele.
Para toda a minha Família e Amizades, assim como a quem não seja nem uma coisa nem outra, desejo um Feliz e Próspero Ano de 2024. Cuidem-se, mimem-se, façam tudo o que estiver ao vosso alcance para serem felizes.

José Coelho
30. 12. 2023

Foto automática de
Pedro Coelho, num dia muito feliz!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Boas Festas

Foto José Coelho - 25 dezembro 2023 -  Arranjo gráfico Adriano Jordão

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Feliz Natal 2023


Para haver Natal este Natal
Talvez seja preciso reaprendermos
Coisas tão simples!
Que as mãos preocupadas com embrulhos
Esquecem outros gestos de amor,
Que os votos rotineiros que trocamos
Calam conversas que nos fariam melhor,
Que os símbolos apenas se amontoam
E soltam uma música triste
Quando já não dizem aquela verdade profunda!
Para haver Natal este Natal
Talvez seja preciso recordar
Que as vidas começam e recomeçam
E tudo isso é nascimento (logo, Natal)
Que as esperanças ganham sentido
Quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
Há estrelas que luzem
E há a imensidão do Céu.
Talvez nos bastem coisas
Afinal tão simples:
(1) O alento dos reencontros autênticos;
(2) A oração como confiança soletrada;
(3) A certeza de que Jesus nasce em cada ano
Para que o nosso natal, alguma vez, esta vez, seja Natal!
José Tolentino de Mendonça (1998)

(O Deus Menino da Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo da Beirã que ano após ano, desde 1943, os Beiranenses saúdam com um beijo, um toque de mão ou um simples inclinar de cabeça durante todo o Tempo do Natal). 

Mais um

Na próxima madrugada de 22 de Dezembro de 2023 pelas 03:27 horas, terá início o Equinócio de outro Inverno nas nossas vidas...

sábado, 16 de dezembro de 2023

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

domingo, 10 de dezembro de 2023

Coisas que leio


 

quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga presentes que não se vendem em lojas: um ‘’gosto muito de ti’’, um ‘’obrigada por existires’’, um ‘’estou aqui para ti, sempre’’.

quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga de presente abraços apertados, gargalhadas altas, colo de quem mais amas, mãos dadas o ano inteiro, ombros que te seguram, corações onde podes morar sem prazo de validade.

quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga de presente olhos que brilham por ti e para ti, palavras que te protegem e cuidam como sol em dias frios, os pequenos nadas que valem tudo na vida, o essencial que ocupa, sem pesar, o lado esquerdo do peito, e o fermento da alegria que faz a vida valer a pena.

quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te ensine a viver de peito aberto. e a acreditar - sem mas - que há uma luz ao fundo do túnel para cada escuridão que tiveres de enfrentar.

in Ás 9 no meu blog

Foto Maria Coelho

sábado, 9 de dezembro de 2023

A mais ilustre Senhora Beiranense

Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo - Beirã - Missa vespertina do II Domingo do Advento, Ano B - Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas - Mc 1,1-8.
- 09. 12. 2023

E já é (quase) Natal


Foto: José Coelho - Moldura: Adriano Jordão (a quem agradeço)

Pipocas equilibristas


Beijinhos, meus amores!

Parabéns aos noivos


Celebração das Bodas de Prata, Ouro e Diamante matrimoniais de casais oriundos das quatro Freguesias do Concelho de Marvão, esta manhã na Igreja do Convento de Nossa Senhora da Estrela, animada pela Tuna Sénior de Marvão.

Foto Igrejas Abertas de Marvão
- 08. 12. 2023

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Acredita



Faz o bem sem olhares a quem e sem esperares nada em troca, porque essa é, seguramente, a fórmula mais pura da felicidade. Sorri sempre mesmo diante das dificuldades e nunca te envergonhes das tuas lágrimas quando delas necessites.

Sê humilde e generoso sem esperares recompensas, abre as mãos e oferece sem hesitar a tua ajuda a quem dela precisar.

Chora e sofre porque és humano, mas luta sempre para vencer os obstáculos, sem deixar que o cansaço te derrote e que o desânimo ou o preconceito te dominem.

Aprende a defender os teus ideais e a amar os teus semelhantes, conquista os teus amigos apenas pelo que tu és e nunca pelo que eles querem que tu sejas.

