sábado, 20 de abril de 2019

Doce Páscoa...

Foto de José Coelho

Capela-mor da Igreja de S. Tiago - Marvão de regresso ao séc, XVI...

 Alguém havia decidido que devia ficar tudo branco

 Alguém, em muito boa hora, decidiu devolvê-la ao original

E ficou assim, deslumbrante ,como nunca deveria ter deixado de ser


É linda no seu todo mas a abóbada é... Indescritível. Fica o testemunho
Fotos de José Coelho

Beirã - Tarde de Sexta-Feira Santa 2019...

Auto-retrato do meu fotógrafo favorito

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Boa Páscoa... (com o circo do costume)


É duro (às vezes) viver em democracia! E é ainda mais duro entender a "nossa" democracia! Só gostava de saber - porque sinceramente não sei - se esta será a forma correcta de a interpretar. Sem me achar por aí além muito lerdo dos sentidos nem incapacitado no entendimento da vida em geral, confesso que cada vez entendo menos desta coisa de direitos para cá, direitos para lá, tendo em conta que para respeitar direitos sagradamente democráticos disto e daquilo, são lesados e escandalosamente atropelados outros direitos tão ou mais democráticos, por terem a ver com a ética, a vida em sociedade, a saúde, o bem-estar e a dignidade humanas. Independentemente de todos os direitos democraticamente institucionalizados, porque é mais importante um direito reivindicativo do que qualquer outro?

Muito recentemente assistimos a uma greve de uma classe de profissionais que ao exercerem esse seu direito prejudicaram milhares de cidadãos que esperavam há meses - alguns anos até - por um exame mais complexo, por uma cirurgia ou apenas uma consulta de determinada especialidade e que, em consequência da dita cuja greve, foram preteridos no seu direito à saúde pelo direito reivindicativo dos outros. Quem mora em Lisboa ou no Porto resolve com alguma facilidade esses adiamentos. Mas quem como eu mora no cu de judas vê-se e deseja-se depois para reprogramar tudo de novo. No tempo da outra senhora morria-se por falta do direito à assistência médica. No tempo presente da sacrossanta democracia morre-se, se preciso for, para que se cumpra um direito à greve.

Desde quando é mais importante um acerto de salário mensal do que os cuidados indispensáveis ao bem-estar de qualquer cidadão? Não entendo, pronto! Reportando-me apenas e só aos meus problemas de saúde, sou diabético, tomo medicação diária, tenho consultas e exames periódicos que visam monitorizar e manter sob controlo essa enfermidade crónica que herdei da minha mãe. Também recentemente me foi extraído um tumor da mesma família daquele que matou o meu pai e que por isso devo ter herdado dele. Necessito pois, de vigilância especializada periódica preventiva e permanente. Como se já não bastasse, tenho ainda insuficiência respiratória crónica que devo ter adquirido nas Minas da Panasqueira - silicose - nos cinco anos que lá trabalhei e durmo há 8 anos de máscara, ligado a um ventilador, para conseguir algumas noites de sono mais ou menos tranquilo.

Num quadro assim, logicamente, passo quase a vida de médico para médico, de consulta em consulta, de exame para exame. Basta o impedimento de um desses actos médicos para baralhar todos os outros porque tudo é programado antecipadamente com a respectiva requisição de exames. Quantos cidadãos haverá na minha situação ou até em piores condições? E que temos nós a ver com os direitos reivindicativos seja de quem for? Independentemente dos direitos constitucionalmente adquiridos não serão esses assuntos matéria que deveria ser sempre tratada sem prejuízo de terceiros, particularmente no que diz respeito aos cuidados de saúde? Sou aposentado sem favores de ninguém e no meu registo contributivo constam 41 - quarenta e um - anos de descontos, pagos até ao último cêntimo, num país onde há quem aufira pensões pornográficas por meia dúzia de anos na política.

De bradar aos céus também a douta e recente opinião de algumas altas patentes dos nossos quadros governativos a darem como normal o aumento incessante na idade da aposentação para o futuro com pensões cada vez mais baixas, quando muitos desses ditos-cujos oradores se aposentaram na flor da idade e com mais do que uma pensão de reforma, somando vários milhares de euros mensais. A minha alma fica parva. É preciso ter lata. A isto chama-se também, viver em democracia. Cada tiro, cada melro.

Neste preciso momento, milhares de portugueses andam numa correria aflitiva para tentarem abastecer as viaturas com que pretendem rumar às suas aldeias afim de festejarem a Páscoa em família, porque, inteligentemente conduzida pelo seu organismo representativo, outra classe de profissionais de uma actividade crucial para a economia nacional, resolveu pressionar o governo com as suas reivindicações salariais, estando-se literalmente a cagar para quem possa ser prejudicado. Cirúrgica e intencionalmente programada, o objectivo é forçar a solução que se pretende, para que o país não pare. Estranhamente - ou talvez não - as greves acontecem sempre às sextas-feiras ou em vésperas de feriados, preferentemente em feriados com pontes, natais ou páscoas, que é quando mais prejuízo causam às empresas em particular e às pessoas em geral.

