Aos 07 de Março de 2015 nasce este blogue que tal como o seu antecessor TocadosCoelhos pretende apenas ser um ponto de encontro e de entretenimento pautando-se sempre pelas regras da isenção, da boa educação e do civismo em geral. Sejam bem-vindos.
quarta-feira, 31 de março de 2021
Parem de brincar (com a vossa vida e a dos outros)
domingo, 28 de março de 2021
Meu vício de ler...
Navegar
Navega, descobre tesouros, mas não os tires do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admira a Lua, sonha com ela, mas não queiras trazê-la para a Terra.
Goza a luz do Sol, deixa-te acariciar por ele. O calor é para todos.
Sonha com as estrelas, apenas sonha, elas só podem brilhar no céu.
Não tentes deter o vento, ele precisa correr por toda a parte, e tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
As lágrimas? Não as seques, elas precisam correr na minha, na tua, em todas as faces.
O sorriso? Esse deves segurar, não o deixes ir embora, agarra-o!
Quem amas? Guarda dentro de um porta joias, tranca, perde a chave! Quem amas é a maior joia que possuis, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, conserva a vontade de viver, não se chega a parte alguma sem ela.
Abre todas as janelas que encontrares e as portas também. Persegue o sonho, mas não o deixes viver sozinho. Alimenta a tua alma com amor, cura as tuas feridas com carinho.
Descobre-te todos os dias, deixa-te levar pelas tuas vontades, mas não enlouqueças por elas.
Procura! Procura sempre o fim de uma história, seja ela qual for.
Dá um sorriso àqueles que esqueceram como se faz isso.
Olha
para o lado, há alguém que precisa de ti.
Abastece o teu coração de fé, não a percas nunca.
Mergulha
de cabeça nos teus desejos e satisfá-los.
Agoniza de dor por um amigo, só sairás dessa agonia se conseguires tirá-lo também.
Procura os teus caminhos, mas não magoes ninguém nessa procura.
Arrepende-te, volta atrás, pede perdão!
Não te acostumes com o que não te faz feliz, revolta-te quando julgares necessário.
Enche
o teu coração de esperança, mas não deixes que ele se afogue nela.
Se achares que precisas de voltar atrás, volta!
Se
perceberes que precisas seguir, segue!
Se
estiver tudo errado, começa novamente.
Se
estiver tudo certo, continua.
Se
sentires saudades, mata-as.
Se perderes um amor, não te percas! Se o achares, segura-o!
Circunda-te
de rosas, ama, bebe e cala.
"O
mais é nada"
Fernando
Pessoa
segunda-feira, 22 de março de 2021
Mea culpa
Na voragem dos dias que me
parecem cada mais céleres e à medida que vou envelhecendo dou por mim a pensar
inúmeras vezes que a vida nunca deixou de me surpreender. Outras, porém, tenho
a nítida sensação de que já vivi mais coisas boas e menos boas do que a maioria
das pessoas do meu tempo.
Após 69 “quilómetros” de “caminhada” por uma vida repleta de experiências – cada uma mais inesperada que a outra – e rodeado pelas minhas tão doces quanto queridas memórias, desfruto serenamente o dia a dia no sossego benfazejo da casa que reconstruí sobre a outra mais pequena da qual foi sábio “arquiteto” o meu saudoso Pai.
Este silêncio que me faz companhia é apenas pontualmente interrompido pelo cantar dos galos da vizinhança ao raiar da aurora, pelo arrulhar das rolas e chilreio da outra passarada no arvoredo das redondezas durante o dia e ao anoitecer pelo monótono pio dos mochos e corujas que moram também paredes meias comigo, nos canchos da tapada. Todos estes pacíficos “vizinhos” me acompanham desde sempre, pois ouço-os desde que nasci.
É profundamente benfazejo viver neste lugar que quotidianamente trás de volta ao meu imaginário a voz doce da minha mãe, o falar pausado e meigo do meu pai, o alegre e cristalino gargalhar das minhas queridas irmãs. E à mistura com essas inesquecíveis lembranças, fácil é também reconstituir os aromas da ceia a ferver na sertã, do tabaco de mortalha que o tio “Antónho” fumava, enquanto aguardava pela ceia, sentado ao lume.
Apressados em viver a vida para alcançar as nossas metas, descuramos muitas vezes o valor intrínseco dos afetos ainda que sem má intenção, remetendo para segundo lugar o que temos de mais sagrado: A Família. Mãe, Pai, Irmãos, Avós, Tios, quiçá alguns bons Amigos até. Depois a vida passa, as metas nem sempre são tão importantes como imaginávamos, quantas vezes não terão sequer sido alcançadas. Entretanto a Família vai diminuindo porque a vida no seu imparável percurso vai-se extinguindo.
E como o acordar inevitável de qualquer sonho, chega também o momento em que começamos – quase sempre tarde demais – a perceber que a vida já vai de vencida. Inutilmente olhamos para trás em busca de tudo o que amávamos, e que, sem disso nos termos apercebido por havermos andado demasiado ocupados, era o que de mais valioso e importante possuíamos. Porém não há mais nada a fazer porque não é possível regredir no tempo, restaurar afetos, recuperar enfim, tudo o que não avaliámos no tempo certo.
Vamos também envelhecendo sem quase nos apercebermos e só quando uma dor numa articulação começa a ser frequente, o coração começa a trabalhar irregularmente, a necessidade de consultar o médico deixa de ser pontual e passa a ser recorrente, percebemos que estamos a atingir o ponto de não retorno. E aí sim, damos conta que a nossa vida é finita, que as coisas menos boas não acontecem só aos outros, que é tempo de tentar – ainda e se possível – viver.
Não sou, nem quereria ser, exceção. Este desabafo na forma escrita mais não é também do que um sincero “mea culpa”. Vivi intensamente a vida olhando sempre mais para a frente do que para o lado ou para trás, apesar de não ter sido, de todo, nada fácil. Uma infância humilde onde faltou quase tudo menos o amor fraterno, uma adolescência precoce porque mal terminei a escola primária tive que ir guardar ovelhas em vez de continuar a estudar como tanto gostaria de ter podido.
Mais adolescente que adulto apresentei-me à inspeção militar como voluntario aos dezassete anos, assentei praça aos dezoito, fui mobilizado para a guerra aos dezanove, para mineiro aos vinte e dois, ingressei a duras penas nas forças de segurança aos vinte e seis, na minha incessante procura de um lugar ao sol onde sempre e só quis conseguir o ganha-pão para constituir família e dela cuidar.
Nessa luta constante contra ventos por vezes bem agrestes, tentei como pude nunca esquecer o tal lado sagrado onde sempre estiveram e me apoiaram todos os que amava, amo e amarei incondicionalmente enquanto viver. Olhando hoje para trás, nem sempre consigo evitar a imensa nostalgia que tantas vezes me invade. Porém, conhecendo-me como me conheço, sei que se voltasse a nascer faria tudo de novo exatamente como fiz até aqui.
Apesar das dificuldades, tenho muito mais para agradecer à Vida do que para lhe pedir, porque me deu sempre saúde, força anímica e coragem suficientes para completamente sózinho, sem qualquer outro apoio, vencer grandes e difíceis desafios, permitindo-me assim alcançar todas as metas e objetivos que tracei, por mais inalcançáveis que aparentassem ser. A mesma Vida que tanto me ajudou, ensinou-me ainda quanta razão tinha Nelson Mandela, quando afirmou:
“Tudo é considerado impossível, até acontecer.”
José Coelho