Saber ganhar e saber perder é uma conquista rara, mas consegue-se. Tem fé e acredita em Deus se fores capaz, vive cada momento da tua vida como se fosse o último.

Acredita que a tua vida não é melhor nem pior do que a dos outros e nunca te sintas maior ou menor que ninguém, mas igual. Faz com que a tua vida seja uma conquista de sucessos e aproveita cada oportunidade que ela te dê.

Ainda que te sintas ferido pela má conduta ou ingratidão de alguém, nunca percas a capacidade de amar, porque é no amor que estão as chaves que abrem as portas da felicidade.

Memórias

Coleção de miniaturas dos barretes em uso na GNR do meu tempo no ativo

O meu primeiro "acto oficial" como Cmdt do PT Nisa em Agosto 1985

Coleção de estatuetas com os diversos uniformes da GNR do meu tempo no ativo

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Já não sou feliz aqui



Não sou de muitas conversas. Saí com certeza ao meu pai que era assim homem de poucas falas. A nossa vida em família sempre foi, contudo, bastante tranquila, apesar das inúmeras dificuldades num tempo em que a pobreza era condição geral de quase todas as famílias rurais da aldeia. Por isso o dia-a-dia era sair de casa antes do nascer do sol para ir trabalhar e recolher já noite fechada para cear à luz do candeeiro a petróleo uma sopa de legumes da época feita em lume de chão.
Sempre fui, no entanto, dado às letras. Ler, fosse o que fosse, tornou-se cedo o meu entretém por excelência. No bornal da merenda andava sempre algum livro pequeno ou grande e as horas de repouso eram dedicadas à sua leitura. Nem imagino quantos livros já li, mas com toda a certeza, alguns milhares. Em casa tenho muitos, muitos mesmo. Neste momento estou a ler "A história de um canalha" de Júlia Navarro, escritora de quem sou fã e da qual tenho alguns romances.
Talvez por isso e apesar de não apreciar ajuntamentos com muita gente, festas, cafés e bares, nunca me senti sozinho. Há lá melhor companhia que um bom livro? A gente embrenha-se na leitura de tal forma que “entra” para dentro da narrativa e quase “vive” o que está a ler. Mais! Às vezes fica-se com pena por ter de interromper a leitura para ir jantar, tomar banho, dormir, sei lá, fazer outra coisa que obrigue à interrupção daquilo que tanto nos motiva.
Sem ser uma pessoa solitária aprecio bastante a solidão. Daquela que me transmite paz e harmonia ao passear pelos campos, ao sentir a brisa no rosto, ou ao sentar-me no alto de um cancho a olhar o horizonte ouvindo o canto da passarada. Também muito pacífico acomodar-se a gente junto de uma fonte como a da Murta a ouvir o murmúrio tranquilo da água a correr, ou ainda caminhar pelas margens dos ribeiros da Cavalinha, das Águas, da Cabeçuda, ou até do rio Sever.
Há tantos lugares de eleição por esta minha linda freguesia!
Desde criança que palmilho todos estes recantos. Dantes sempre sozinho ou apenas acompanhado pelos meus cães, hoje já quase sempre com a marida porque a idade não perdoa e não é de todo aconselhável embrenhar-se uma pessoa sozinha por esses ermos. É que dantes havia gente por toda a parte, mas hoje já não há ninguém. Impera o mato e o silêncio absoluto, quebrado apenas pela fuga inopinada de algum javali, raposa ou saca-rabos, quando deles nos aproximamos.
Amo profundamente a minha terra. De tal modo que aqui reconstruí a casa onde nasci e onde tencionava passar o resto dos meus dias. Hoje já não tenho tanto a certeza disso. Sempre que me ausento uns dias, o regresso é doloroso porque me invade uma inevitável tristeza regressar ao lugar que tanto amo, mas que já não é, de todo, o lugar que já foi, o lugar que eu queria que fosse para sempre.
O silêncio que outrora se "ouvia" só nos campos, invadiu a aldeia.
E soa tão alto, que faz doer os ouvidos.
E a alma.
Só não decidi ainda o que fazer. Resignar-me e esperar mais meia dúzia de anos até ingressar no lar onde irei com certeza terminar os meus dias, ou revoltar-me e ir embora de vez para viver essa meia dúzia de anos noutro lugar qualquer com melhores condições, ainda que longe daqui?
É difícil resolver.
Sempre que a razão me sussurra ao ouvido "Sai daqui Zé, há mais mundo à tua espera", logo o coração se intromete a gritar e a contrapor "Onde queres tu ir, se o teu mundo e o teu lugar estão aqui?
E assim o tempo vai passando, monótono, nostálgico, sem vida, sem cor e sem sabor.
Honestamente reconheço que já não sou feliz aqui. Nem os livros fazem, como faziam antes, a mesma companhia. E descobri ainda que não era só da paz que ia procurar no silêncio dos campos, que eu necessitava. Também me fazia muita falta o bulício da aldeia, as luzes acesas nas janelas das casas, o som das vozes e conversas das pessoas lá dentro, os gritos da gaiatada a correrem pelas ruas, o cheiro dos jantares ao lume, o fumo a sair pelas chaminés, enfim, todos esses indícios de gente boa que cá viveu, amigos, conhecidos, vizinhos e família querida, que hoje aflitivamente rareiam.
José Coelho
Texto e foto
(Republicado)

