quinta-feira, 23 de julho de 2015

Estados d'alma...

Lugares onde por aqui (ainda) canta o rouxinol.

Não sou dado a depressões pese embora muitas vezes a minha fisionomia fechada e melancólica possa fazer parecer o contrário. Há bem poucos dias o meu filho mais novo fez-me um reparo meio preocupado a esse propósito dizendo: - Já era tempo de saíres dessa depressão em que andas metido há meses...
Fiquei de certo modo surpreso porque nunca me dei conta que, com o meu recato e silêncio habituais, pudesse estar a "passar" essa imagem de alguém assolado com problemas psicológicos mais ou menos graves ou a necessitar de ajuda.

Tal não corresponde à realidade. Mas não corresponde mesmo! Quando muito andarei tristito e não consigo (nem quero) disfarçá-lo. Nada para mim foi fácil de alcançar ao longo do caminho que já levo percorrido nos meus 63 anos mas sem dúvida os últimos dois ou três foram os piores de toda a minha vida. Os motivos? Nem os vou enunciar. Já passaram e a vida continua. Tem mesmo que continuar. Só que não é liminarmente fácil limpar tudo o que nos trouxe dor e amargura e seguir cantando. É preciso tempo, paz, silêncio, sossego e introspecção. A pessoa tem que ficar a sós consigo própria para tentar desatar todos os nós que se formaram no seu íntimo.

Por isso, como já aqui escrevi anteriormente, é um caminho que se tem que percorrer sozinho. Ah, sim. Houve, entre um tombo e outro, dois intervalos felicíssimos que me enterneceram, emocionaram e deram mais alento que todos os conselhos ou boas intenções do mundo, juntos. O nascimento das minhas duas netinhas. A Francisca no início de 2012 e a Mariana em finais de 2014. São ambas, sem dúvida, o melhor bálsamo para suavizar os enormes arranhões da minha alma. Mas a cura, se a houver, só mesmo o tempo trará. Vou por isso vivendo um dia de cada vez. Sem pressa mas também já sem grandes projectos, sonhos ou ambições.

Li algures que "uma pessoa morre quando deixa de sonhar, de acreditar, de transformar"... Mas lemos tanta coisa sonante e que a gente, assim a frio, quando tudo está bem connosco, achamos ser mesmo verdade. O pior é quando a vida nos trai, nos maltrata e nos atira contra a parede sem que percebamos porquê ou que mal lhe fizemos para sermos tratados assim. O nosso mundo e tudo aquilo em que acreditamos desaba estrondosamente sobre nós, esmagando-nos, sufocando-nos e deixando-nos sem chão. Ficamos tão atordoados que levamos meses de cabeça zonza e sem perceber muito bem o que (ou por que) aconteceu.

Mas que raio lhe terá acontecido, perguntar-se-ão todos vocês. Muitas coisas, respondo eu. Vindas das mais diversas origens. Só que, como já disse, prefiro não falar delas. Quanto mais mexemos nas feridas, mais elas sangram. Não se preocupem. Eu ando bem. Ando assim meio triste mas sempre fui dado à melancolia quase desde que me conheço. Desde quando eu e as minhas irmãs não podíamos ter prendinhas no sapato no natal, desde que os meus amigos iam fazer petiscos aos domingos e eu não podia ir com eles, desde que... e que... e que... Esqueçam! Deixem lá isso. Coisas minhas. Feitios. Ou, melhor dizendo, estados d'alma. A vida tem sido às vezes, demasiadas vezes convenhamos, una grande y real hija de puta...