A Toca dos Coelhos é
pouso favorito de toda a espécie de passarada desde que cá moro. As carriças
fizeram ninho anos a fio em dois locais distintos. No forno do quintal antes de
ter o portão de ferro que tem hoje e na trepadeira da varanda entre o
emaranhado de folhas e caules. Tenho fotos que o atestam.
Os pintassilgos,
um ano fizeram na roseira trepadeira da frente da casa e todos os anos continuam
a fazê-los na latada do quintal. Por sua vez os verdelhões preferem a solidez
das copas das oliveiras, enquanto os melros preferem o limoeiro e as rolas
bravas a laranjeira.
Também
um casal de tentilhões vem dormir na varanda do primeiro andar. Um deles, não
sei se o macho se a fêmea, dorme sobre o braço da lanterna do alpendre,
enquanto o outro prefere o parapeito de uma das janelas da casa de banho,
comodamente instalados e abrigados.
Sempre
que necessitamos lá ir depois de anoitecer lá estão os dois, provavelmente para
fugirem do frio no inverno, ou do calor no verão. Nunca os enxotamos, muito pelo
contrário tentamos sempre incomodar quanto menos melhor. Ainda assim, quando
sentem a porta a abrir-se, esvoaçam para o telhado em frente quando invadimos
o seu dormitório onde regressam imediatamente após sairmos.
Há
dois anos, a senhora cegonha decidiu que uma das nossas chaminés era um
excelente local para nidificar. Não teve sorte porque essa eu não deixei e
vigiei-a para a espantar de lá batendo tampas de tachos cada vez que ali
pousava com paus no bico. O telhado em volta da chaminé já parecia um estaleiro
de lenha. Nááá… Cegonhas não. Gosto delas, respeito-as, mas fazem demasiado
lixo, danificam os telhados e eu não sou rico.
Na
passada primavera foram os pardais. Outra dor de cabeça e uma batalha dura de
vencer porque são ainda mais teimosos que eu. Onde haviam estes meninos de
imaginar construir a sua casa? Atrás do motor de um dos ares condicionados aproveitando o estreito espaço entre a máquina e a parede, mais os tubos que a ligam
ao ventilador no interior do quarto. Também não deixei, porque as palhas
infiltradas na grelha do motor podiam danificar o aparelho.
Tantas
vezes o derrubei como eles voltaram a tentar, até que um dia lá desistiram. Ou pensei
eu que eles tinham desistido.
Por
essa altura, o esquentador da cozinha do rés-do-chão começou a deixar de
funcionar regularmente. Apagava-se subitamente. Como tem um sensor preventivo para
desligar quando se acumulam gases tóxicos em recintos fechados,
pensei que seria isso. E vá de escancarar a porta da cozinha para a arejar o
espaço, até que, intrigado, um dia me lembrei de ir dar uma espreitadela no
tubo exaustor.
Eureka!
Lá estava a causa.
Um
amontoado de palhas para ninho quase entupia o tubo. Só podem
ter feito aquilo quando fomos aos Açores e o aparelho não funcionou durante
vários dias, tendo-o abandonando imediatamente assim que levaram com os gases e o calor da
combustão ao regressarmos a casa. É preciso ter lata! Não nos deixas fazer a casa no ar
condicionado, fazemos aqui onde tu não a vês… Tirei o feno e tive de colocar uma grelha na boca do
tubo para que os meninos não repetissem a gracinha.
Resta-me agora aguardar para ver qual será o próximo alvo…
José Coelho