domingo, 3 de dezembro de 2023

Novo Ano Litúrgico




Missa Vespertina do I Domingo do Advento e início do Ano B - 2023/2024 - Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo de Beirã. "Vigiai" (Mc 13, 33-37)

- 02. 12. 2023

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Será que aprendemos?


 

O pandémico sobressalto de que já ninguém fala começou em Fevereiro de 2020. Primeiro foi-nos dito que o virus andava lá para a China mas dificilmente nos iria afetar – segundo a opinião que ouvi pessoalmente na tv à Doutora Graça Freitas da DGS. Em menos de um ai, porém, o mundo inteiro gemia aflito com milhares de mortos e centenas de milhares de infectados à escala global, numa assustadora descontrolada e alucinante escalada diária.
Em Espanha e na Itália então, foi pura e simplesmente aterrorizante.
Assistimos estupefactos ao encerramento de toda a actividade aérea, marítima e terrestre, de todos os serviços públicos e particulares, fomos mandados ficar fechados em casa e proibidos de circular nas vias públicas numa reviravolta total do quotidiano nas nossas vidas. Parece que foi há muito tempo, mas tão só e apenas há dois anos estávamos encerrados nos domicílios pelos desmandos natalícios que eclodiram ferozmente em fevereiro e quase provocaram a rotura do SNS.
Dificilmente serão esquecidas as dramáticas imagens de pirilampos de mais de cinquenta ambulâncias a esperar longuíssimas horas pelo atendimento à portas das urgências dos maiores hospitais do nosso País. Deu para perceber que a coisa era mesmo séria, perigosa e letal. Mas como sempre, só nos lembramos de Santa Bárbara quando ouvimos trovões. Assim que o controlo afrouxava um pouco, lá íamos aos magotes para todo o lado, descurando displicentemente a maior parte das medidas preventivas.
Não há volta a dar. Viu-se como esquecemos esses dias ruins quando o nosso clube do coração alcançou um título. Vimos, não tão descontrolado, mas também em Fátima, quando no recinto de oração se cumpriam sim senhor as regras de segurança necessárias, mas em redor do santuário ficavam aos magotes e sem qualquer controlo milhares de peregrinos. E a responsabilidade não deve ser imputada só ao governo, às autoridades ou à organização dos eventos.
Ela é um dever de todos nós.
Se em nossas casas e nas nossas famílias sabemos gerir o dia a dia por forma a que todos vivamos bem, confortáveis e protegidos, na vida em sociedade temos que fazer exatamente o mesmo. Respeitar e cumprir as regras, preocuparmo-nos uns com os outros e seguir as indicações sobejamente difundidas para que o bem-estar comum seja um dado adquirido extensivo a todos e a cada um. Se tal tivesse sido cumprido, seguramente teria havido menos fatalidades, menor necessidade de estados de emergência, menos transtornos.
Foram dois anos de solidão para milhares de idosos que se viram impedidos de contactar pessoalmente com os seus entes queridos, familiares, vizinhos ou conhecidos que partiram inesperadamente atingidos pela letal infeção, vidas suspensas, negócios e empregos afectados, enfim um mar de problemas que deveriam ter-nos alertado para a nossa frágil condição humana, para o quanto somos vulneráveis e expostos a qualquer inesperada adversidade, vinda assim, ninguém sabe muito bem de onde. Chamava-se Covid19.
Infelizmente tenho a mais profunda convicção que outras se seguirão.
Vivemos no século XXI, o mundo e a ciência evoluíram de forma extraordinária, mas a verdade que mais se evidenciou é que estes mesmos mundo e ciência foram apanhados de surpresa e deixados perplexos não só com a letalidade do novo coronavírus, como ainda com a rapidez como se propagou por todo o planeta no espaço de apenas pouquíssimas semanas. Não havia, manifestamente, forma de conter a sua propagação pandemica, nem de impedir que chegasse a todos os Continentes.