Nem uma requisição civil decretada pelo governo é minimamente obedecida. Toda a gente tem direitos, ninguém tem deveres, ninguém cumpre, ninguém quer saber. É aguentar, meus caros porque tudo está previsto nos direitos constitucional e democraticamente legislados. Viver 24 anos numa ditadura não foi nada fácil, não. Mas viver 43 em democracia também não tem sido grande coisa. No meu ver, mudaram as moscas mas "aquilo" onde elas pousam, ficou quase, quase, na mesma. Pelo menos em muitas vertentes, não vejo grandes diferenças. E tenho dito.

Boa Páscoa, se puderem...

José Coelho
17.04.2019

terça-feira, 16 de abril de 2019

In Palavras feitas de vento ...

A Senhora - Foto José Coelho

Só porque te vêem com um sorriso no rosto não quer dizer que não tenhas penas, que não tenhas dores. Que a vida não esteja a pôr-te à prova. Quer dizer apenas que aprendeste a usar o sorriso como arma. Que és mais forte do que as batalhas que tens de travar. A vida faz-te testes constantemente e tens de arranjar formas de lutar. De sobreviver. O sorriso é uma das melhores armas. Dá-te força para continuar, ilumina os dias cinzentos que te atacam, causa inveja nos que te querem ver mal e dá tranquilidade a quem te ama.

Só porque te vêem com um sorriso no rosto não significa que tenhas uma vida perfeita. Apenas que escolheste sorrir (e lutar) em vez de desistir. Concentra-te nas coisas boas, por mais pequenas que pareçam, e sorri. As más não merecem que percas o teu tempo.

Nami

domingo, 14 de abril de 2019

Toca dos Coelhos e da Passarada...



Fotos by José Coelho

Depois dos pintassilgos, das carriças, dos verdelhões e dos melros, foi agora a vez das rolas turcas escolherem também as árvores do nosso quintal para construírem o ninho. Bem-vindas, vizinhas...

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Meu vício de ler...


Não desistas

Suporta, ainda há tempo
Para alcançares e começares de novo,
Aceita a tua sombra,
Sepulta os teus medos,
Liberta o lastro,
Retoma o voo.
Não desistas porque a vida é isso,
Continua a viagem
Persegue os teus sonhos,
Liberta o tempo
Contorna as ruínas,
E descobre o céu.
Não desistas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo corroa,
Ainda que sol se esconda,
E se cale o vento,
Ainda há fogo em tua alma
Ainda há vida em teus sonhos.
Porque a vida é tua e é teu também o desejo
Porque tu tens amado e porque te amo
Porque existe o vinho e o amor, com certeza.
Porque não há feridas que não se curem com o tempo.
Abre as portas,
Remove os ferrolhos,
Abandona as paredes que te protegem,
Vive a vida e aceita o desafio,
Recupera o sorriso
Ensaia uma canção,
Baixa a guarda e estende as mãos
Abre as asas
E tenta novamente
Celebra a vida, recupera o paraíso.
Não desistas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo corroa,
Ainda que o sol se ponha e se cale o vento,
Ainda há fogo em tua alma,
Ainda há vida em teus sonhos
Porque cada dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque tu não estás só, porque eu te amo.

Mario Benedetti

Capicua...

Obrigado!

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Para que não se perca a memória...

Sócha do Miradouro da Beirã
Placa informativa colocada na sócha - Foto by José Coelho

Chuva...

Tarde chuvosa vista da minha casa - Foto by José Coelho


 A chuva cai de mansinho
No vão da minha janela
Olhando devagarinho
Eu sonho através dela

Os campos matam a sede
Duma seca prolongada
Toda a natureza bebe
Dessa chuva abençoada

As árvores lavam as mágoas
Dos maus tratos do calor
Entregam-se a estas águas
Com leves suspiros de amor

Saltitam os barranquinhos
Sua marcha vai doendo
E gritam prós seus vizinhos
Vai correndo... Vai correndo...

Ao longe canta a ribeira
Num turbulento deslizar
Leva pressa na carreira
Anseia abraçar o mar

Crescem as plantas da horta
Com redobrada alegria
É a chuva que as conforta
E alimenta dia a dia

Os pássaros saem da roça
O seu canto é refinado
Vêm banhar-se na poça
Que ficou no chão molhado

Posso fechar a janela
Esta chuva trouxe a prova
De que é graças a ela
Que a vida se renova


Autor  desconhecido

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Porque mudou, se estava bem?

Imagem de autor desconhecido


Nunca foi fácil a puta da minha vida. Nunca! Nascido no seio da mais modesta das famílias nesta aldeia da raia alto-alentejana num pós guerra-civil que devastou nuestros hermanos e seguido de um outro ainda mais devastador pós-guerra mundial, sobreviver não era para fracos na medida em que, faltando quase tudo, cada família tinha que comer praticamente só do que semeava na horta, com o que criava na capoeira, no estábulo ou na pocilga.

