segunda-feira, 18 de setembro de 2017

2017 - Um verão inesquecível...

Já foi palco de dias muito felizes

Há muitos dias que não me sento aqui para repartir convosco algum do meu tempo e ideias, apesar de constatar que mesmo assim o contador de visitas do blogue foi sempre somando mais e mais dígitos. Fico grato a quem, fosse por mera curiosidade, fosse porque gosta daquilo que publico, veio sempre dar uma olhadela. Uma palavra também àquelas pessoas que não vêm por bem, por gostarem de coisa alguma que me diga respeito muito pelo contrario, pois podem assim verificar que a sua má fé e mesquinhez não me aquecem nem arrefecem e me estou nas tintas para o que pensem, digam, ou desejem. Pela parte que me toca não lhes desejo mal, quando muito, que Deus lhes dê em dobro tudo o que me desejarem a mim.

Passado que vai o verão de 2017 é tempo de fazer um balanço ao que de mais positivo ou negativo ele me trouxe. De positivo, incontestavelmente, umas férias na Galiza entre gente do melhor, que nos recebeu e tratou como se fôssemos suas majestades os reis do seu reino. No galego que ainda consegui aprender "moitas grazas queridos amigos do Cabildo i non só, voltaremos a atopar-nos". Momentos inesquecíveis entre os quais aquele que para mim foi de todos o mais alto, a visita ao Apóstolo São Tiago na sua magnífica catedral em Compostela. Não me lembro de em qualquer outro momento da minha vida ter vivido um dia mais místico e de tão profunda felicidade como o que me invadiu nesse dia e me fez chorar emocionado o tempo todo que durou a celebração a que tive o privilégio de assistir. Um templo enorme repleto de gente de todas as nacionalidades mas onde não se ouvia um único som para além do que decorria da cerimónia no altar central.  E aquela fila impressionante de gente para ir abraçar o Apóstolo, uma fila de espera com mais de 4 horas de duração sem ninguém arredar dali pé. Era o meu mais secreto e antigo sonho. Cumpriu-se. Nunca conseguirei agradecer suficientemente a quem o tornou possível.

Espectacular também a visita a Chaves, Montalegre e Serra do Larouco, o almoço em Pitões das Júnias na "Casa do Preto", enfim, tudo o que vi e vivi transformou, senão no melhor, pelo menos num dos melhores verões da minha existência. Muitos quilómetros rodados, muitas surpresas boas, muitos dias felizes daqueles que foram sempre tão raros na minha vida, habituado a pensar sempre mais nos outros do que em mim, habituado a dar tudo sem nada receber em troca, habituado a lutar sozinho sem qualquer ajuda ou apoio de ninguém, nem sequer dos mais próximos. Pela primeira vez na minha vida, decidi investir em mim mesmo um subsídio de férias inteiro sem pensar em reparti-lo com A, B ou C, porque, que diacho, eu também mereço, eu também sou gente. 

Sei agora que já deveria tê-lo feito há muito mais tempo.

Aos 65 anos de idade foram as minhas primeiras férias a sério. Porquê? Pagar a casa ao banco, assistir as necessidades da família, os compromissos do dia-a-dia, enfim, cumprir as minhas obrigações e ainda ajudar quem da minha ajuda precisava, nunca me deixou por aí além folga orçamental para pensar um pouco mais em mim também. Vesti quase sempre a farda, e, quando desfardado, comprei quase sempre as minhas toilletes na boutique feira, calcei quase sempre baratilhos de saldos, dei sempre tudo e eu fiquei sempre para depois. Ninguém deu por isso porque eu pouco me queixei. Aprendi desde os 13 anos que o meu dinheiro tinha que ser utilizado na ajuda aos outros. A minha magra jorna de cento e cinquenta escudos por mês como ajudante de pastor no ti Zé Bonacho era entregue na íntegra à tia Florinda para ajudar no sustento da casa. Ah! Tinha direito a vinte e cinco tostões por semana para pagar uma gasosa e um pacote de bolacha baunilha à namorada no baile.

Quando os moços da minha idade me convidavam para um petisco eu não podia ir. Não tinha como pagar a minha parte. Dava uma desculpa qualquer, pegava num livro de cóbóis e embrenhava-me pelos canchos adentro sózinho. Por isso aos 17 anos quis ir para a tropa, farto de não ter nada meu. E fui. E voltei mais triste do que fui, porque vi e vivi momentos de indescritíveis sustos e dor. Merda... Já estou a chorar outra vez. Cada vez sou mais piegas. Um momento por favor... Já escrevi tantos textos como este mas no fim acabei por os apagar sem publicar! Hoje não vou apagar. Mesmo. Que diacho, é a mais pura verdade, porque hei-de envergonhar-me que o leiam? Dizem que o passado não deve comprometer o presente e muito menos o futuro. Mas foi o passado que me fez quem hoje sou. Por isso é impossível não o recordar.

Tudo isto a propósito do verão 2017. Diz o título desta minha narrativa meio emocionada de hoje que foi um verão inesquecível. 
E foi. 
Pelas melhores e pelas piores razões. 
As melhores já as descrevi. 
Umas férias de sonho. 
As piores... 
Essas, talvez um dia as escreva também, mas por hoje vou guardá-las comigo. 
Desculpem. 
Um abraço amigo para quem o quiser aceitar e...

Até um dia destes.