Mesmo só, quando ao pé do fogo da lareira
Ponho-me a recordar o que fui e o que sou,
A minha sombra - a eterna companheira
Que em dias bons e maus sempre me acompanhou,
Fica perto de mim de tal maneira
Que não parece sombra. E' alguém que ali ficou.
Somos dois. Cada qual mais triste e mais calado.
Anda lá fora o luar garoando no jardim...
Tenho pena da sombra imóvel a meu lado
Possuída da expressão de um silêncio sem fim.
E recordo em voz alta o meu tempo passado
E a sombra chega mais para perto de mim.
Ah! Quem me dera ter um bem que se pareça,
Que lembre vagamente outro que longe vai:
As mãos da minha Mãe sobre a minha cabeça,
O consolo de amigo e a fala do meu Pai.
E antes que a noite passe e a alma se me enterneça,
Abro a janela e espio a lua que se esvai...
Qual! E' inútil. Por mais que esta lembrança esqueça,
Uma lágrima cresce em meus olhos e cai...
Deus há de permitir que eu adormeça
Com as mãos da minha Mãe sobre a minha cabeça,
Ouvindo a fala comovida de meu pai.
Olegário Mariano (Poema)
José Coelho (Vídeo)
11.12.2021