Nunca, antes, a fragilidade da nossa condição humana havia sido tão evidenciada.
No silêncio que se abateu sobre as nossas cidades, vilas e aldeias durante os longos confinamentos a que fomos submetidos, deveríamos ter aprendido alguma coisa, deveríamos ter refletido na forma como vivemos e nos nossos comportamos quer em família quer em sociedade, tirar ilações do que fazemos menos bem e deveríamos tentar fazer melhor, que não vivemos isolados mas em comunidade e por isso necessitamos todos uns dos outros.
Pela parte que me tocou e em longos passeios pelos campos da minha aldeia, refleti bastante. A solidão nunca me perturbou, muito pelo contrário, gosto mais do silêncio puro da natureza do que do ruído de falsas falas e duvidosas intenções que tantas vezes nos cercam. Patriarca do que resta da Família Coelho, herdei dos meus antepassados valores e princípios que sempre tentei seguir, só não sei se sempre os consegui cumprir, mas sei, tenho a certeza que, pelo menos, sempre me esforcei por isso.
E um dos valores mais sagrados que me foi entranhado, foi precisamente o da Família.
Habituado a ter os meus comigo em casa regularmente, o que mais me custou foi a sua constante ausência durante meses a fio. Jamais poderia imaginar que iríamos passar duas páscoas e um natal longe uns dos outros sem nos podermos abraçar e confraternizar. Do mal o menos, apenas um dos filhos foi ligeiramente atingido pela infecção tendo que fazer a obrigatória quarentena mas sem ter contagiado quer a esposa quer a filha e também sem quaisquer outras consequências em termos do seu bem-estar físico. Não passou de um sobressalto que nos causou alguma apreensão, mas apenas isso.
Cumprimos responsavelmente, de comum acordo e sem hesitarmos, todas as regras e recomendações das autoridades. Por isso me custa tanto entender porque carga d’água tantos outros não foram capazes de fazer como nós. Não por medo de morrer mas pelo respeito às autoridade e à saúde de todos, pelos mais elementares deveres cívicos e de cidadania. Esperemos que nas próximas pandemias – porque elas vão vir, sim – as coisas corram melhor e não tenhamos de regredir.
Porém, suceda o que suceder, é minha profunda convicção que a sociedade em geral continua a navegar num défice alarmante de aprendizagem.
30. 11. 2023
- Dezembro 2021

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Salmo do I Domingo do Advento 2023

Sorriso


 

O sorriso é uma chave

Que abre portas e janelas.

Entre muitas coisas mágicas

O sorriso é uma delas.

 

O sorriso é simpatia

Também pode ser amor.

O sorriso tem magia

Tem ternura tem calor.

 

O sorriso dá carinho

O sorriso faz amigos.

Constrói tu, no teu caminho

Uma ponte de sorrisos.

 

Rosa Lobato de Faria


Foto José Coelho

Novembro 2023

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Contos da lua cheia (2)



Foi com o meu filho caçula, o Pedro, tinha ele a idade que tem agora a sua filhota, a nossa linda Francisca. Era uma noite de lua cheia. De julho. E de festa na aldeia. Fomos todos ao baile no adro da igreja. Mas às tantas, o joão pestana começou a atormentar o pequenito Pedro. O mano Manel, um homem já com sete anitos, a mãe, a avó e as tias, obviamente não queriam ir para a cama tão cedo.

Era a festa. E só havia uma vez por ano.

- Sem problema, filho. Ao pai também já tá a apetecer ir deitar-se... Vamos embora os dois!