Das lojas da aldeia só se comprava o arroz e a massa, o azeite e algumas outras mercas de todo indispensáveis. Fiados quase sempre, pagando-se o avio da semana passada para poder levantar-se o da semana seguinte. Depois, como se só por si a miséria não fosse já suficiente, aqueles longos, frios e chuvosos invernos que começavam em meados de Setembro e duravam, duravam, duravam, até meados de Abril do ano seguinte. Semanas inteiras de temporal, daquelas manhãs gélidas que faziam condensar o nosso bafo numa nuvem de vapor pelo simples facto de se respirar, de se estar vivo.

Contudo, o trabalho no campo abundava. De tal modo que a oferta era quase sempre mais que a procura. E havia ainda muitas oficinas de artes e ofícios que serviam a população e geravam outro tipo de trabalho. Já poucos se lembrarão mas eu sou do tempo em que a Beirã tinha duas escolas primárias, duas alfaiatarias, duas barbearias, dois talhos e um matadouro, duas pensões, um café, um restaurante, uma carpintaria, um cartório do registo civil, uma sociedade recreativa para as pessoas em geral assistirem aos mais diversos espectáculos e um clube para as outras pessoas mais finas, seis tabernas-mercearias que de um lado eram taberna e do outro mercearia, e havia a chamada loja grande onde havia de tudo e que era assim uma espécie daquilo que começou mais tarde a apelidar-se de supermercado.

Poderia inclusivamente referir os nomes de todas e cada uma dessas pessoas que por detrás dos balcões nos atendiam, porque, fazendo parte das minhas mais queridas memórias, consigo lembrar-me pormenorizadamente delas. 

Depois havia a estação do caminho de ferro que só por si era um mundo à parte. Guardas fiscais e agentes da pide, chefes de estação e fatores, chefes de laço e de distrito, carregadores e assentadores, doutores e funcionários da alfândega, despachantes e seus funcionários, guardas de passagens de nível, passageiros que partiam ou que chegavam, enfim, todo um staff que fazia parte do funcionamento de uma fronteira ferroviária e gerava movimento. E, consequentemente, desenvolvia toda a economia local.

Nos Barretos, existia um ferreiro e pelo menos quatro tabernas-mercearias. Na Bica umas termas de águas sufurosas e uma taberna. No Pereiro uma escola com cantina para as crianças almoçarem enquanto os pais trabalhavam nos campos ou nas fábricas e uma capela onde alguns jovens casaram. Na Fadagosa mais uma taberna-mercearia e as famosas termas também de águas sulfúreas, que, segundo creio saber, são muito mais antigas do que a Beirã e tudo à volta. 

Era, posso afirmá-lo sem receio de exagerar, um rodopio de gente por tudo quanto era sítio. Aqui nasceram, viveram e morreram sem quase nunca de cá saírem, gerações. Outros por cá passaram e levaram no seu coração para sempre a mística e indescritível saudade que não permite a ninguém que por cá tivesse passado, conseguir esquecer.

Coube-me por sorte ser filho de camponeses. Gente humilde, do melhor, onde as dificuldades nunca foram poucas. Porque o seu trabalho era pago à jorna e à semana, se por qualquer impedimento não podiam ir trabalhar - invernia ou doença por exemplo - não havia depois como pagar o que, chovesse ou fizesse sol, se comia todos os dias. 

Por estranho que pareça, tendo em conta, nestes tempos bem melhores do que aqueles mas em que cada casal tem em média um só filho, quando muito dois, naquele tempo não havia casa n'aldeia que não tivesse pelo menos cinco ou seis gaiatos. 

Ou mais...

E tudo se criava, tudo se desenvolvia. Mais tombo menos pontapé, todos éramos tão mais felizes sem quase nada, do que somos hoje, com quase tudo. 

Pudesse eu, com o amor infinito que lhe dedico, mudar o estranho e silencioso mundo em que a Beirã se está a transformar e aos campos que a rodeiam, estas paisagens megalíticas onde, escondidos no meio de canchos e balseirões pontuam imensos testemunhos milenares dos povos que se deixaram seduzir por tanta beleza e aqui escolheram viver e morrer.

Pudesse eu trazer de volta o reboliço dos comboios e dos passageiros, movimento e vida da nossa estação. Voltar a ter ofertas de trabalho em todas as áreas, abrir as tabernas-mercearias de novo, acender a luz em cada casa, descer a rua da igreja ou da escola a ouvir gente a conversar no seu interior, sentir aqueles aromas de vida, ver o fumo a sair das chaminés.

Zéi...

Hã????

Acorda...

Pois...

Um dia de cada vez. Fazer o quê? 

Mas saibam todos que viverei inconformado o resto dos meus dias. E termino como comecei. Nunca nada foi fácil na puta da minha vida. Comi o pão do que o diabo amassou inúmeras vezes. Vivi muitos e amargos dias. Mas nada se compara a esta mágoa de ver a minha terra em agonia antes de mim. E também não consigo perceber porque teve que mudar-se o que estava bem... 


José Coelho
03.04.19