E de mãos dadas lá viemos tagarelando rua acima até casa. A porta da frente ficara fechada à chave, mas a porta da cozinha no quintal ficava sempre só ao trinco já prevendo que alguém precisasse ir a casa fazer alguma coisa. Abrimos a cancela que dava acesso ao quintal, contornámos a casa e...

Upssss!!!

Uma sorrateira visita foi apanhada em flagrante!

Passo a explicar melhor:

Em casa dos meus progenitores sempre houve animais domésticos. Cães, gatos, aves de capoeira, suínos para a matança e até uma cabrita que seguia o meu pai para todo o lado como se fosse um cão. Era por isso comum a nossa convivência com essa bicharada toda. Mas não só. Como o nosso quintal faz divisão com as tapadas cheias de canchos e matos que se estendem por aí fora até ao Rio Sever e Espanha, é normal termos regularmente alguns animais selvagens do outro lado da parede.

Raposas e saca-rabos, tourões ou texugos, javalis e até mesmo uma vez um veado aqui chegou fugido provavelmente da reserva de caça do Tiracalças do outro lado do rio.

Mulher do campo toda a sua vida, a minha mãe amava e protegia tudo quanto fosse "um ser vivente" como ela lhes chamava. E, apercebendo-se certo dia de uma raposita a rondar a parede do quintal cheia de fome, começou por lhe atirar alguns restos de comida. Pouco tardou em começar a deixar-lhe um caneco com o jantarito na varanda do quintal, passando a sortuda raposita a fazer parte dos cuidados diários da minha mãe que nunca ia para a cama sem ali deixar o jantar da sua vizinha.

Naquela noite, a da festa, não sabendo nada do baile nem do soninho do Pedro, a raposa degustava tranquilamente o petisco que a amiga Florinda ali lhe tinha deixado. De súbito e inesperadamente surgimos nós na entrada para a varanda. Eu vi-a logo porque o luar iluminava por completo o quintal. A raposa viu-nos também, mas apesar de ali ir jantar todas as noites não era muito dada a confianças.

E não havendo mais por onde sair senão por onde nós entrávamos, de um pulo atirou-se por entre as nossas pernas provocando-me um arranhão num tornozelo na sua atarantada fuga.

O Pedrito deu um grito sem perceber o que era aquilo, nem o que estava a acontecer.

A raposa saltou lesta para a tapada e desapareceu no mato.

E eu abri a porta de casa e acendi a luz da varanda...

O arranhão na minha perna, feito pelas unhas da nervosa vizinha, sangrava ligeiramente.

Comentei com o pequenito:

- Foi a raposa. Arranhou-me, a magana!

- Viste-a, filho?

Resposta pronta:

- Vi sim, pai. Era branca...

- Branca? Perguntei divertido.

- Branco ficaste tu com o susto, meu tontinho. Vamos mas é para a cama que são horas...

Um dia destes, quando me lembrar, contar-vos-ei mais contos da lua cheia. Até lá sejam felizes, que a vida é curta. Ah! Faltou dizer apenas que, ainda hoje, já meio gasto pelo passar de tantas luas, continuo a gostar muito de me sentar na varanda a olhar para a tapada quando ela está toda banhada pelo luar. Então nas noites geladas do inverno parece que o seu brilho é ainda mais intenso e quase como por magia os cristais da geada refletem-no como se fossem diamantes...

José Coelho
* Histórias do Cota (excerto)

Foto Ana Batista
- Maio 2023

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Gosto, ponto


Gosto de pessoas honestas e generosas que fazem corresponder as palavras que dizem, ao seu próprio olhar. Gosto de pessoas coerentes que se assemelham àquilo que fazem. Gosto de pessoas que escrevem e as suas palavras correspondem aos seus pensamentos. Gosto de lealdade. Gosto de sinceridade.

Novembro 2023

Boa noite, bom descanso


Chegou finalmente o frio de gelar. Abafem-se, abifem-se, avinhem-se, como diz o povo. Por aqui "azinhamos" também a lareira com madeiros de azinho mais robustos para reforçar o conforto. Boa noite e até amanhã se Deus quiser...

- 21. 11. 2023

A dignidade de chegar a velho


Quando nasci o meu pai contava já 42 anos. Casou tarde, aos 36, pese embora a minha mãe tivesse apenas 20. Tão mais jovem do que ele, deduzo que se terá deixado encantar por aquele modo meigo e afável que o caracterizavam e com o qual conquistava a amizade de quase toda a gente que com ele lidava. Cresci por isso a ver surgirem no seu rosto as primeiras rugas e no seu farto cabelo os primeiros fios prateados.

Treze anos mais tarde fui integrar a sua equipa de trabalho na pedreira da Lajem do Sapato da qual ele era subempreiteiro por conta do Engº Ventura e também ali todos os seus camaradas eram cinquentões como ele. Foi com esses dignos mestres que aprendi o ofício de cabouqueiro e foi também seguramente entre eles que colhi ensinamentos que me moldaram para a vida adulta.

Influenciado pela sã vivência com essa geração grisalha e de muito bom senso, habituei-me a ver o mundo pelo prisma deles, mas, sobretudo, a estimar e respeitar os mais velhos, aqueles a quem, por ser mais fino ou – justificam – menos agressivo, se definem agora como idosos. Mas eu continuo a chamar-lhes velhos como sempre chamei e como prefiro que me chamem também a mim, porque entendo que a velhice não é vergonha nem castigo e não deve por isso ser maquilhada com brandas denominações para ser mais bem aceite. Chegar a velho em meu entender é um privilégio, uma recompensa da Vida, uma bênção para quem consegue alcançá-la.

Os rostos enrugados dos anciãos, os cabelos prateados e a sabedoria adquirida no decurso das suas vidas merecem todo o respeito e consideração. Admiro a sua inquestionável dignidade, paciência e conformismo, mas, sobretudo, a enorme generosidade com que aceitam ser esquecidos, assim como a subtil nobreza como ainda desculpam os familiares que passam meses sem os visitar nos lares onde por conveniência própria os depositaram para lá ficarem o resto dos seus dias.

É vulgar ouvir da sua boca os gentis argumentos com que defendem tão indesculpável abandono:

- Coitados! Não podem vir cá, têm lá as suas vidas…

Na sua enorme bondade não só aceitam como perdoam e ainda acham que coitados são quem se esquece que eles ainda estão vivos. Em meu entender também, o abandono de mãe ou de pai, de irmãos ou de avós é uma vergonha, um desmazelo, uma ingratidão, uma injustiça, uma falta de compaixão, de solidariedade, de respeito e de carácter.

Quantos desses velhos se sacrificaram para darem tudo o que podiam, até mais do que podiam, para que nada faltasse àqueles que depois os ignoram...

Foram esses os valores e princípios que lhes ensinaram, muito mais pelo exemplo do que por palavras porque outrora o tempo era escasso para as palavras pois havia que mourejar do romper da aurora até ao sol-posto.

Não deve ter havido no mundo um pai menos conversador do que o meu. Ainda assim eu colhi dele quase tudo o que sou, através do seu exemplo no dia a dia. Sem grandes discursos e sem grandes mimos, porque dele quem mais colo colheu foram depois os netos que manifestamente adorava e o adoravam também.

Estou completamente à vontade e em absoluto sossego de consciência para criticar tais comportamentos porque acolhi em minha casa durante vários anos a minha mãe e dela cuidei amorosamente até ao fim dos seus dias com o permanente e precioso auxílio da minha esposa e da minha irmã mais nova, após uma retinopatia diabética a ter cegado por completo. Também o meu pai e o pai dele o avô Faustino, assim como a avó Amélia mãe da minha mãe, os três partiram da minha casa para a eternidade rodeados de carinho e de cuidados de quem amavam e os amava a eles.

Só a avó Adelina mãe do meu pai não tive o privilégio de conhecer porque faleceu aos 51 anos com um ataque cardíaco, quando eu tinha acabado de nascer. Porém, mesmo sem nunca a ter conhecido, aprendi a amá-la por muito dela ter ouvido falar. Também o querido avô José Lourenço o meu mais velho e saudoso amigo a quem devo o nome e muitas outras coisas boas, partiu inesperadamente sem de nós se despedir acometido de grave insuficiência respiratória no hospital de Portalegre onde fora internado de urgência poucos dias antes. Tinha 67 anos.

Quisera eu ter podido tê-los também comigo em minha casa para deles cuidar…

José Coelho in Histórias do Cota

*Excerto


Foto Pedro Coelho

- 20. 11. 2023